Lavagem da Madeleine, maior evento cultural brasileiro de Paris, completa 20 anos
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Paris acolhe todos os anos o Festival da Lavagem da Madeleine que perpetua, a mais de oito mil quilômetros de distância de Salvador, o ritual afro-brasileiro da Lavagem do Bonfim. O evento parisiense, considerado a maior festa cultural brasileira da Europa, completa 20 anos com uma edição especial de aniversário que acontece de 1° a 4 de setembro. Pela primeira vez, o evento será organizado também em Portugal, em 10 de setembro.
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O Festival Lavagem da Madeleine foi criado em 2002 pelo artista brasileiro radicado na França, Roberto Chaves, mais conhecido como Robertinho. Ele diz que esta edição aniversário é “um momento muito emocionante, de alegria forte, porque chegar a vinte anos não é para qualquer um”. Até um selo do correio francês está sendo lançado para festejar os 20 anos.
O evento propõe este ano uma programação variada que inclui um seminário sobre turismo sustentável, shows, festa e estágios de dança. A missa ecumênica na Igreja da Madalena, que sempre abria o festival, teve de ser retirada da programação. “A parte religiosa do evento era só essa missa, mas quando eu ia buscar patrocinador eles diziam que não podiam participar porque a França é um país laico. Eu tive de escolher, ou eu parava a lavagem ou eu tirava a missa”, conta Robertinho.
Sem missa, mas com muito carnaval. O festival será encerrado no domingo (4), como manda a tradição, com um cortejo pelas ruas de Paris e a lavagem das escadarias da igreja da Madeleine, uma das mais tradicionais da capital francesa. O desfile, que sai da Praça da República, no centro de Paris, e percorre 4 km até a Igreja da Madalena, conta com a participação de pais de santo vindos do Brasil e de outros países da Europa, baianas e grupos de batucada, maracatu, samba e capoeira, fundados por brasileiros radicados na França.
Tem ainda a ala “mulheres na resistência”, organizada por Nelma Barreto. “Esse lado associativo e político mostra que não estamos só fazendo carnaval, mas também desfilamos para reivindicar”, afirma o fundador do evento, que é animador de um famoso cabaré parisiense e recebeu recentemente uma medalha de ouro do Senado francês por seu papel como fundador do Festival Lavagem da Madeleine. Os padrinhos do evento, que desfilam no trio elétrico, são o ator francês Vincent Cassel e Cristina Córdula, apresentadora brasileira famosa por seus programas ligados à moda na televisão francesa.
Depois de Paris, Lisboa
Depois de dois anos de pandemia, que impôs uma redução da programação e do percurso do desfile, Robertinho Chaves espera voltar a reunir mais de 30 mil participantes como antigamente nas ruas de Paris. O cortejo será embalado pelo hino do evento “Madalena abençoá”, interpretado por grandes músicos baianos como Margareth Menezes e Carlinhos Brown. E depois de 20 anos, o evento será organizado pela primeira vez em Lisboa. “Nós estamos levando a lavagem para Portugal. Este ano vai ser a primeira edição na Igreja de Santo Antonio, no dia 10 de setembro", conta o organizador.
A Lavagem da Madeleine já uma tradição que integra o calendário cultural oficial da prefeitura de Paris. Apesar disso, não tem patrocinadores fixos e seu futuro não está garantido. Robertinho Chaves tem de conseguir parcerias todos os anos para garantir a realização do evento. Neste ano, o orçamento inicial era de € 120.000, mas ele só conseguiu € 30.000 e se desdobra para fazer o festival assim mesmo.“Se eu colocar alguém no meu lugar, será que vai conseguir todos os patrocínios que eu consigo?”, questiona.
Ele espera que a Lavagem seja perpetuada, mesmo quando decidir se aposentar e voltar para o Brasil. “A gente é o Brasil na França, o maior evento, a maior associação. O Brasil abre a porta para a França, a França tem de abrir para o Brasil. A embaixada participa? Participa, mas precisa olhar com mais carinho e tomar das minhas mãos esse evento e dizer 'vamos juntos'. Uma hora eu vou ter de parar e a lavagem tem de continuar”, conclui.
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