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Trump confirma tarifaço ao Brasil e impõe sobretaxas a cerca de 80 países a partir de sexta

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A partir de sexta-feira, 1º de agosto, está prevista a entrada em vigor de uma nova rodada de tarifas comerciais anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para cerca de 80 países, incluindo os 27 membros da União Europeia (UE), as sobretaxas aplicadas às exportações para os EUA variam entre 11% e 50%.

Entre os produtos brasileiros isentos da sobretaxa de Trump estão suco de laranja, aviões, combustíveis, veículos e peças, produtos siderúrgicos, metais e minerais, fertilizantes e madeiras.
Entre os produtos brasileiros isentos da sobretaxa de Trump estão suco de laranja, aviões, combustíveis, veículos e peças, produtos siderúrgicos, metais e minerais, fertilizantes e madeiras. REUTERS - Adriano Machado
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Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

No caso do Brasil, o decreto assinado na quarta-feira por Donald Trump eleva para 50% a tarifa sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, somando uma sobretaxa de 40% às tarifas de 10% já em vigor. A data de entrada em vigor da medida foi adiada para 6 de agosto. 

A medida afeta itens como café, carnes e manga, mas inclui uma lista de quase 700 exceções voltadas a insumos industriais e agrícolas que aliviam o impacto sobre parte significativa das exportações brasileiras. Entre os produtos isentos estão aviões, combustíveis, veículos e peças, suco de laranja, produtos siderúrgicos, metais e minerais, fertilizantes e madeiras.

Segundo estimativas preliminares, quase metade do valor total exportado pelo Brasil aos Estados Unidos ficará de fora da sobretaxa. Além disso, importações brasileiras que chegarem aos portos americanos até 6 de agosto e forem liberadas para consumo até 5 de outubro também não serão afetadas.

O decreto ainda declara “emergência nacional” com base no International Emergency Economic Powers Act (IEEPA), dispositivo que permite tarifas acima de 15%.

Trump justificou a decisão alegando que ações do governo brasileiro representariam uma “ameaça incomum e extraordinária” à segurança e à economia dos EUA. O texto cita supostas violações de direitos humanos, interferência na economia americana e perseguição política ao ex-presidente Jair Bolsonaro como fundamentos para a medida.

Mauro Vieira e comitiva brasileira em Washington

O chanceler Mauro Vieira esteve em Washington na quarta-feira (30), após compromissos na sede da ONU, em Nova York. Fontes do Itamaraty confirmaram que Vieira se reuniu com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, em um encontro considerado estratégico diante da entrada em vigor das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. A proximidade de Rubio com Trump é vista como um canal essencial de interlocução.

No mesmo dia, uma comitiva de senadores brasileiros concluiu uma série de reuniões na capital americana com parlamentares e empresários dos Estados Unidos. O grupo, que não buscou contato com a Casa Branca, concentrou esforços em abrir canais de diálogo com o setor privado e o Congresso, que pressionam por soluções para reduzir o impacto das tarifas.

A senadora Tereza Cristina destacou o caráter inicial da viagem:

“O que nós fizemos aqui nesses dois dias foi abrir portas, quebrar o gelo, conversar com empresas, políticos e interlocutores. Vamos ter muito tempo ainda de negociação, e o diálogo vai continuar. As exceções ao tarifaço são uma boa notícia”, afirmou.

O esforço diplomático ocorreu no mesmo dia em que o Tesouro americano anunciou sanções contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, no âmbito do programa Global Magnitsky, por alegadas violações de direitos humanos.

Países afetados pela nova rodada de tarifas

Além do Brasil, outras economias também devem ser atingidas pela nova rodada de tarifas de Trump:

  • Canadá: 35%
  • México: 30%
  • Coreia do Sul: 25%
  • Índia: 25% (+ penalidade adicional sobre petróleo russo)
  • Tailândia: 36%
  • Malásia: 25%
  • África do Sul: 30%
  • Camboja: 36%
  • Bangladesh: 35%
  • China: 30% (a partir de 12 de agosto)

O presidente americano também anunciou tarifas de 50% sobre produtos de cobre, como tubos e fios, e ampliou a suspensão da chamada isenção de minimis, que permitia a entrada de mercadorias de até US$ 800 sem taxação — medida que afeta principalmente produtos chineses.

Enquanto endurece sua política comercial, Trump vem negociando acordos bilaterais. Recentemente, fechou parcerias com Japão e Coreia do Sul, que aceitaram reduzir tarifas de 25% para 15% em troca de investimentos bilionários nos Estados Unidos. O acordo com a União Europeia prevê taxas de 15% a partir desta sexta-feira.

Trump estaria planejando taxar países que negociam com Rússia

Durante coletiva de imprensa na embaixada brasileira em Washington na quarta-feira, os senadores que integraram a comitiva enviada para negociar a tarifa de 50% imposta aos produtos brasileiros revelaram um novo alerta vindo de parlamentares americanos: a possibilidade de sanções automáticas contra países que mantêm relações comerciais com a Rússia.

“Há outra crise, ainda pior, que pode nos atingir em 90 dias. Tanto republicanos quanto democratas foram firmes ao dizer que vão criar uma lei para aplicar sanções automáticas a todos os países que negociam com a Rússia. E não será um decreto presidencial, como foi o ‘tarifaço’, será uma lei americana, com apoio bipartidário”, afirmou o senador Carlos Viana.

Os parlamentares brasileiros foram informados de que a Casa Branca está pressionando o Brasil a reduzir ou interromper as importações de combustíveis e fertilizantes russos. Caso contrário, o país poderá se tornar alvo de novas medidas punitivas.

O senador Jaques Wagner (PT-RJ) lembrou que cerca de 30% dos fertilizantes utilizados pelo agronegócio brasileiro vêm da Rússia, o que torna a situação ainda mais delicada.

A senadora Tereza Cristina (PP-MS) reforçou a percepção americana sobre o tema. Segundo ela, os americanos “estão preocupados em acabar com a guerra e acreditam que quem compra da Rússia está dando munição para que ela continue o conflito".

Tereza Cristina ressaltou que os Estados Unidos "estão tentando aprovar uma lei sobre isso antes do recesso do Congresso no país. É um assunto sensível para eles.”

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