Retrospectiva: em 2022, setor da cultura voltou a funcionar após dois anos de pandemia
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Em 2022, teatros, cinemas e festivais voltaram a funcionar a todo vapor, após dois anos sofrendo os impactos da pandemia de Covid-19. A crise do cinema, a morte do diretor francês Jean-Luc Godard e da cantora Gal Costa e os vários prêmios conquistados por cineastas brasileiros em festivais europeus estão entre os fatos que marcaram o mundo da cultura.

O cinema foi a atividade cultural mais abalada pelo Covid-19. O setor começou a perder espaço para as plataformas digitais durante a pandemia e o movimento continuou em 2022, tanto que, pela primeira vez, o Oscar foi concedido a uma produção feita por um serviço de streaming.
Mas o que realmente entrou para a história da comedida e ensaiada cerimônia não foi a premiação de "No ritmo do coração", da Apple TV+, na categoria Melhor Filme, mas o polêmico tapa na cara dado por Will Smith em Chris Rock, que fez uma brincadeira sobre a mulher do ator, Jada Pinkett Smith.
Outra premiação americana de cinema que perdeu o brilho foi o Globo de Ouro. Sob acusação de corrupção, a festa foi boicotada. Ao invés do tapete vermelho repleto de celebridades sorrindo, a cerimônia descontraída que sempre marcou a premiação, promovida pela Associação de Correspondentes Estrangeiros em Hollywood, se reduziu a um evento fechado.
Cinema brasileiro brilhou
Já o cinema brasileiro não perdeu tempo, aproveitou a relativa volta ao normal, saiu das fronteiras e brilhou nos festivais europeus.
Em Locarno, na Suíça, um dos mais importantes da Europa, o filme “Regra 34”, da cineasta Julia Murat, ganhou o prêmio principal, levando às telas o tema do prazer feminino.
Outro brasileiro, Carlos Segundo, ficou com o prêmio de melhor curta-metragem autoral por "Big Bang", no mesmo festival.
Já no Cinélatino de Toulouse, dedicado ao cinema latino-americano na França, foi a vez da cineasta Carolina Markowicz levar o Prêmio dos Distribuidores Europeus com o filme "Quando minha Vida". Na competição oficial, o primeiro longa-metragem do diretor pernambucano Fellipe Fernandes, "Rio Doce", recebeu o prêmio do Sindicato Francês da Crítica de Cinema.
Também foi em Toulouse que Gabriel Martins lançou seu filme "Marte Um", que vai representar o Brasil no Oscar no ano que vem. O cineasta disse à RFI que via o longa como "uma carta de amor aos brasileiros".

Ainda entre os brasileiros premiados em Toulouse, estão o curta "Fantasma Neon", do diretor Leonardo Martinelli, e o filme "Deus me Livre", de Carlos Henrique de Oliveira e Luis Ansorena Hervés.
"Fogaréu", longa de ficção da goiana Flávia Neves, com Bárbara Colen no elenco, venceu o prêmio de audiência no Festival de Berlim, e o curta "Manhã de Domingo" recebeu o Urso de Prata, o segundo Prêmio do Júri oficial da Berlinale.
Em Veneza, o brasileiro Pedro Harres levou o Grande Prêmio do Júri na seção paralela Venice Immersive, dedicada à Realidade Virtual, com o curta “From the main square".
Despedidas
Mas não só de prêmios viveu a sétima arte, que chorou a morte de um dos criadores da nouvelle vague. Jean Luc Godard morreu em setembro e deixou como legado filmes icônicos como “O Desprezo”, com Brigitte Bardot, “Week-end à francesa” e "Acossado".
Hollywood perdeu Sidney Poitier, primeiro ator negro a ganhar um Oscar, e o ator francês Gaspard Ulliel morreu aos 37 anos vítima de um acidente de esqui.
O mundo da música perdeu Pablo Milanés, um dos maiores nomes do cancioneiro cubano e internacional, e também Gal Costa. A imprensa do mundo inteiro homenageou a artista, falecida em novembro. "Uma das maiores cantoras do mundo", "musa eterna da Tropicália", "uma carreira rica e densa", disseram os principais jornais europeus. "Essa cantora de carisma excepcional e voz cristalina marcou toda uma geração", resumiu o jornal francês Le Figaro.
Também foi destaque nos principais jornais americanos e europeus a morte da cantora e compositora Elza Soares, aos 91 anos. "Elza Soares ultrapassou as fronteiras da música brasileira", disse o New York Times.
Música e na literatura
Em 2022, a cantora Anitta lançou disco e realizou uma turnê europeia durante um mês. A garota do Rio transformou o tradicional Festival de Jazz de Montreux em um baile funk, sacudiu o Rock in Rio de Lisboa, foi um dos destaques do festival de Roskilde, na Dinamarca, e se apresentou em duas versões do Lollapalooza, em Estocolmo e Paris, entre outros shows que marcaram o ano da cantora.
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Mas foi Liniker que ganhou o prêmio de Melhor Album de Música Popular Brasileira por seu trabalho em Índigo Borboleta Anil, seu primeiro disco solo. Ela se tornou a primeira artista trans a ganhar um Grammy Latino.
Na literatura, uma vez mais o Nobel foi para a França, e para uma mulher, Annie Ernaux, a mestre da autobiografia impessoal que se transformou em ícone feminista.
No principal festival de histórias em quadrinho do mundo, o Festival de Angoulême, na França, o prêmio foi para o quadrinista e escritor brasileiro Marcello Quintanilla, pelo álbum "Escuta, Formosa Márcia".
Soft power
Em 2022, o cancelamento de artistas pró-Putin e a solidariedade a ucranianos marcaram a "guerra cultural" na França, contra a invasão da Ucrânia pela Rússia. Da Ópera Nacional de Paris ao Festival de Avignon, instituições culturais francesas expressaram seu apoio "ao povo e aos artistas da Ucrânia".
Os ucranianos da banda Kalush Orchestra se consagraram vencedores do Eurovision — o maior concurso musical do mundo — com a canção "Stefania", Em uma das edições mais políticas deste evento tradicional. A conquista foi festejada pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para quem a façanha simbolizava um presságio da vitória da Ucrânia também no campo de batalha.
Celebração
O ano que passou também teve momentos de celebração. Gilberto Gil e a família decidiram em 2022 fazer uma turnê na Europa, lotando os lugares por onde passaram e levando o que o Brasil tem de melhor: a música, a alegria e o otimismo. Avô, filhos e netos no mesmo palco, celebrando a vida e o cantor, que fez 80 anos recentemente, como explicou Preta Gil em entrevista à RFI.
Os 100 anos da Semana de Arte Moderna de 22 também foram celebrados. O movimento, que influenciou a arte em toda a América Latina, foi homenageado com uma série de exposições no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires e pelo Teatro Municipal de São Paulo, principal palco da manifestação que buscava romper com o conservadorismo da época.
No próximo ano, o maior desafio da cultura brasileira será o de se reconstruir. O novo governo de Lula vai recriar o Ministério da Cultura, extinto durante os anos de Jair Bolsonaro. E, assim como no resto do mundo, será preciso atrair de volta o público às salas de cinema, teatro e exposições.
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