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Batida leve na cabeça pode ser um traumatismo craniano? Neurocirurgião francês explica os riscos

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Bater a cabeça é um acidente comum, que pode ou não ser grave, dependendo das circunstâncias. Mas quando é necessário procurar um médico? Os sintomas provocados por um traumatismo craniano são variados e incluem visão embaçada, tontura, dor de cabeça e, nos casos mais graves, desmaios e perda de memória.  

Traumatismos cranianos leves também deixam sequelas
Traumatismos cranianos leves também deixam sequelas © Unsplash
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Taíssa Stivanin, da RFI em Paris

As sequelas de um choque na cabeça também são variadas e podem causar problemas motores, de sono, de concentração e um profundo cansaço. Mas qual é a definição de um traumatismo craniano? Quem responde é o neurocirurgião Nozar Aghakhani, professor e pesquisador da Faculdade de Medicina Paris-Saclay e coordenador do Centro de Avaliação e Atendimento dos Traumatismos Cranianos no Hospital Kremlin-Bicêtre, na região parisiense.

“O traumatismo craniano é definido pela transmissão de uma energia cinética, em um determinado momento, dentro da caixa craniana e do cérebro. É um choque, uma transmissão de energia, mas para que seja considerado um traumatismo craniano, deve haver uma perturbação transitória, ou um pouco mais longa, do funcionamento cerebral”, explica. 

Nem toda batida na cabeça é um traumatismo craniano, e por isso é difícil identificá-lo em casos mais leves, principalmente se a repercussão no estado de saúde não é imediata ou visível, explica o neurocirurgião. No hospital onde ele trabalha, a equipe desenvolveu um protocolo específico para diagnosticá-los. 

As causas mais comuns, segundo o neurocirurgião, são as quedas domésticas, esportivas e os acidentes de carro, moto, bicicleta e outros veículos. As agressões resultantes da violência urbana, que estão aumentando, também fazem parte da lista. 

“É fundamental ter acesso a uma estrutura especializada em traumatismos cranianos leves, para informar o paciente sobre o que ele deve ou não fazer. Por exemplo, não tomar paracetamol, que pode induzir dores de cabeça, ou avaliar a necessidade de fazer um exame mais aprofundado”, informa Aghakhani. 

Para tomar decisões sobre os tipos de exames que devem ser realizados, o neurologista francês conta com a ajuda de um algoritmo criado especificamente para avaliar o nível de gravidade do traumatismo. 

Quando ir direto para o pronto-socorro

Há sintomas que exigem uma visita imediata ao pronto-socorro, como vômitos acompanhados de sonolência, que indicam a existência de um hematoma. O repouso também é necessário após uma batida na cabeça, mesmo que ela seja leve. 

A noção de “descanso” cerebral, explica o neurocirurgião, deve ser discutida com o médico, conforme o perfil do paciente, e não significa necessariamente ficar deitado em um quarto escuro ou em frente à TV. 

“Agora tentamos informar o paciente sobre o que pode acontecer após um traumatismo craniano — 24, 48 ou 72 horas depois — e o que é necessário fazer nesse caso. Sabemos que o elemento essencial é a informação, a educação e a confiança. Esses três elementos são muito importantes e devemos insistir neles, para que os pacientes não desenvolvam sintomas crônicos. Quando eles se tornam crônicos, é extremamente difícil de tratar”. 

As sequelas de um traumatismo, explica, são variadas e podem ser somáticas, psíquicas ou emocionais. “Você pode sentir uma mudança repentina de humor, uma alteração na personalidade, sentir-se irritado ou, ao contrário, totalmente apático”, diz. 

Segundo ele, estudos mostraram ao longo dos anos que mesmo os traumatismos cranianos leves podem provocar mudanças anatômicas no cérebro e atrapalhar seu funcionamento, gerando sintomas. Existem maneiras de identificar essas alterações em exames de imagem específicos. 

Nozar Aghakhani lembra que é importante reiterar a diferença entre um traumatismo craniano grave, em que o pronto-atendimento é evidente, e um choque mais leve, que deixa dúvidas quanto à necessidade de procurar um médico.

“No caso de um traumatismo craniano grave e agudo, o pronto-atendimento e a cirurgia são essenciais. Mas, se o traumatismo é leve, a informação, a educação e a confiança é que são importantes. E a mensagem de prevenção global, para toda a sociedade, é: nunca deixe de usar capacete!”, alerta.

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