'Queremos um governo de esquerda que defenda justiça fiscal e social', diz deputada socialista
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Em meio à instabilidade que marca a política francesa desde a dissolução da Assembleia Nacional em 2024, o Partido Socialista (PS) se apresenta como uma alternativa viável para liderar um novo governo, caso o atual primeiro-ministro seja derrotado na votação de confiança marcada para esta segunda-feira (8).
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Em entrevista à RFI, a deputada socialista franco-brasileira Céline Hervieu, representante de Paris, confirmou que o partido está interessado em uma eventual participação no próximo governo, mas com condições claras. “Não queremos entrar num governo da direita para ser fiador de uma política que não representa nossos valores. Queremos um governo de esquerda de verdade, que defenda os mais vulneráveis, a justiça social e fiscal, e enfrente os problemas climáticos e de desigualdade”, afirmou.
Desde as eleições legislativas de 2024, a Nova Frente Popular – coalizão de partidos de esquerda – obteve a maioria dos votos, mas não conseguiu chegar ao poder Executivo. Segundo a deputada, o presidente Emmanuel Macron ignorou o resultado das urnas ao nomear um governo que não refletia a vontade popular. “O presidente fez uma escolha diferente, não respeitou o resultado das eleições. Isso nunca aconteceu antes”, criticou.
A crise se agravou com a proposta do atual primeiro-ministro, François Bayrou, de centro, de cortar € 44 bilhões do orçamento de 2026, medida que visa conter o déficit público e reduzir a dívida nacional. Para os socialistas, essa política de austeridade é insustentável. “Essa lógica vai desgastar ainda mais os nossos serviços públicos, os hospitais, as creches, as casas de repouso. E ainda querem que os franceses trabalhem mais tempo, sem ganhar mais”, denunciou a parlamentar.
Como alternativa, entre outras propostas, o PS propõe uma economia de € 14 bilhões por meio da revisão de subsídios ineficazes às empresas e da redução de gastos com ex-políticos e agências pouco transparentes. “A França gasta bilhões de euros por ano ajudando empresas sem contrapartida. Podemos economizar sem pesar nas costas de quem já paga muito”, explicou.
Sem maioria, socialistas apostam em compromissos parlamentares
Apesar da disposição do PS em formar um governo de compromisso, a conta no plenário não fecha. Mesmo com o apoio dos ecologistas, comunistas e parte do bloco presidencial, o número de deputados ainda não alcança os 289 votos necessários para garantir a maioria na Assembleia Nacional. Questionada sobre essa limitação, a deputada reconheceu o desafio, mas defendeu uma abordagem pragmática.
“Estamos prontos para encontrar maioria com todos que acreditam que os esforços devem ser compartilhados de forma justa”, afirmou. Ela citou como exemplo o apoio suprapartidário à proposta do imposto Zucman, já aprovada no Parlamento, como sinal de que é possível construir consensos pontuais. “Podemos encontrar maioria com parlamentares que colocam o interesse do país acima do seu próprio interesse político. Pode ser da esquerda, pode ser da direita”, disse.
A deputada também garantiu que, caso o Partido Socialista assuma o governo, não recorrerá ao artigo constitucional 49-3 que permite aprovar o orçamento sem votação. “Nós não iremos utilizar esse mecanismo. Isso significa que seremos forçados a fazer concessões com os outros partidos. E estamos prontos para isso”, afirmou.
Sobre o risco de novas eleições antecipadas, ela reconheceu o impacto do calendário eleitoral, com a eleição presidencial marcada para 2027 e as municipais no ano que vem. No entanto, ela acredita que o momento exige maturidade política. “Os franceses esperam que a classe política seja capaz de tomar boas decisões para o bem do país. Precisamos de responsabilidade e de uma direção justa”.
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