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Corpo de refém restituído pelo Hamas é de palestino, diz Israel

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Após a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, novos desdobramentos complexos reacendem a crise entre o governo de Israel e o grupo Hamas. Na manhã desta quarta-feira (15), o Instituto de Medicina Legal de Israel identificou mais quatro corpos de reféns restituídos pelo movimento extremista durante a madrugada: três são de reféns israelenses, mas um deles é de um palestino. Neste contexto, Israel considera que o Hamas voltou a violar o acordo de cessar-fogo.

Um comboio carregando os corpos dos reféns sequestrados pelo Hamas chega ao Centro Forense de Abu Kabir, em Tel Aviv, em 15 de outubro de 2025.
Um comboio carregando os corpos dos reféns sequestrados pelo Hamas chega ao Centro Forense de Abu Kabir, em Tel Aviv, em 15 de outubro de 2025. © Reuters/Hannah McKay
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Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel

A pressão dos países mediadores é para que as partes não levem essa crise ao limite. Mas Israel deixa claro que considera o Hamas responsável por violar o acordo de trégua ao não entregar todos os corpos de reféns mortos.

O tema continua a ser impactante na sociedade israelense. A luta pelo retorno dos reféns durou dois anos e agora a promessa, principalmente por parte do Fórum dos Familiares dos Reféns, é manter o foco. Há uma tentativa por parte dessa organização, que se tornou uma entidade com muita força interna, para manter a mobilização popular em torno da questão. 

Uma autoridade israelense disse de forma anônima ao portal N12 que "o Hamas devolveu apenas quatro corpos de reféns na segunda-feira (13) por não ter levado a sério esta condição do cessar-fogo na Faixa de Gaza". Ainda de acordo com informações do portal, Israel considera que o grupo extremista "tem informações sobre a localização de dez corpos". 

O Hamas argumenta que tem dificuldades para encontrar os restos mortais devido ao estado de destruição da Faixa de Gaza, mas conseguiu devolver mais quatro corpos durante a última madrugada. A restituição levou Israel a desistir das decisões que havia anunciado, como o fechamento da Passagem de Rafah, na fronteira entre Gaza e o Egito, e a redução da entrada de ajuda humanitária. 

Na manhã desta quarta-feira, entretanto, o Instituto de Medicina Legal de Israel identificou os corpos: três são de reféns israelenses, mas um deles é de um palestino. Israel considera que o Hamas voltou a violar o acordo. 

Uma reportagem do canal saudita Al Arabiya mostrou que forças do Egito entraram na Faixa de Gaza para auxiliar nas buscas pela localização dos restos mortais dos reféns. Segundo a imprensa israelense, a expectativa é que mais quatro corpos sejam transferidos ao Exército de Israel ao longo do dia de hoje. 

A informação obtida pela RFI é que outras medidas de pressão são estudadas pelo governo israelense. Até o momento, nenhuma delas inclui a retomada dos combates na Faixa de Gaza.

Hamas volta a demonstrar poder interno

O Hamas voltou a ser a autoridade local, controlando, principalmente, o que restou das maiores cidades do território. Isso porque, segundo o que foi determinado pelo acordo, os militares israelenses deixaram esses pontos, recuando para a chamada "Linha Amarela". 

Este é um aspecto pouco claro da situação atual: a "Linha Amarela" marca o primeiro ponto de retirada israelense. Embora os mapas mostrem que o Exército ainda controla mais da metade do território de Gaza, a retirada real parece ser mais profunda do que o indicado, com posições defensivas agora mais próximas da fronteira, segundo informações de soldados à imprensa local. 

A linha, portanto, parece ser apenas uma referência que neste momento não representa exatamente a realidade. Sobre este questionamento, o Exército respondeu sem negar os relatos de uma retirada mais ampla. "O mapa é uma ilustração, e a distribuição das forças é determinado a partir de uma avaliação e da análise de todas as variáveis", afirma um comunicado. 

Hamas inicia onda de execuções em Gaza

Os analistas de defesa israelenses são unânimes em afirmar que não existe vácuo na Faixa de Gaza. Isso significa que, enquanto não houver uma alternativa em atuação no território, o Hamas continua a ser o grupo mais poderoso local, mesmo enfraquecido após a guerra com Israel. 

Segundo as fontes em Gaza citadas pela imprensa internacional, o Hamas convocou cerca de sete mil membros de suas forças de segurança para reafirmar o controle sobre áreas recentemente desocupadas pelas tropas israelenses. Também passou a levar adiante uma ofensiva de vingança contra clãs e milícias rivais a quem acusa de "colaboração com Israel". 

Não se sabe ao certo quantas pessoas já foram mortas, mas, segundo o portal Ynet, de Israel, o Hamas teria matado pelo menos 52 membros de apenas um dos clãs, o Dagmoush. Os chamados clãs são famílias tradicionais do enclave palestino que se mantêm fortemente armadas. 

Tudo isso contrasta com o plano do presidente americano, Donald Trump, que determina o desarmamento do Hamas. O líder republicano garantiu na noite de terça-feira (14) que recebeu garantias de que isso irá acontecer.

"Se eles não se desarmarem, nós os desarmaremos. E isso vai ocorrer de forma rápida e talvez violenta", afirmou, na Casa Branca durante encontro com o presidente argentino, Javier Milei. 

Força Internacional deve atuar na Faixa de Gaza

Por enquanto, a maior parte da informação sobre essa nova autoridade militar é mencionada no item 15 do próprio plano de Trump; esse ponto do acordo diz que "os Estados Unidos vão trabalhar com parceiros árabes e internacionais para criar uma Força de Estabilização Internacional Temporária (FIT) a ser imediatamente estabelecida em Gaza". Ainda segundo o plano, a missão dessa força será treinar e fornecer apoio à polícia palestina do território e também trabalhar com Egito e Israel no controle das fronteiras. 

Até o momento, os soldados israelenses ainda controlam cerca de 50% da Faixa de Gaza. No item seguinte do plano, fica determinado que "Israel não irá ocupar nem anexar Gaza. À medida que Força Internacional de Estabilização estabelecer controle e estabilidade, as Forças de Defesa de Israel irão se retirar". 

A RFI entrou em contato com uma fonte israelense para perguntar se as autoridades do país já possuem informações mais claras sobre essa força internacional que, no final das contas, deverá substituir o Exército de Israel em Gaza. "Ainda não! Teremos notícias em breve, com certeza", foi a resposta recebida.

O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, disse em entrevista à NBC que "muitos países muçulmanos se ofereceram para enviar tropas à região para proteger Gaza", mas não informou que países são esses, nem quando essa força internacional será criada ou enviada para o território palestino. 

Apesar dessa nova autoridade militar ser citada no plano como parte importante para torná-lo viável, este parece ser um dos itens que serão discutidos de forma mais aprofundada durante as negociações da segunda fase. 

Diante de tantas dúvidas sobre como e quando o acordo vai sair do papel, o ex-chefe do Serviço de Inteligência de Defesa de Israel, Amos Yadlin, disse em entrevista à TV israelense acreditar que "a implementação da segunda fase [do plano] pode levar entre seis meses e dois anos". 

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