Rumo à COP30: Corrêa do Lago fala em ponto de virada e anuncia acesso digital global
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Paralelamente à 80ª Assembleia Geral da ONU, a Semana do Clima em Nova York serviu como preparação e ponto de virada para a COP30, que acontece em novembro em Belém. O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da conferência, destacou, em entrevista à RFI, os avanços das negociações, os desafios logísticos, o lançamento da plataforma digital Maloca e a expectativa de participação global no evento.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
Corrêa do Lago avaliou a semana como “muito positiva” para a preparação da conferência, tanto pelos sinais políticos quanto pelo nível de engajamento. Segundo ele, mais de 40 chefes de Estado e um número recorde de ministros – mais de 120 – participaram das cúpulas sobre clima. Além disso, foram organizados, em parceria com o gabinete do secretário-geral da ONU, dez diálogos sobre soluções em áreas-chave, discutindo temas como transição energética, adaptação e financiamento climático.
O diplomata ressaltou que as consultas com os principais negociadores foram essenciais para alinhar posições e evitar impasses. “Foram várias horas de discussões extremamente úteis sobre questões levantadas em Bonn. É fundamental preparar bem a agenda da COP, que precisa ser aprovada por consenso de 196 países, para evitar paralisações que já ocorreram em outras ocasiões”, explicou.
Avanços no Acordo de Paris e o TFFF
Outro resultado importante veio dos países comprometidos com o Acordo de Paris. No início da semana, pouco mais de 40 nações tinham atualizado suas metas climáticas (NDCs). Ao final dos encontros, a ONU já contabilizava 101 países. “Esse é um marco importante no processo”, avaliou Corrêa do Lago.
O embaixador também destacou a sessão sobre o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) presidida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em parceria com o Banco Mundial. O governo brasileiro anunciou o aporte inicial de US$ 1 bilhão, tornando-se o primeiro país a se comprometer financeiramente com a iniciativa.
Para Corrêa do Lago, o anúncio teve grande peso simbólico. “Foi muito bom ver o Brasil dar o exemplo e participar daquilo que está propondo”, disse, lembrando que o presidente do Banco Mundial elogiou a decisão.
O TFFF está sendo estruturado com o apoio de países doadores, como Reino Unido, França e Emirados Árabes, e de receptores, como Colômbia e Congo. A expectativa é que o fundo consiga reunir cerca de US$ 20 bilhões de governos e até US$ 100 bilhões do setor privado. “Se chegarmos a US$ 125 bilhões será possível conservar a maior parte das florestas tropicais do mundo. É a primeira vez que damos valor a florestas em pé”, comemorou.
Desafios de Belém
Além das negociações políticas, o presidente da COP30 reconheceu os desafios logísticos. A hospedagem em Belém foi alvo de críticas internacionais devido aos preços elevados, mas Corrêa do Lago garantiu que avanços já foram realizados. O governo brasileiro criou uma força-tarefa para assegurar quartos a preços razoáveis, garantindo pelo menos 15 unidades para delegações de países de menor renda.
Ainda assim, ele admitiu que os custos continuam altos. “Isso tem impacto sobre a oferta de apartamentos, num momento em que há enorme interesse de participação de empresas, universidades e sociedade civil. O mundo está olhando para Belém e não podemos perder essa ocasião”, afirmou.
O diplomata destacou também o legado das obras de infraestrutura. “Belém está transformada, e o positivo é que não se trata de obras cosméticas. São melhorias que vão beneficiar a população local e garantir que a cidade lembre da COP30 com carinho”, disse.
Maloca: democratizando o acesso
Para ampliar a participação, será lançada nesta sexta-feira (26) a plataforma digital Maloca, que promete democratizar o acesso à COP30. O sistema permitirá que qualquer pessoa crie um avatar, participe de eventos em tempo real e acompanhe a programação de forma imersiva.
O lançamento acontecerá na sede da ONU, em Nova York, com a presença de Corrêa do Lago, da diretora-executiva da COP30, Ana Toni, e do diretor do PNUD, Marcos Neto.
“Maloca é um passo essencial para garantir que comunidades do Sul Global, instituições e governos que não possam viajar até Belém tenham acesso ao processo climático. É a chance de ampliar a participação e manter a COP30 conectada com o mundo inteiro”, resumiu o embaixador.
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