RFI Convida

Marcelo Rubens Paiva lança tradução francesa de ‘Ainda Estou Aqui’ em Paris

Publicado em:

O roteirista, escritor, dramaturgo e músico Marcelo Rubens Paiva está de volta à capital francesa para lançar “Je Suis Toujours Là”, versão em francês de seu livro “Ainda Estou Aqui”, que inspirou o premiado filme de Walter Salles. A edição francesa, publicada pela Decrescenzo, se junta às traduções já lançadas na Itália, Espanha e Portugal, ampliando o alcance internacional da obra.

One of your browser extensions seems to be blocking the video player from loading. To watch this content, you may need to disable it on this site.

O professor Leonardo Tonus (à esquerda) com o escritor e músico Marcelo Rubens Paiva no estúdio 21 da RFI.
O professor Leonardo Tonus (à esquerda) com o escritor e músico Marcelo Rubens Paiva no estúdio 21 da RFI. © Luiza Ramos/RFI
Publicidade

Luiza Ramos, da RFI em Paris

O lançamento acontece nesta quarta-feira (22) na Universidade Sorbonne Nouvelle, em um encontro literário organizado pelo escritor e professor de Estudos Brasileiros Leonardo Tonus. O evento contará com a leitura de trechos do livro em francês por um ator, e exemplares estarão disponíveis para venda.

“Ainda Estou Aqui” é um relato autobiográfico que entrelaça memória familiar e história política, tendo como eixo o desaparecimento do deputado federal Rubens Paiva durante a ditadura brasileira. O livro homenageia Eunice Paiva, mãe do autor, ao retratar sua coragem diante da repressão, sua determinação em retomar os estudos para criar sozinha cinco filhos adolescentes, e sua luta para provar que o marido foi assassinado pelo regime militar.

Tanto Leonardo Tonus quanto Marcelo Rubens Paiva avaliam que o interesse crescente do público europeu pela temática da ditadura militar brasileira está diretamente ligado ao avanço da extrema direita em diversos países e ao contexto atual de tensão democrática. “Na Europa, atualmente, muitos intelectuais têm sofrido cada vez mais pressões por alas de extrema direita e até censura por algumas alas partidárias”, afirma Tonus.

Marcelo complementa: “A ditadura no livro é um personagem com mais profundidade, com mais detalhes, com mais histórias. Ao mesmo tempo, o mundo está vivendo essa tensão, não só na Europa, mas nos Estados Unidos e na Argentina. Acompanhando todos os eventos que estão acontecendo no Brasil, que realizou de uma forma inédita um processo contra aqueles que tentaram um golpe contra a democracia, existe todo esse debate sobre o valor da democracia”.

Público jovem politizado

O sucesso da obra entre o público jovem universitário é notável. Tonus relembra o impacto do primeiro encontro com Paiva, realizado em março deste ano no mesmo campus parisiense: “Foi o ponto máximo na ocasião dos 48 encontros literários promovidos pela universidade no âmbito da Temporada do Brasil na França. Naquele momento também tinha relação com o filme que acabava de ganhar o Oscar. Foi um sucesso! Em apenas três horas, os 350 lugares foram esgotados”.

Marcelo acredita que essa identificação vem da força da narrativa familiar: “Eles são muito ligados no que está acontecendo, especialmente nas questões políticas. É um livro que fala de uma família jovem, uma mãe, um pai que desaparece, e cinco jovens, que, cada um à sua maneira, tentam viver em um período muito conturbado na nossa história. (...) E eu acho que os jovens se veem um pouco nessa família, uma família lutando diante de uma tragédia para superar e utilizando o ativismo político, inclusive como uma arma de superação e de luta”, disse à RFI.

Nome de rua na Itália 

Na Itália, onde o filme de Walter Salles fez enorme sucesso desde a premiação no Festival de Veneza, em 2024, a tradução do livro em italiano já está na sexta edição. “A Itália é muito emocionada com esse filme, com esse livro”, contou Paiva, destacando a conexão afetiva com o país, reforçada pela descoberta da origem italiana de sua família, proveniente da pequena cidade litorânea de Polignano a Mare, na região da Puglia (sul).

Essa descoberta levou o prefeito local a organizar uma homenagem à mãe do escritor na próxima sexta-feira (24). “A prefeitura vai inaugurar a Via Maria Eunice Facciolla Paiva, e toda a família foi convidada para a cerimônia, exceto minha irmã Eliana, que não pôde vir”, contou.

“Também fomos convidados para abrir o Festival de Cinema de Bari, um dos mais importantes da Itália, que tem mais de 40 festivais espalhados pelo país. É uma região que apoia muito a cultura e quer atrair gente por meio desses eventos”, explicou Marcelo.

Novos rumos e projetos futuros

No Brasil, Marcelo lançou em abril “O Novo Agora”, seu terceiro livro autobiográfico, que aborda sua experiência como pai depois dos 50 anos. Inspirado em cartas escritas por sua mãe, a obra é considerada uma sequência de “Ainda Estou Aqui”.

Apesar do sucesso literário, o autor revela que não pretende continuar na literatura: “Não. Eu dei um tempo na literatura, acho que depois de 45 anos escrevendo sem parar, livros, crônicas, peças de teatro, roteiros de cinema, de séries, acho que já deu”.

Agora, Marcelo se dedica à música, especialmente à composição de letras e à sua banda Lost In Translation, onde toca gaita. “Só me dedico à música. Não consigo escrever nem prefácio de livro mais”, brinca.

Leonardo Tonus também celebra um novo lançamento: o romance epistolar “Antes que as Palavras se Esqueçam”, publicado no Brasil, que aborda questões migratórias a partir da história real de um jovem afegão que percorre a pé o caminho do Afeganistão até a Alemanha.

Leia também"Cativante", "fascinante", "impressionante e político": imprensa francesa exalta "Ainda Estou Aqui"

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios