Colômbia: os grandes desafios à frente do novo presidente, o esquerdista Gustavo Petro
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A vitória de Gustavo Petro marca um novo início na Colômbia e um novo ciclo na América do Sul. A derrota de Rodolfo Hernandez foi reconhecida pouco antes do fim da contagem oficial dos votos.
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Thiago de Aragão, analista político
Com uma população de 50 milhões, a Colômbia experimentará seu primeiro presidente de esquerda, trazendo a promessa de acabar com a desigualdade e o desemprego que vem marcando o ambiente social colombiano nos últimos anos.
Assim como aconteceu no Chile, a Colômbia indica mais uma vez que o pêndulo ideológico na América Latina segue a todo o vapor, onde eleitores constantemente insatisfeitos com seus governantes visam qualquer alternativa viável em relação ao status quo.
Desde o fim da década de 80, as relações entre Colômbia e Estados Unidos se intensificaram. Inicialmente focando nos cartéis de Cali e Medellín ao longo dos anos 90 e no combate às FARC nos anos 1990 e 2000, a presença dos EUA na Colômbia sempre foi crescente.
A parceria militar entre os dois países fez com que a Colômbia tivesse uma das forças armadas mais fortes e modernas da região. A embaixada americana em Bogotá, uma das maiores representações diplomáticas americanas no mundo, simboliza a profundidade desse relacionamento.
Gustavo Petro, ex-guerrilheiro e senador, não parece muito disposto a manter a profunda integração entre a Colômbia e os EUA. Essa deve ser uma das principais mudanças que veremos logo no início do seu governo.
Naturalmente, isso preocupa Washington, porém não tanto quanto o apreço que Petro tem pelo seu vizinho venezuelano, Nicolás Maduro e seu antecessor, o falecido Hugo Chávez.
Guerrilhas e narcotráfico
Um dos principais temores de Washington é de uma flexibilidade do novo governo de Petro em relação à atuação de grupos guerrilheiros e narcotraficantes no país. Desde que os ex-presidentes Álvaro Uribe e Juan Manuel Santos desmantelaram parte significativa das FARC, o grupo narcotraficante se diluiu e alguns remanescentes buscaram refúgio na Venezuela.
Com Petro, alguns integrantes se sentiriam à vontade em retornar à Colômbia e retomar atividades que foram deixadas para trás nos últimos anos. Sendo o primeiro presidente de esquerda da história colombiana, Petro terá de lidar com as Forças Armadas que aprenderam a lutar contra guerrilheiros e narcotraficantes de narrativas esquerdistas e terá dificuldade em mantê-los satisfeitos caso traga flexibilidade no combate a esses grupos. Podendo se inspirar no novo presidente chileno, Gabriel Boric, Petro buscaria um diálogo melhor com o setor privado a fim de não afugentar investidores e empresários estabelecidos no país.
No entanto, Petro tem como uma das suas narrativas principais, a suspensão de novas explorações de campos de petróleo, argumentando que a superdependência nas exportações de petróleo se tornou uma das razões pelo o qual o governo colombiano tem dificuldades em gerar maior igualdade.
Ênfase no social
Nessa linha, Petro acredita que o aumento de programas sociais seria a saída inicial para diminuir a desigualdade crescente no país. A dúvida fica na capacidade financeira a partir da diminuição da renda oriunda do petróleo combinada com o aumento de programas sociais. Em um ambiente pós-pandêmico e com crises geopolíticas afetando todas as economias globais, Petro corre o risco de encontrar dificuldades similares às que seu futuro colega e presidente peruano, Pedro Castillo encontra.
Petro venceu com pouco mais de 50% dos votos e, assim como em outros países da região, o eleitorado colombiano se mostra polarizado entre dois extremos. Seu governo se iniciará com um misto de desconfiança por um lado e esperança por outro.
A realidade é dura e trará dificuldades para que Petro consiga entregar o que prometeu na campanha. Se por um lado tentar mostrar que seu passado de guerrilheiro e amizade com figuras como Nicolás Maduro não influenciará sua forma de governar, por outro terá de lidar de forma responsável com o peso fiscal de diminuir a dependência das exportações de petróleo e o aumento de benefícios sociais prometidos durante a campanha.
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