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Como ficará a Europa depois da guerra?

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A esmagadora votação na Assembleia Geral da ONU, condenando a invasão da Ucrânia pela Rússia, só tem paralelo nas votações que, ano após ano, condenam o bloqueio econômico de Cuba pelos Estados Unidos.

Um militar ucraniano em um rua de Odessa, no dia 04 de março de 2022.
Um militar ucraniano em um rua de Odessa, no dia 04 de março de 2022. via REUTERS - UKRAINIAN ARMED FORCES
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Flávio Aguiar, analista político

Se os 141 votos a favor da resolução foram expressivos, também expressivas foram as abstenções ou ausências na histórica sessão. Países que poderiam apoiar a Rússia se abstiveram, como China, Cuba, Irã, Vietnã, Nicarágua. Até o Cazaquistão, cujo governo foi beneficiado por uma recente intervenção de tropas russas, se absteve. A Venezuela, aliada de Moscou, se ausentou.

Isto significa que a Rússia de Vladimir Putin se tornará um pária internacional, como afirmam alguns analistas? É cedo para tirar tal conclusão, apesar do boicote contra produtos russos em supermercados europeus, ou a anulação de espetáculos artísticos ou ainda o banimento da Rússia de algumas competições esportivas pelo mundo afora.

Em grande parte a resposta àquela pergunta dependerá da reação europeia à situação da guerra e seu desenlace, seja ele qual for. Para dizer o mínimo, os sinais são contraditórios.

É verdade, por exemplo, que a Alemanha reverteu sua posição histórica, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, de não enviar armamentos para regiões em conflito, ao concordar com seu envio para a Ucrânia. É verdade também que o presidente francês, Emmanuel Macron, que vinha fazendo esforços em favor de uma solução diplomática para o conflito, endureceu o discurso contra Moscou. E grande parte da mídia Ocidental vai promovendo o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, como o herói do momento.

OTAN revigorada

Por outro lado, é também verdade que, pelo menos até agora, o fluxo do gás liquefeito russo para os países europeus continua inalterado, passando, em grande parte, através da conturbada Ucrânia. Se a Alemanha suspendeu a autorização para o funcionamento do gasoduto Nordstream 2 através do mar Báltico, sua dependência em relação ao gás russo permanece a mesma, e apesar das promessas, a possibilidade de reverte-la no curto e mesmo médio prazo é remota, para não dizer impossível.

Alguns analistas também afirmam que a guerra revigorou a posição da OTAN como uma espécie de “guardiã da liberdade” na Europa. Porém isto não elimina as diferenças entre os Estados Unidos e o Reino Unido, de um lado, e a França e a Alemanha, de outro, quanto ao entusiasmo com que encaram a organização.

Um outro fator a ser avaliado no futuro é o dramático aumento de refugiados ucranianos que buscam os países europeus vizinhos. Seu número se aproxima do milhão e meio, com quase a metade deles acorrendo para a Polônia. Como isto afetará o equilíbrio político dentro dos países atingidos por estas levas?  Como elas afetarão as posições dos partidos de extrema-direita, tradicionais inimigos das imigrações e pelo menos alguns deles simpáticos historicamente em relação a Vladimir Putin?

Como ficará o mundo das informações? Se a Rússia vem censurando o funcionamento de várias mídias, vistas como adversas, a União Europeia coibe os sites russos Russia Today e Sputnik, acusados de distribuírem fake news sobre a guerra.

O resumo deste elenco é que há mais dúvidas sobre como ficará a Europa depois desta guerra do que certezas. Como sempre, é mais fácil saber como ela começou, apesar das divergentes versões a respeito, do que saber como vai terminar.

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