Marcela Moura cria na França performances unindo teatro, novas tecnologias e sistemas complexos
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A artista-pesquisadora brasileira Marcela Moura vive entre a França e o Brasil. Ela dá aulas de teatro nos dois países e desenvolve projetos no campo do teatro performativo, das novas tecnologias e de sistemas complexos.
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Na França, Marcela Moura é atualmente professora de teatro na Universidade Católica de Angers e faz projetos de pesquisa-criação no Instituto de Sistemas Complexos de Paris (ISCPIF). Pela terceira vez, ela participou da Bienal Artex, um evento cultural e científico, organizado pelo ISCPIF, que propõe um diálogo entre artes e ciências em torno de sistemas complexos. Este ano, o evento, realizado em outubro, destacou os estudos sobre os oceanos e o ecossistema marinho, considerado o maior desafio da ciência atualmente.
A artista-pesquisadora brasileira pôde mostrar ao público parisiense seu trabalho na performance “From plankton to human bodies: the dance of interacting types” (Do plâncton aos corpos humanos: a dança de interações”), desenvolvida em colaboração com um grupo formado por cientistas e outros artistas de várias disciplinas, que não se conheciam antes. A apresentação foi precedida por um ateliê de criação participativa.
“Eu conheci as pesquisas da Sílvia De Monte sobre os plânctons, que se baseavam exatamente nas interações, nessa noção de coletivo, e eu falei: ‘olha, tem muita afinidade, vai ser um ótimo desafio, conta Marcela Moura. Ela lembra que sua tese de doutorado “o processo de criação de Enrique Diaz ou a construção de sistemas nebulosos”, obtida na Universidade Sorbonne Nouvelle de Paris em cotutela com a Unirio) e publicada em livro na França pela Harmattan, já tratava de “teatro e sistemas complexos”.
“O meu trabalho parte do princípio de que tudo está interligado. Cada elemento tem a sua autonomia, mas eles estão numa interação muito forte. É um sistema complexo, dinâmico. Qualquer pequena mudança em um elemento ou em uma etapa, ela faz emergir algo para todo o sistema”, explica. Nessa proposta “de visão mais sistêmica do teatro”, mesmo o espetáculo final “não é um objeto fixo, parado”.
A improvisação norteou todas as etapas, cada “camada” da criação, que Marcela Moura compara a um “palimpsesto”. Em cena, onze performers-bailarinos e um resultado visual bem bonito. “A gente usou uma tecnologia básica de projeção de imagem e fitas coladas numa roupa preta, com uma luz negra. Faz um efeito. É mais uma questão de se apropriar da tecnologia”, aponta.
Uso de novas tecnologias
A utilização de novas tecnologias na cena teatral não vem de hoje. O diretor de teatro brasileiro Enrique Diaz, tema da tese de Marcela Moura, foi um dos pioneiros do uso do vídeo e de imagens em cena. Cristiane Jatahy, que trabalha muito com vídeo, é hoje uma das diretoras brasileiras de maior visibilidade internacional.
No entanto, Marcela Moura diz que esse recurso não é hoje um elemento predominante da cena brasileira. “A gente está vivendo um momento importante de afirmação de minorias. Tem todo um discurso político muito importante e eu acho que isso está vindo à tona nas performances em várias questões, de gênero, de raça, de identidade, né?”, analisa. Ela acha que hoje a questão temática é mais importante "do que o meio".
A formação inicial de Marcela Moura foi em Ciência da Computação. Ela inclusive trabalhou muitos anos no setor de informática, antes de se dedicar exclusivamente à carreira de atriz, artista-pesquisadora e professora de teatro. Ela afirma que o que sempre a interessou na vida foi a “fronteira” e que trabalha para construir mais pontes entre as disciplinas, entre o Brasil e a França. “Eu queria que a fronteira fosse um pouco mais permeável, que eu pudesse transitar com mais facilidade”, pontua.
Clique na foto principal para assistir à entrevista completa.
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