Sebastião Salgado é padrinho de prêmio de fotografia em Paris com tema humanista e ambientalista
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Sebastião Salgado foi padrinho nesta quinta-feira (17), em Paris, da primeira edição de prêmios de fotografia da ONG CCFD-Terre Solidaire. Na ocasião, ele lembrou a importância da organização no seu exílio e na sua formação como fotógrafo. O principal vencedor da premiação apresentou trabalhos feitos no Peru.
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O artista lembra que a ONG ajudou muitos brasileiros que vieram se exilar na França durante o regime ditatorial, como ele próprio, que chegou em 1969. “A repressão no Brasil começou a agir de uma maneira enorme e começou a chegar uma quantidade de refugiados aqui na França, pessoas que saíam da prisão, torturados”.
O fotógrafo relata que o Comitê Católico contra a Fome e pelo Desenvolvimento, junto com outra associação, a Cimade, organizaram “todo um sistema de captação de recursos, de obtenção de leitos, de assistência em hospitais para brasileiros que chegavam nessa situação terrível”.
Salgado era economista, foi trabalhar em Londres, mas dois anos depois resolveu se dedicar à fotografia. Sua primeira grande reportagem foi justamente encomendada pela CCFD, em 1973, para documentar a fome no Níger. Uma de suas fotos, a de uma mulher levando um vasilhame na cabeça, foi utilizada na campanha e apareceu em todas as igrejas e instituições caritativas da França. “A minha aproximação com o Comitê Católico é muito forte. É uma organização seríssima, das mais antigas da França”.

“A gente está acostumado a ver as organizações que trabalham na urgência, levando alimentação e medicamento. O Comitê Católico trabalha construindo uma sociedade, com as comunidades, cavando poços, assistindo a agricultura de uma forma mais racional, mais ecológica, uma forma que permita uma distribuição de renda e que uma comunidade viva com dignidade”, ele explica.
Para Salgado, “a fotografia é o retrato da sociedade. Ela conta uma parte da sociedade em um momento histórico determinado. Então é muito importante que essa fotografia que informa, essa fotografia que ajuda a criar uma solidariedade, exista”.

Imagens de sofrimento e resistência
O vencedor do Grande Prêmio Terre Solidaire foi italiano Alessandro Cinque, com um trabalho em preto e branco com o título “Peru, um estado tóxico”. Resultado de seis anos de viagens ao encontro de populações andinas do Peru, a obra de Cinque traz o testemunho da realidade de suas vidas, incluindo violação de direitos, degradação de condições de vida e saúde e supressão da cultura e identidade. Ele recebeu um prêmio de € 30 mil para continuar seu projeto e pretende documentar as populações andinas da Bolívia e do Equador.

Já a fotógrafa armênia Anush Babajanyan foi recompensada com o segundo lugar pelo projeto “Battered Waters” (águas castigadas). Por meio de uma narração visual de poesia, ela testemunha a crise hídrica na Ásia Central, à qual se agrega problemas ambientais que afetam as 67 milhões de pessoas que vivem nessa região. Do Cazaquistão ao Tadjiquistão, passando pelo Uzbequistão e Quirguízia, ela mergulha na imensidão da paisagem, junto à população de uma região negligenciada.

A terceira premiada foi a inglesa Emily Garthwaite, que vive no Iraque, pelo seu projeto “Light Between Mountain”, realizado no Curdistão iraquiano. Em um território complexo e fragmentado por uma sucessão de conflitos, ela narra a resistência do modo de vida pastoral, com suas tradições e crenças. Desde 2009 a fotógrafa percorre as montanhas curdas, atravessando as zonas de memórias, traumatismos e fragilidades ambientais.

As fotógrafas Babajanyan e Garthwaite receberam prêmios de € 10 mil cada uma. O Brasil concorreu com 50 candidaturas.
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