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“Heroides”, da brasileira Flavia Lorenzi, reescreve narrativas de mulheres mitológicas em Paris

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Acontece neste momento em Paris o festival Fragments que abre espaço para companhias de teatro apresentarem a primeira etapa de suas novas peças. Entre as quatorze companhias de toda a França selecionadas para esta edição 2021 está a Brutaflor, da brasileira Flavia Lorenzi, que apresenta “Heroides” baseada na obra do poeta romano Ovídio.

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Flávia Lorenzi, diretora de teatro
Flávia Lorenzi, diretora de teatro © RFI
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“Heroides” é um conjunto de poemas do ponto de vista feminino. Ovídio imaginou e escreveu, provavelmente entre os anos 20 e 16 a.C, 21 cartas enviadas por mulheres mitológicas (Penélope, Ariane, Medeia, Dido...) a seus amantes e maridos ausentes. A obra de Ovídio foi apenas o ponto de partida da peça criada por Flavia Lorenzi. A ideia era criar um diálogo entre as vozes antigas e as vozes contemporâneas para dar uma existência moderna a esses mitos.

“Eu achei muito instigante esse lugar da espera, da mulher que foi traída ou abandonada. Eu pensei que seria uma forma de rever essas narrativas femininas e dar a elas uma nova forma de existência. Tentar reescrever essas histórias, colocando a mulher realmente no centro. Como a gente ocupa esse lugar sem ser pelo choro, pela dor?”, explica Flavia.

Entre fragmentos das cartas das heroínas de Ovídio, há textos imaginados pelas atrizes e também textos da artista franco-americana Niki de Saint Phalle. Uma obra sobre narrativas femininas criada quase 100% por mulheres. São sete mulheres em cena e apenas um homem na equipe, o diretor musical Baptiste Lopez. Cinco brasileiras integram a trupe.

Trabalho coletivo

A peça “Heroides” é multidisciplinar, cruzando teatro, dança e música. “É um teatro musical. Muitas atrizes têm uma carreira dupla entre teatro e música. E tem a questão do movimento, da coreografia, que vem pontuar o trabalho”, conta a diretora.

O trabalho de criação é coletivo, uma característica que sempre marcou a companhia Brutaflor. “Gosto de pensar o teatro como um lugar do coletivo. Nas minhas peças não existe protagonista. Existe esse grupo e dentro desse grupo, desse coral, vão emergindo as singularidades”, revela.

Flavia Lorenzi fundou a Brutaflor na França em 2012 e “Heroides” é a sexta produção da companhia. A seleção para o Festival Fragments, neste momento de saída da pandemia, quando os teatros ainda estão sendo muito impactados pela crise, é fundamental para o futuro da peça. “Mostrar essa primeira etapa da criação para o público é interessante. É também um momento em que os profissionais e programadores podem vir e projetar o futuro dessa criação. Mais do que nunca, o Festival Fragments é importante para esses projetos que estão nascendo”, conclui.

A peça “Heroides” da companhia Brutaflor está em cartaz até esta quarta-feira (20) no espaço Le Grand Parquet de Paris.

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