Lavagem da Madeleine 2025: Paris se rende à força da cultura afro-brasileira
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Entre os dias 9 e 14 de setembro, Paris será tomada pelo espírito da Bahia. A 24ª edição da Lavagem da Madeleine, criada pelo artista baiano Roberto Chaves, promete ser a maior já realizada na capital francesa. Mais do que um ritual, o evento é uma celebração da ancestralidade, da fé e da inclusão – e este ano, ganha ainda mais força por integrar as comemorações dos 200 anos das relações diplomáticas entre Brasil e França.
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A força da batida do Olodum, o cantor e compositor Jau e outros músicos animarão o cortejo no domingo. “Essa edição é especial porque a Lavagem foi colocada como carro-chefe da programação oficial do ano do Brasil na França. A França inteira está sabendo que a gente existe”, comemora Chaves, conhecido carinhosamente como Robertinho.
Apesar de ocorrer em um país laico, o ritual da lavagem das escadarias da Igreja da Madeleine, no 8° distrito de Paris, tem conquistado os parisienses. “Os franceses vão pela cultura, pela alegria, mas muitos também vão pela fé. Já ouvi histórias de cura, de encontros, até de casamentos que nasceram ali”, conta o artista.
A cerimônia mistura elementos do candomblé e do catolicismo, com baianas jogando água de cheiro e fiéis abraçando o padre e o pai de santo. “Cada um interpreta à sua maneira. Uns veem Santa Madalena, outros os orixás. O importante é que a fé move montanhas”, diz Chaves.
A programação começa nesta terça-feira (9), com uma cerimônia fechada ao público na Embaixada do Brasil. O momento será dedicado à entrega de medalhas e honrarias a voluntários, empresários e instituições que, ao longo dos anos, contribuíram para a realização da Lavagem – muitas vezes sem contar tempo, esforço ou recursos. “São pessoas que carregam esse evento nas costas. É justo que recebam esse reconhecimento”, diz o artista.
Cultura e resistência
A Lavagem também assume seu papel pedagógico com um colóquio universitário sobre os afro-atlânticos, o patrimônio imaterial e a ancestralidade como eixo de resistência no anfiteatro da Universidade Nouvelle Sorbonne, na quarta-feira (10). A proposta, segundo Chaves, é reafirmar que o evento não se resume à festa: “A Lavagem é uma manifestação cultural pela paz, pela reparação, pela inclusão. Não é Carnaval de rua.”
No dia 11, o escritor Antônio Cansado lança seu livro “O Menino que Sonhava com Pão de Queijo”, celebrando a força da narrativa pessoal como instrumento de resistência e identidade. Já no dia 12, o palco será do músico Armandinho Macedo, filho do idealizador do trio elétrico e da guitarra baiana. Em apresentação no Bellucci’s Bar, ele representa, segundo Chaves, “a alma do Carnaval da Bahia, a revolução sonora que mudou o Brasil”.
No sábado (13), estão previstas oficinas gratuitas de samba, lambada e samba-reggae. Os workshops, já lotados, funcionam como aquecimento para o cortejo, conectando corpo e espírito à vibração brasileira. “É o esquenta da alma”, resume Chaves.

O ápice da celebração acontece no domingo (14). Às 10h, o público se reunirá na Praça da República, em Paris. "Todos vestidos de branco, em um gesto simbólico pela paz mundial", destaca. A concentração será animada por um DJ brasileiro e pela banda de Robertinho, culminando com a chegada triunfal do grupo Olodum, liderado por Jau. “É o grupo mais mediatizado da cultura afro no mundo. Recebê-los é um gesto de respeito à nossa história”, ressalta.
Apoteose e homenagens
Às 11h, o animado cortejo, embalado pelos ritmos das batucadas e maracatus, a ginga da capoeira e a ala das baianas, seguirá em direção à Igreja da Madeleine. O ritual na escadaria da igreja será celebrado pelo padre da paróquia e o babalorixá Pai Pote, do terreiro Ilê Axé Ojú Onirê de Santo Amaro da Purificação. “A Lavagem é isso: um gesto de amor, de tolerância, de aceitação das diferenças”, enfatiza o baiano radicado na França.

Na porta da igreja, duas mulheres serão homenageadas: a jornalista negra Wanda Chase, responsável por divulgar o evento no Brasil, e a cantora Preta Gil, primeira madrinha da Lavagem, ambas falecidas em 2024. “Elas deixaram um legado muito importante que não será esquecido. Vamos cantar por elas”, promete Chaves.
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