Rendez-vous cultural

Exposição de arte em Paris convida à reflexão sobre mudanças climáticas

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“Antes da tempestade” é o nome da nova exposição da coleção Pinault no espaço do prédio histórico da Bolsa do Comércio, no centro de Paris. A mostra convida a uma reflexão sobre o atual tema das mudanças climáticas.

Instalação do artista vietnamita-dinamarquês Danh Vo no espaço central da rotunda; ele criando um sombrio jardim, onde arvores castigadas são sustentadas por estruturas de apoio. (8/3/23)
Instalação do artista vietnamita-dinamarquês Danh Vo no espaço central da rotunda; ele criando um sombrio jardim, onde arvores castigadas são sustentadas por estruturas de apoio. (8/3/23) © Patricia Moribe
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Patricia Moribe, com entrevista de Muriel Malouf

Há obras emblemáticas, tiradas da enorme coleção privada de François Pinault, um dos homens mais ricos da França. Há também instalações feitas especialmente para a ocasião.

O artista vietnamita-dinamarquês Danh Vo se apropria do espaço central da rotunda, criando um sombrio jardim, Tropeaolum, onde árvores castigadas são sustentadas por estruturas de apoio. A instalação parece inspirada pelo espírito coletor e transformador de Frans Krajcberg.

O alagoano Jonathas de Andrade apresenta o estranho e belo vídeo O Peixe, realizado com pescadores do nordeste em 2016, uma reflexão sobre o homem e o animal. Já o paulistano Lucas Arruda preenche uma sala com seus horizontes que provocam tensão entre abstração e figurativo, entre aparição e vazio. 

Obra de Lucas Arruda na mostra "Antes da Tempestade", na Bolsa de Comércio - Coleção Pinault, em Paris (8/3/23).
Obra de Lucas Arruda na mostra "Antes da Tempestade", na Bolsa de Comércio - Coleção Pinault, em Paris (8/3/23). © Patricia Moribe

A artista de origem vietnamita Thu Van Tran fez duas instalações gigantes, refletindo sobre a exploração do Vietnã através da cultura da borracha, mais tarde arrasada pela guerra.

A artista literalmente arremessou látex nas paredes brancas da sala, que se transformou em um enorme quadro efêmero, que vai mudando com o tempo. Ela explica a Muriel Malouf, jornalista da RFI:

A borracha é um material com muito significado para mim na história do Vietnã. Ela é literalmente projetada nas paredes brancas do museu, na autoridade representada por essa brancura, essa parede branca. E o encontro dos dois, deixa essa mancha, essa penetração. A borracha acompanha a história da dominação do mundo moderno. A borracha foi plantada no Vietnã no início do século 20 pelos primeiros colonos franceses. A semente foi trazida do Brasil com o auxílio do Instituto Pasteur. As primeiras extrações das seringueiras revelam uma borracha viável e competitiva. O Vietnã cederá a maior parte de suas terras férteis ao ocupador, o que se chamou de concessões, consolidando a presença estrangeira e sua exploração, ou seja, seu sistema de exploração sobre o solo vietnamita, com desmatamento, privação de liberdade em algumas plantações. Em troca, os nativos recebiam lotes, alojamentos, assistência médica, para que viessem com a família. Isso a fim de aproveitar ao máximo a mão de obra nativa.”

Detalhe da intervenção da artista Thu Van Tran na Bourse de Commerce - ela projetou látex violeta contra a parede branca; a obra efêmera vai se modificando com o tempo (08/03/23)
Detalhe da intervenção da artista Thu Van Tran na Bourse de Commerce - ela projetou látex violeta contra a parede branca; a obra efêmera vai se modificando com o tempo (08/03/23) © Patricia Moribe

Thu Van Tran explica seu uso de cores vibrantes:

“Essas cores são originalmente aplicadas com intensidade porque me remetem a manchas, a contaminações. Elas se referem às dioxinas que foram despejadas nos solos do Vietnã durante a guerra americana. O Exército usou até seis dioxinas ao mesmo tempo em operações pesadas, chamadas de pesticida Arco-Íris. As dioxinas eram identificadas pelas cores dos tambores que as continham. O agente mais conhecido é o Agente Laranja. Mas o exército tambem usou agentes branco, rosa, verde, roxo. Eu aplico essas cores uma em cima da outra. É realmente uma técnica de afresco que absorve as primeiras cargas de tinta, mas elas ressurgem na superfície do inevitável cinza que aparece à medida em que o revestimento avança.”

A artista conta como busca a beleza no sombrio:

“O que eu procuro é transcrever a intensidade, a violência ou as injustiças que me atingem, com a mesma intensidade. Mas eu trabalho no campo estético, da contemplação, da beleza. É a intensidade dessas emoções, eu diria, que estou tentando trazer à tona.”

"Antes da Tempestade" fica em cartaz na  Bolsa de Comércio, em Paris até 11 de setembro de 2023.

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