Disputa entre Venezuela e Guiana pelo Essequibo coloca Brasil em situação desconfortável
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Segundo Caracas, mais de 95% dos eleitores apoiaram a proposta de criar a província venezuelana do Essequibo no referendo realizado neste domingo (3). A disputa territorial entre a Venezuela e a Guiana gera tensão na região e preocupa a comunidade internacional. O analista político da RFI, Thiago de Aragão, avalia que o litígio coloca o Brasil em uma situação desconfortável.
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Thiago de Aragão, analista político
A América do Sul tem sido palco de uma disputa complexa entre a Venezuela e a Guiana, centrada em um referendo realizado neste domigno, que poderia resultar na anexação de territórios em disputa. No entanto, essa disputa ganhou uma nova dimensão com a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ) de se opor ao referendo e a eventual anexação do Essequibo. Além disso, um importante ator internacional, a multinacional Exxon, desempenha um papel crucial nesse cenário.
Enquanto o embaixador venezuelano, Carlos Amador Pérez Silva, enfatiza que a Venezuela não tem intenção de invadir a Guiana, as suspeitas de que membros do governo venezuelano estão envolvidos em atividades ilegais, como a exploração de ouro, levantam desconfiança sobre as ações da Venezuela na região. É essencial compreender o contexto interno da Venezuela para entender plenamente a situação.
O governo de Nicolas Maduro enfrenta desafios crescentes, incluindo recursos financeiros cada vez mais escassos devido à falta de capacidade de gestão e altos níveis de corrupção. A economia está em colapso, o que leva a um desespero crescente para manter-se no poder.
Nesse contexto, a ameaça de invasão à Guiana pode ser vista como uma cortina de fumaça para desviar a atenção da população venezuelana de seus problemas internos. Cogitar uma invasão é uma estratégia desesperada de um governo que luta para lidar com questões econômicas e políticas cada vez mais espinhosas.
Capacidade militar: uma comparação desigual
Ao avaliar a capacidade militar da Venezuela em comparação com a Guiana, fica evidente que a Venezuela possui uma vantagem significativa. A Venezuela tem uma força militar muito maior e mais bem equipada, incluindo um exército consideravelmente maior em termos de pessoal e equipamento. Por outro lado, a Guiana possui uma força militar muito menor em termos de pessoal e equipamento. Sua capacidade de defesa é limitada em comparação com a Venezuela, tornando-a vulnerável a qualquer ameaça militar significativa.
A Guiana tem cerca de 3.000 soldados equipados com veículos de combate, enquanto a Venezuela possui um contingente militar muito maior, com aproximadamente 123.000 militares distribuídos em várias ramificações.
O exército venezuelano está equipado com uma variedade de veículos militares, incluindo 173 tanques de batalha principais (MBTs), como AMX-30V e T-72B1, bem como veículos de reconhecimento, veículos de combate de infantaria (IFVs) e veículos de transporte de pessoal blindados (APCs).
Fator Internacional e a desesperança de Maduro
Diante dessa disparidade na capacidade militar, é importante reconhecer que a Venezuela, se desejasse invadir a Guiana, teria a capacidade de fazê-lo. No entanto, o fato de a Venezuela alardear o referendo e a decisão da CIJ de rejeitar a organização da consulta popular indicam que uma invasão não é o caminho escolhido. A comunidade internacional desempenha um papel fundamental em desencorajar qualquer ação militar.
Os Estados Unidos e outros países têm se manifestado contra qualquer agressão e em apoio à soberania da Guiana. Essa pressão internacional desempenha um papel significativo em manter a estabilidade na região.
Além disso, o papel da Exxon, que é a maior exploradora de petróleo na Guiana, torna a situação ainda mais complexa. A multinacional americana possui seu maior investimento no mundo nesse país. Essa presença maciça da Exxon na Guiana é um fator que coloca ainda mais pressão sobre a Venezuela, por conta da importância estratégica da Guiana para os EUA.
Situação delicada para o Brasil
No entanto, a situação também coloca o Brasil, sob o governo do presidente Lula, em uma posição desconfortável. O Brasil é um aliado de longa data de Nicolas Maduro, mas compreende que não há argumentação legítima por parte da Venezuela para realizar tal provocação contra a Guiana. O país se encontra em uma delicada encruzilhada, buscando equilibrar suas relações regionais enquanto defende os princípios de paz e resolução diplomática de disputas.
À medida que essa disputa complexa se desenrola, é crucial manter um olhar crítico sobre a situação, lembrando que a desconfiança em relação ao governo venezuelano e suas verdadeiras intenções não pode ser ignorada. A Guiana, nossa vizinha na região, deve continuar a buscar soluções que garantam sua segurança e soberania, enquanto mantém a porta aberta para o diálogo e a diplomacia. A América do Sul enfrenta desafios complexos, mas a busca pela paz e pela resolução pacífica de disputas deve sempre prevalecer.
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