“Baby”, de Marcelo Caetano, propõe um outro conceito de família em Cannes
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“Baby”, o segundo longa do diretor brasileiro Marcelo Caetano, estreia nesta terça-feira em Cannes e é um dos sete filmes na competição da Semana da Crítica, uma das mais importantes mostras paralelas do festival. Rodado principalmente no centro da cidade de São Paulo, “Baby” é descrito pelos organizadores como “um melodrama queer e uma história de amor impossível”.
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“Baby” foi selecionando entre mais de mil filmes e é um dos sete longas na competição da Semana da Crítica. O diretor mineiro, radicado em São Paula, já tinha vindo outras vezes a Cannes como produtor de um curta, em 2011, e como produtor de elenco dos filmes do Kléber Mendonça Filho, “Bacurau” (2019) e “Aquarius” (2016), mas nunca tinha participado como diretor. Independentemente de prêmios, Marcelo Caetano comemora essa estreia de “Baby” na Semana da Crítica.
“É uma vitrine incrível, tanto por questões da relação com a crítica quanto a relação com os distribuidores internacionais, com os agentes de venda”, explica. “A gente está super feliz. Acho que acertou em cheio”, comemora, indicando que seu desejo é “levar essa história para o máximo de pessoas possíveis, levar São Paulo para o máximo de cinemas possíveis, do mundo inteiro. Então, já está sendo ótimo”.

Convite ao cinema
O primeiro longa de Marcelo Caetano, “Corpo Elétrico” de 2017, também sobre a temática LGBT e premiado em vários festivais, também foi rodado no centro de São Paulo. O diretor filma e observa a região há mais de 15 anos. “Tenho um interesse por esses personagens do centro de São Paulo, que para mim têm uma dinâmica muito cinematográfica. Todo mundo que chega ali quer fazer que a vida aconteça, que a coisa mova.”
“Baby” é rodado principalmente à noite. Nos espaços privados, a câmera está muito próxima dos atores, mas as cenas externar são rodadas de muito longe. Com essa estética, Marcelo Caetano quis documentar a vida da cidade.
“É uma estratégia que a gente usou para ter a cidade viva dentro do filme; Para que o filme também seja um documento dessa cidade de São Paulo”, conta.
Outro conceito de família
“Baby” levou sete anos para sair do papel porque a produção “passou muito tempo para captar, pois coincidiu justamente com os quatro anos do governo Bolsonaro e coincidiu com a pandemia”, resume o diretor. O filme acabou sendo realizado graças a coproduções com a França e a Holanda, que foram “muito importantes para o filme”, explica.
O cinearta revela que esse tempo de espera também espelha as mudanças que ele observava no centro de São Paulo, que aprofundaram a “vulnerabilidade e a exclusão” do lugar. “Cada governo que passa, cada ano que passa, está cada vez mais abandonado”, denuncia. “Isso tudo vai sendo incorporado no filme.”
“Baby”, com João Pedro Mariano e Ricardo Teodoro, conta a história de um jovem que ao sair de um centro de detenção não encontra mais sua família, é abandonado por ela e se vê à deriva. Em um cinema pornô, ele encontra um homem mais velho, que o acolhe e o ensina a sobreviver. A relação dos dois se transforma em uma paixão complexa. Como em “Corpo elétrico”, o filme mostra outros conceitos de família possíveis.
“Essa questão das famílias ‘alternativas’ é muito importante porque, de uma certa forma, eu falo nos meus filmes de migrantes sexuais, pessoas que saíram de suas cidades, sociedades pequenas ou de seus núcleos familiares muito restritos ou tradicionais, para buscar uma vida mais livre”, ressalta.
Para Marcelo Caetano, a “amizade, a fraternidade, a solidariedade entre pessoas parecidas” ajudam a superar o determinismo social de classe e de gênero.
Os vencedores da Semana da Crítica serão revelados nesta quarta-feira (22).
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