Economia cultural na França permite 'cinematografia de ruptura', diz produtora brasileira
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Filósofa de formação, Priscila Miranda do Rosário é produtora, programadora e distribuidora de cinema entre o Brasil e a França. Depois do sucesso de sua distribuidora - a Fênix Filmes, criada em 2011 - ela volta agora a Paris para lançar a Weekend Filmes, que se dedica também à produção e à coprodução internacionais.
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"A Fênix é originalmente uma distribuidora, mas já produziu dois filmes anteriormente, 100% brasileiros. Aqui na França eu abri a empresa para fazer essa ponte com a Europa, tendo a França como porta de entrada para a produção independente cinematográfica, que é o que a gente já trabalha lá no Brasil. A gente distribui filmes de arte, autorais", argumenta Priscila Miranda do Rosário.
Coprodução internacional
Para a produtora brasileira, a Weekend Filmes já nasce com a "vocação" da coprodução internacional de filmes. "É natural, como a gente já trabalha com cinema internacional, a gente leva filmes internacionais para o Brasil. Então a gente já naturalmente foi desenvolvendo essa relação com o cinema do mundo inteiro, e para desenvolver a produção fazia sentido continuar nessa linha. Por causa desse diálogo, esse trabalho que a gente já vem desenvolvendo", diz.
Investimento pessoal
Priscila conta que o primeiro investimento para a criação da Fênix Filmes veio do próprio bolso. "Na verdade, ela foi 100% financiada por mim mesma. Eu abri a empresa. Comecei enquanto curadora de mostras, festivais de cinema, de alguns diretores importantes do ponto de vista da cinematografia mundial. E foi interessante porque essa ideia da mostra de cinema argentino surgiu aqui em Paris", afirma.
"No cinema argentino, eu conhecia a Lucrécia Martel, conheci o [Pablo] Trapero, diretores que conheci em Paris durante um festival de cinema argentino. Porque aqui os cinemas fazem essas programações casadas, com essas salas de cinema de arte, e eu tive essa ideia quando comecei a empresa, de ser uma ponte entre América Latina e o Brasil, de trazer filmes da América Latina que não chegavam, principalmente o primeiro filme", diz.
"Foi aí que eu acabei indo quando abri a distribuidora. Enfim, trabalhando como curadora eu entendi como os filmes circulavam, como poderia ser a circulação dos filmes que teoricamente não chegavam no Brasil para eu assistir. Então, eu entendi o que era a distribuição, e abri a Fênix com esse foco. O primeiro filme foi uma película chilena do Christian Jimenez, que é um diretor bem interessante. Comecei a mudar o foco ali, na mudança da película para o digital", destaca.
França, a "Hollywood do filme de arte"
"Eu estudei em Clermont-Ferrand (centro), cidade francesa que tem o maior festival de curtas-metragens do mundo, e é o festival de maior representatividade para o curta-metragem, ele pauta o Oscar. Além disso, a França tem uma economia muito bem estruturada, se você tira o pão e a cultura, acaba a França, né?", diverte-se a produtora.
"Você tem a economia tão bem estruturada em dois pontos básicos, do ponto de vista de ter um público que banca o filme de arte, e também existe financiamento, como no [Centro Nacional de Cinema da França, espécie de Ancine local] CNC, além de outros fundos que possibilitam essa produção", contextualiza.
"No Brasil, por exemplo, somos distribuidores do Paterson, que é o último filme do Jim Jarmusch, que estreou em Cannes. E é o último filme dele independente, mas foi o melhor filme dele em performance financeira no Brasil, sendo uma coprodução justamente com a França. Isso é importante, porque aqui [na França] você tem essa economia, possibilita a existência de uma cinematografia de ruptura, que não precisa dialogar com meios convencionais. Ou seja, aqui se consegue fazer um filme mais arriscado", pontua a produtora e programadora que se interessa também pelo cinema de animação e que já levou ao Brasil produções como "Visages Villages", da cineasta francesa Agnès Varda.
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