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EUA enfrentam tensão geopolítica com aumento de arsenal nuclear chinês e Talibã no Afeganistão

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A preocupação norte-americana com o potencial crescimento do arsenal nuclear chinês é o tema do momento em Washington. Alguns dados coletados pelo Instituto de Estudos Aeroespaciais Chineses, instituto norte-americano ligado ao Departamento da Defesa, indicam uma preparação para um aumento substancial do poderio nuclear de Pequim.

Cidadãos afegãos invadem avião no aeroporto internacional de Cabul, na tentativa de fugir do país nesta segunda-feira, 16 de agosto de 2021.
Cidadãos afegãos invadem avião no aeroporto internacional de Cabul, na tentativa de fugir do país nesta segunda-feira, 16 de agosto de 2021. Wakil Kohsar AFP
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A construção de novas bases que receberam mísseis balísticos intercontinentais indicam que a China está preparando uma expansão considerável do seu arsenal de 350 ogivas, ainda não organizadas, com capacidade ampla de uso de ataque. Para comparação, os Estados Unidos possuem aproximadamente 6 mil ogivas. 

Essa mudança de postura chinesa afeta profundamente a estratégia nuclear norte-americana, que sempre entendeu que (em tese) poderia eliminar as forças nucleares chinesas, desde que tivesse um conhecimento seguro de sua localidade, sem temer um contra-ataque.

A China, durante muitos anos, montou sua estratégia nuclear em torno do poder de reação contra um ataque, onde eles buscavam manter uma capacidade de retaliação, mas não necessariamente de primeiro ataque. Com a mudança estratégica, baseada em uma expansão de mísseis balísticos e (potencialmente) de ogivas, a China poderia assegurar uma capacidade de primeiro ataque, assim como aumentaria seu poder de retaliação, caso mantivesse a localidade desses mísseis fora de conhecimento dos EUA. 

Isso muda a forma como os dois países se organizam militarmente em relação ao outro. A China passaria, hipoteticamente, a neutralizar a desproporcionalidade nuclear norte-americana, podendo focar em obter vantagem no volume naval local (Indo-Pacífico). 

Além desse, o governo norte-americano se vê com outro problema grave, que é o avanço do Talibã no Afeganistão, conquistando a capital Cabul e fazendo com que o governo legítimo tenha de fugir do país, indo para o Tadjiquistão, na tentativa de organizar os cacos

O que ocorre no Afeganistão é resultado imediato da saída atabalhoada dos norte-americanos do país, fazendo com que o Talibã conquistasse terreno frente à reação mínima das forças afegãs. 

Diálogo com o Talibã

A China também está diretamente envolvida no que está acontecendo no Afeganistão. Com a saída das tropas norte-americanas e com o avanço chinês em sua influência política sobre o Paquistão, a China passou a dialogar não só com o governo afegão, mas também com as lideranças do Talibã no país.

À medida que o Talibã foi conquistando espaço, o governo chinês intensificou o diálogo com o grupo terrorista (na visão Ocidental, e revolucionário na visão chinesa), oferecendo legitimidade no seu avanço pelo Afeganistão que culminou na tomada da capital, Cabul. 

Um governo Talibã no Afeganistão tratado como legítimo pela segunda maior potencial econômico e militar do mundo deve trazer efeitos diretos e complicados na região. Estimula grupos similares em outros países de baixa institucionalidade, assim como uma eventual expansão do próprio Talibã para além de suas fronteiras. 

Ainda há muito para acontecer. No Afeganistão, as cartas estão sendo dadas e podemos ver por lá um ensaio da primeira guerra por procuração (proxy war, em inglês) entre EUA e China.

No campo nuclear, o jogo tem um ritmo mais lento. Resta aos EUA analisarem se o aumento do poderio militar chinês também está diretamente relacionado à confiança que a China terá para atuar em países da região, como o Afeganistão. 

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