Berlinale é aberta em clima de “resistência” contra extremismos e com Brasil na disputa pelo Urso de Ouro
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“Um ato de resistência contra todas as ideias perversas": o Festival Internacional de Cinema de Berlim, a Berlinale, abriu suas portas na quinta-feira (13), tendo como pano de fundo o aumento do extremismo de extrema direita na Europa e em todo o mundo, dez dias antes das eleições gerais alemãs. O cinema brasileiro dobra sua participação nesta 75ª edição da Berlinale, marcando presença em quase todas as seções do festival. O longa "Último Azul", de Gabriel Mascaro, disputa o Urso de Ouro.

A diretora da Berlinale, Tricia Tuttle, deu o tom na coletiva de imprensa do júri na quinta-feira (13): “um festival como este é uma rejeição (...) de todas as ideias difundidas por muitos partidos de extrema direita”.
A Berlinale é o primeiro grande evento da indústria cinematográfica internacional de 2025. “Estamos passando por uma crise particular nos Estados Unidos, mas também em todo o mundo”, disse o presidente do júri, o norte-americano Todd Haynes, diretor de ‘Dark Waters’, ‘I'm not there’ e ‘Carol’, ao lado de Tricia Tuttle. Após a “preocupação e o espanto” causados pelas três primeiras semanas do governo Trump, “como vamos fazer para reunir as diferentes formas de resistência (...) ainda está sendo considerado”, disse ele.
Na noite de abertura, o Urso de Ouro honorário foi concedido a Tilda Swinton, estrela do cinema de autor que trabalhou com nomes como Wes Anderson e Pedro Almodóvar, além de Brad Pitt, Tom Cruise e Keanu Reeves.
Os membros do júri começarão a trabalhar nesta sexta-feira (14), com a exibição dos primeiros filmes que concorrem ao Urso de Ouro, entre eles o "Último Azul", dirigido por Gabriel Mascaro, único brasileiro na competição principal do festival alemão em 2025.
Festa do cinema brasileiro
Doze filmes brasileiros marcam presença na programação oficial desta edição da Berlinale, um marco da retomada do cinema nacional em vitrines e premiações de todo o planeta.
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"O Último Azul", dirigido por Gabriel Mascaro, concorre ao Urso de Ouro, principal prêmio do evento, na competição principal. A trama, que conta com a participação do ator Rodrigo Santoro, segue Tereza, uma mulher de 77 anos interpretada por Denise Weinberg, que é obrigada a se mudar para uma colônia habitacional compulsória para idosos.
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"A Natureza das Coisas Invisíveis", filme dirigido por Rafaela Camelo, será exibido na seção Generation, dedicada ao público infantojuvenil. A história acompanha Glória, uma menina de 10 anos que passa as férias no hospital onde sua mãe trabalha como enfermeira, e sua amizade com Sofia, que acredita que a piora da saúde de sua bisavó está ligada à internação no hospital.
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"A Melhor Mãe do Mundo", dirigido por Anna Muylaert, é um drama que será exibido na seção Berlinale Special. A narrativa foca em Gal, uma mãe trabalhadora que luta pela segurança de seus filhos após sofrer abusos do marido. O filme conta com Shirley Cruz e Seu Jorge no elenco, entre outros.
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"Ato Noturno", de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, é um suspense erótico que será apresentado na mostra Panorama. O filme segue Matias, um jovem ator em busca do estrelato em Porto Alegre, que mantém um relacionamento secreto com um político, explorando temas de desejo e identidade.
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"Zizi - ou Oração da Jaca Fabulosa" de Felipe Bragança (roteirista do diretor Karim Aïnouz em "Praia do Futuro") foi selecionado para a seção Forum Expanded da Berlinale, dedicada aos filmes que inovam linguagens e temas.
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"Cartas do Absurdo", de Gabraz Sanna, é inteiramente falado no idioma tupi, e se inspira em quatro cartas escritas no século 17 para refletir sobre a violência do processo colonial brasileiro, destaque na seção Forum Expanded.
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"De Menor" marca a volta de Caru Alves de Souza à Berlinale com sua nova série, que será exibida em uma sessão especial da seção Generation 14plus. A cineasta brasileira é reconhecida por seu trabalho em filmes como "Meu Nome é Bagdá", que recebeu o Urso de Cristal na Mostra Generation 14plus da Berlinale em 2020.
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"Arame Farpado", de Gustavo de Carvalho. O curta foi selecionado para a 75ª edição da Berlinale – Festival Internacional de Cinema de Berlim, participando da competição oficial na seção Generation.
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"Hora do Recreio", documentário brasileiro dirigido por Lúcia Murat, foi selecionado para a seção Generation. Esta é a terceira participação de Lúcia Murat na Berlinale, onde já apresentou "Maré — Nossa doce história de amor" (2007) e "Doces poderes" (1997). "Hora do Recreio" oferece uma reflexão sobre os desafios enfrentados pelos jovens em contextos de vulnerabilidade social.
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"Iracema, uma transa amazônica", filme brasileiro de 1974, dirigido por Jorge Bodanzky e Orlando Senna vai ser exibido eù cópia restaurada na seção Forum Special. Inspirado livremente no romance "Iracema" de José de Alencar, a obra retrata a realidade da Amazônia brasileira durante a construção da Rodovia Transamazônica, explorando temas como exploração ambiental e social.
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"Anba dlo", curta-metragem de drama produzido no Brasil, Cuba e Haiti, dirigido por Luiza Calagian e Rosa Caldeira. O filme narra a história de Nadia, uma bióloga haitiana que se muda para Cuba para aprofundar seus estudos, deixando para trás sua terra natal e cultura. "Anba dlo" concorrerá ao Urso de Ouro de Melhor Curta-Metragem na seção Berlinale Shorts.
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"Atardecer en América", de Matias Rojas Valencia, coprodução entre Brasil, Chile e Colômbia. O documentário aborda as complexidades humanas e espirituais das jornadas migratórias na inóspita fronteira entre a Bolívia e o Chile, na seção Generation.
Esta edição do festival abriu suas portas com a exibição do filme "The Light", dirigido por Tom Tykwer, mesmo diretor do já clássico “Corra, Lola, Corra”. A cerimônia de abertura aconteceu no Palacio da Berlinale, na Potsdamer Platz, no centro de Berlim.
O festival alemão conta este ano com a presença de diversas personalidades do cinema, incluindo Timothée Chalamet e Robert Pattinson. Mas o cinema brasileiro também mostra sua força no festival alemão em 2025. Para Eduardo Valente, delegado da Berlinale para o Brasil, é uma demonstração da "saúde criativa" do audiovisual brasileiro, que esta presente em quase todas as categorias da Berlinale esse ano.
"Acho que a seleção brasileira desse ano é muito interessante, exatamente porque de uma forma de outra, ela atravessa transversalmente muitos formatos e tem perfis bem diferentes", diz. "Então, eu acho que, de uma maneira ou de outra, isso sinaliza uma maturidade, uma saúde criativa do cinema e do audiovisual brasileiro", sublinha Valente.

O diretor e programador reflete sobre a diversidade da participação brasileira no festival. "Você vai desde a competição oficial, que, claro, é a principal janela do festival, mas você passa pela Fórum Expanded, contando também com a participação de filmes antigos no caso de Iracema, e filmes atuais, que são a maioria, curtas, longas, inclusive uma série dentro da mostra Generation, que é só tem três filmes na programação", destaca.
Alguns diretores brasileiros já são velhos conhecidos do festival. "Existem diretores iniciantes na programação e muitos diretores já com relações com a Berlinale, uma coisa importante de se falar", considera. "A Caru [Alves de Souza] já esteve antes, a Rafaela Camelo também, a Anna Muylaert, o Gabriel Mascaro, em suma, muitos realizadores brasileiros estão voltando à Berlinale esse ano", diz.
Para Eduardo Valente, a seleção é um sinal claro da amplitude e da continuidade do cinema brasileiro. "Essa presença abrangente é algo que poucos países conseguem dentro da seleção geral do festival, estando representados em praticamente todas as seções, com longas, curtas e séries. Além disso, há uma delegação considerável no Berlinale Talents, que é um programa importante para novos profissionais do cinema, e um projeto brasileiro selecionado para o Co-Production Market. Também se destacam três séries no Berlinale Series Market, uma iniciativa do mercado do festival que também possui um processo seletivo rigoroso", ressalta Valente.
O Brasil também marcou presença no World Cinema Fund no final do ano passado e em praticamente todos os espaços da Berlinale existe alguma representação brasileira. "Voltamos a ter um número de participações similar ao que foi registrado entre 2017 e 2020, período em que até superamos essa quantidade", destaca.
A Berlinale fica em cartaz até o dia 23 de fevereiro na capital alemã.
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