Arles: portador de TDAH, fotógrafo Flavio Edreira usa imagens para entender a própria memória
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O fotógrafo brasileiro Flávio Edreira apresentou em Arles, no sul da França, a instalação "I Forget to Remember", com imagens que transitam entre os sonhos e a memória. O goiano deixou a profissão de veterinário em 2014 para se dedicar à fotografia.

Patrícia Moribe, enviada especial a Arles
Os Encontros de Arles é um dos eventos mais importantes do calendário da fotografia internacional. Durante o evento, a prefeitura da cidade disponibiliza espaços para associações apresentarem exposições paralelas. É o caso da coletiva “Memórias Paralelas”, da qual fez parte Flávio Edreira, durante a semana de abertura do evento, de 3 a 9 de julho.
Edreira apresentou “I Forget to Remember” (Eu esqueço para Lembrar), uma instalação que já foi exibida no Festival de Fotografia de Tirandentes (MG) em março e segue para o festival internacional de Porto Alegre, o Fest Foto, em agosto.
“A exposição fala sobre a memória, para tentar, de alguma maneira, mostrar a relação entre o sonho e a realidade e como um pode interferir na percepção do outro”.
“Eu sou portador de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em alto grau”, diz Edreira. “Como eu tenho muita dificuldade em me concentrar, tenho uma relação complicada com a memória e isso acaba gerando dúvidas e medo da própria memória”, conta.
São 76 caixas de papelão preto reunidas no chão do espaço. Em cima de cada caixa, há fotografias e textos. “É como um jogo de memória, imaginado para que as pessoas pudessem mover e interagir com essas imagens”, explica.

Sonho e memória
Veterinário de formação, Edreira resolveu se dedicar exclusivamente à fotografia em 2014. Depois de uma formação técnica no Senac, ele resolveu ir atrás de outras linguagens e foi para Barcelona, onde estudou na escola internacional Grisart. Os projetos foram se concretizando, passando por vários festivais - no Brasil, na Espanha e agora em Arles, na França.
Ele relata que o transtorno faz com que ele crie bloqueios. “Sonho acordado, mas não sei se as imagens são reais”.
A inspiração para a exposição surgiu justamente em Arles, durante uma visita ao cemitério da cidade, quando ele esteve pela primeira vez nos Encontros, em 2018. “Guardei essa imagem e com o tempo foram surgindo outras imagens que foram se relacionando; é uma tentativa de me compreender.”
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