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Hamas devolve restos mortais de refém já entregue; Israel convoca reunião urgente

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Na noite passada, perto do fim do prazo dado pelo presidente norte-americano, Donald Trump para entrega dos corpos de reféns israelenses, o Hamas entregou um caixão a Israel. No entanto, o Instituto Médico Legal em Tel Aviv constatou na manhã desta terça-feira (28) que não se tratava de um corpo de um dos 13 reféns restantes, mas dos restos mortais de um refém que já havia sido entregue. Israel considera que se trata de uma grave violação do acordo de cessar-fogo por parte do Hamas. A partir disso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deverá realizar uma reunião urgente para determinar quais medidas Israel irá implementar em resposta ao grupo palestino.

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Palestinos observam máquinas e alguns trabalhadores do Egito procurando os corpos dos reféns em Hamad City, em Khan Younis, sul da Faixa de Gaza, segunda-feira, 27 de outubro de 2025.
Palestinos observam máquinas e alguns trabalhadores do Egito procurando os corpos dos reféns em Hamad City, em Khan Younis, sul da Faixa de Gaza, segunda-feira, 27 de outubro de 2025. AP - Jehad Alshrafi
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Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel

Apesar do acordo em vigor, a questão dos corpos dos reféns ainda permanece em aberto, assim como a formação do comitê que deverá administrar a Faixa de Gaza no pós-guerra.

O Hamas afirma que não consegue encontrar todos os corpos porque falta equipamento e também devido ao estado de destruição da Faixa de Gaza. Israel contesta esta versão. Para as autoridades israelenses, o Hamas busca ganhar tempo de forma a não avançar para a segunda fase porque o item 13 do acordo de cessar-fogo assinado prevê a desmilitarização da Faixa de Gaza.

Os Estados Unidos consideram que decisões relacionadas à ajuda humanitária para a Faixa de Gaza podem levar ao colapso do acordo de cessar-fogo e também ao plano do presidente Donald Trump.

Por isso, segundo a imprensa local, uma das possibilidades em avaliação por parte de Israel é a expansão da área de Gaza sob controle do exército, ou seja, o avanço da chamada Linha Amarela. Neste momento, Israel controla 53% do território.

Membros do alto escalão de Israel estão preocupados porque reconhecem que possíveis medidas de pressão sobre o Hamas estão sujeitas a decisões norte-americanas. Na opinião da cúpula de segurança israelense, é justamente essa limitação imposta pelos norte-americanos que permite ao grupo extremista palestino ganhar tempo e não devolver os corpos dos reféns israelenses.

Familiares de reféns continuam combate

Anteriormente, a luta dos familiares dos reféns era focada em pressionar o governo israelense a aceitar um acordo que encerrasse a guerra e libertasse os reféns. Agora, o foco não é mais a libertação dos reféns vivos, mas a devolução dos corpos.

O Fórum dos Familiares dos Reféns divulgou um comunicado pedindo o congelamento do acordo atual até que o Hamas devolva todos os corpos.

"As famílias pedem ao governo de Israel, ao governo dos Estados Unidos e aos mediadores que não avancem para a próxima fase do acordo até que o Hamas cumpra todas as suas obrigações e devolva todos os reféns a Israel", afirma o texto.

Uma fonte de segurança israelense, citada pelo canal público local, disse que os EUA não compreendem a insistência de Israel sobre a devolução dos corpos.

Os EUA desejam avançar para a próxima fase do plano, mesmo que a devolução de todos os corpos ainda não tenha ocorrido.

Porém, há também uma questão interna em Israel. O governo de Benjamin Netanyahu segue desgastado, e a luta pela devolução dos corpos continua a gerar grande repercussão. Isolado no cenário internacional e pressionado pela população, o primeiro-ministro não tem muita margem de manobra para agir, nem para contestar as diretrizes de Washington.

Palestinos anunciam comitê independente para pós-guerra

As principais facções palestinas, incluindo o Hamas, anunciaram um acordo para formar um comitê independente de tecnocratas que assumirá a administração da Faixa de Gaza no pós-guerra.

Em uma reunião no Cairo, os grupos chegaram a um acordo para entregar "a administração da Faixa de Gaza a um comitê palestino temporário composto por tecnocratas independentes".

A declaração conjunta, publicada no site do Hamas, afirma que o comitê será responsável por administrar os assuntos cotidianos e os serviços básicos "em cooperação com os irmãos árabes e instituições internacionais".

A declaração também menciona que as facções concordaram em trabalhar para unificar a posição "para enfrentar os desafios da causa palestina".

No entanto, o Hamas busca formas de evitar a desmilitarização da Faixa de Gaza, conforme exige Israel e o plano de Trump.

Em entrevista à imprensa árabe, Khalil Al-Hayya, principal negociador do Hamas, afirmou que as armas do grupo estão “relacionadas à presença da ocupação e à agressão”.

Segundo ele, "se a ocupação terminar, as armas serão transferidas para o Estado".

Aqui surge uma ambiguidade: o Hamas não se compromete com a criação de um estado palestino ao lado de Israel, mas sim em substituição a Israel. Países que defendem a solução de dois Estados (Israel e Palestina) argumentam que o estado palestino deve ser estabelecido na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, com capital em Jerusalém Oriental. No entanto, o Hamas é contra a existência do Estado de Israel. O negociador palestino não esclarece esse ponto em sua entrevista.

Vida no sul de Israel começa a se normalizar

Israel suspendeu a classificação de emergência no sul do país pela primeira vez desde os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023. O ministro da Defesa, Israel Katz, seguiu as recomendações do exército e determinou o fim dessa diretriz a partir de hoje, 28 de outubro.

A decisão reflete a nova realidade de segurança no sul, alcançada graças às operações realizadas pelos "heróicos combatentes" israelenses contra o Hamas ao longo dos últimos dois anos, segundo comunicado do ministro.

Essa medida permitia ao Comando da Frente Interna - responsável por determinar as restrições à população civil - limitar a quantidade de pessoas em áreas específicas ou até mesmo fechar certas regiões do território.

A RFI conversou com um responsável do Kibutz Be'eri, uma das comunidades próximas à Faixa de Gaza atacadas pelo Hamas há dois anos, onde cerca de 10% dos moradores foram mortos. Ele pediu anonimato, mas revelou que recebeu garantias de que a presença do exército no território israelense, entre a Faixa de Gaza e o kibutz, será permanente.

 

 

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