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Ao apoiar independência de Taiwan, EUA interferem em "assuntos internos da China", diz pesquisador

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Neste sábado (13), Taiwan vai escolher um novo presidente. A nação, que terá também eleições legislativas, está no foco das atenções, especialmente dos Estados Unidos e da China. Apesar de ter um governo próprio e um Estado independente, Taiwan é considerada por Pequim uma província rebelde, ainda parte de seu território.

Evandro Menezes de Carvalho é professor, doutor em Direito Internacional e pesquisador visitante da Universidade de Pequim, na China.
Evandro Menezes de Carvalho é professor, doutor em Direito Internacional e pesquisador visitante da Universidade de Pequim, na China. © Divulgação
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O foco da disputa para a presidência de Taiwan é entre o Partido Democrático Progressista (DPP) e o Kuomintang, o partido nacionalista, que preserva uma longa relação com o Partido Comunista da China. No poder há oito anos, o DPP é o favorito e sua principal bandeira é ser favorável à independência do arquipélago.

O professor da FGV Direito RJ e da Universidade Federal Fluminense (UFF) Evandro Menezes de Carvalho é doutor em Direito Internacional e está atualmente na China como pesquisador visitante no Institute for Global Cooperation and Understanding (iGCU), da Universidade de Pequim. Ele destaca que, a cada eleição em Taiwan, surgem especulações sobre como vai ficar a relação da nação com Pequim, especialmente agora, com o aumento das tensões com os Estados Unidos.

Para Carvalho, se o DPP continuar no poder, a maior preocupação é uma aproximação ainda maior com os norte-americanos.

“O DPP tem moderado a opinião sobre a independência de Taiwan, talvez interessado em atrair votos. Mas não sabemos como será daqui para frente porque a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen (do DPP), durante todo o mandato se recusou a reconhecer o consenso de 1992, que havia sido firmado entre o Partido Comunista da China e o Kuomintang, de que só existe uma única China. Isso cria uma grande interrogação sobre se o futuro governo. Caso o DPP saia vitorioso, dará mais passos na direção de uma aproximação com os Estados Unidos, o que aumentará as tensões com a China”, explicou.

Interferência externa

Perguntado se existe a possibilidade de o processo eleitoral em Taiwan não ter interferências externas, o especialista é categórico e diz ser "impossível". Porém, Carvalho aponta que uma intromissão de outro país só pode vir dos Estados Unidos – já que, do ponto de vista da China, estamos falando de uma mesma nação.

“A situação de Taiwan com a China está congelada desde 1949. Após a guerra civil, a China é a República Popular da China, para o Partido Comunista, e para os nacionalistas é a República da China. Muda o nome, mas permanece a pretensão de governar todo o território da China", explica o pesquisador.

"Porém, em nenhum momento houve uma declaração de independência de Taiwan, de maneira formal. Dito isso, os EUA reconheceram, em 1979, que quem governa toda a China são os comunistas, a partir de Pequim. Só que a ida da Nancy Pelosi a Taiwan e o fornecimento de armas, eu particularmente vejo como sendo uma intervenção externa em assuntos internos”, disse.

Pressão chinesa

Para a China, o ideal seria que o partido nacionalista Kuomintang ganhasse as eleições e tirasse o PDD do poder. Mas, como o Partido Democrático segue favorito, os chineses têm adotado uma série de ações para pressionar os taiwaneses, incluindo sanções econômicas e o lançamento, no início da semana, de um satélite sobre o território taiwanês, que muitos pensaram ser um míssil.

Carvalho avalia que, se o PDD de fato ganhar as eleições, a pressão vai aumentar.

“A pressão chinesa é proporcional à intervenção americana, porque o governo chinês pretende realizar essa reunificação de maneira pacífica. Se economia chinesa continua sólida, com o tempo, esse fator econômico e os laços pessoais seriam os elementos para estabelecer a vitória final em 2049, quando o Partido Comunista irá celebrar os 100 anos de fundação da República Popular da China.”

O professor da FGV salienta que esta é, na verdade, a principal meta do Partido Comunista no século 21.

"A China não está preocupada agora em dominar o mundo. A prioridade dela é essa questão de Taiwan. Mas a vitória do PDD seria em direção à independência ou, pelo menos, em manter as coisas como estão", sublinha. "O problema é a vontade dos Estados Unidos de pedir a separação de Taiwan. Naturalmente, isso aumenta a pressão sobre Pequim e o risco de uma ação militar sobre Taipei está diretamente relacionado ao grau de ação dos Estados Unidos dentro de Taiwan”, frisa.

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