Reportagem

Festival de Cinema Brasileiro de Paris homenageia Dira Paes e lança documentário sobre Cazuza

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Uma calorosa homenagem à atriz e diretora Dira Paes marcou a abertura do Festival de Cinema Brasileiro de Paris, na terça-feira (29). Além da exibição de filmes em competição, a 27ª edição do evento promoveu o lançamento mundial do documentário “Cazuza, Boas Novas”, sobre os últimos anos de vida do cantor e compositor.

Abertura da 27ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Paris, na terça-feira, 29 ed abril de 2025.
Abertura da 27ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Paris, na terça-feira, 29 ed abril de 2025. © RFI/Elcio Ramalho
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Na abertura do festival, a atriz paraense Dira Paes recebeu um prêmio pelo conjunto de sua carreira e pela contribuição ao cinema nacional. “De norte a sul do país, ela atravessa épocas, gêneros e lutas com uma presença luminosa”, diz a direção do festival, que programou cinco filmes emblemáticos de sua trajetória, entre eles “Anahy de las Missiones”, “Manas” e seu primeiro longa como diretora, “Pasárgada”.

 

“Durante a homenagem fui relembrando a minha trajetória. E vi o quanto essa estrada é longa, 40 anos. Recebi essa homenagem num ano tão especial quanto o ano do Brasil na França e a COP 30 na minha cidade, Belém. Eu acho que foi uma confluência astral que me permitiu esse momento tão especial da minha vida, que eu vou me lembrar para sempre”, afirmou Dira Paes em entrevista à RFI.

A atriz e diretora Dirá Pães é a homenageada da 27ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Paris.
A atriz e diretora Dirá Pães é a homenageada da 27ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Paris. © Elcio Ramalho / RFI

Na telona, “Vitória”, com Fernanda Montenegro no papel principal, foi o filme escolhido para a abertura do festival. Com a morte do diretor Breno Silveira no primeiro dia de filmagem, Andrucha Waddington assumiu o longa, baseado na história verídica de uma aposentada do Rio de Janeiro, Joana da Paz, que lutou e conseguiu denunciar a ação de traficantes de drogas e policiais corruptos que acabaram presos. O ator Alan Rocha, que vive um jornalista na trama, apresentou o filme, recebido com muito entusiasmo pela plateia que lotou o cinema L’Arlequin.

“Esse filme presta muitas homenagens, à dona Joana, ao Breno e à nossa grande dama do cinema, a dona Fernanda (Montenegro). Estar aqui representando esse filme que traz essa grande artista brasileira, conhecida mundialmente, é muito importante e gratificante. Estou muito emocionado, muito feliz de estar aqui me assistindo mais uma vez nesse filme, mas num lugar diferente, como artista, em outro país”, disse o ator.

O ator Alan Rocha é um dos protagonistas do filme "Vitória", exibido na abertura do Festival de Cinema Brasileiro de Paris.
O ator Alan Rocha é um dos protagonistas do filme "Vitória", exibido na abertura do Festival de Cinema Brasileiro de Paris. © Elcio Ramalho/RFI

Lançamento mundial de documentário sobre Cazuza

Importante vitrine da cinematografia brasileira na França, o Festival de Cinema Brasileiro de Paris, fundado e dirigido por Katia Adler, oferece durante uma semana uma programação variada. Nesta edição, são oito filmes em competição, além de um panorama de obras de ficção e documentários que exploram a diversidade da produção, muitas delas exibidas com a presença de artistas e produtores que debatem com o público após as projeções.

O documentário “Cazuza, Boas Novas”, que teve sua estreia mundial no festival, foi apresentado pelos produtores Guilherme Arruda, Roberto Moret e Malu Valois.

O filme de Nilo Romero, que trabalhou com Cazuza, retraça com imagens de arquivo, fotos e vídeos, além de testemunhos de familiares e amigos próximos, os últimos dois anos de vida do cantor e compositor, que morreu de Aids em 1990.

“Consideramos esse período o mais interessante da vida dele, porque quando ele recebe o diagnóstico da doença, ele muda um pouco a forma de enxergar a criação. Achamos que esse período da criação dele diz mais sobre o artista e a cultura brasileira. Além disso, o produtor musical (Nilo Romero) esteve muito próximo do Cazuza nesse período. Então foi unir o útil ao agradável. Achávamos que era um recorte histórico bem relevante”, destaca Moret. “Desde o início desse projeto, fizemos um pacto de reverenciar a memória do Cazuza”, acrescenta.

Para Malu Valois, o filme tem também a vocação de mostrar Cazuza para diversas gerações. “O Cazuza tem uma coisa de poeta mesmo, ele escreveu coisas lindas que são atemporais. Todo mundo que escuta a obra do Cazuza é impactado, é sensibilizado, independentemente de ter convivido na mesma geração. Muita gente está conhecendo e vai conhecer o Cazuza através do nosso filme, e acho que vai ter um grande apaixonamento de novo do Brasil pelo Cazuza”, afirma, confiante, após avaliar a reação do público do festival parisiense.

“O público reagiu super bem, rindo em momentos mais leves do filme. Isso é importante também, porque, apesar de ser um filme pesado, sobre uma pessoa que está adoecendo, tem também o Cazuza e essa sua leveza. Tínhamos um pouco de medo de o público não reconhecer esses momentos, de rir e interagir. Hoje foi uma amostra de que conseguimos isso, tem essa leveza apesar do tema pesado”, celebra Malu.

A repercussão do público e da crítica no exterior é importante para preparar o lançamento do filme no Brasil, em julho, destaca o produtor Guilherme Arruda. “É muito difícil lançar documentário no Brasil. Estamos com uma expectativa boa de conseguir um bom número de salas no Brasil todo. Então festivais como este, e como o In-Edit, que vamos participar em breve, ajudam a ouvir a reação do público, das pessoas, da imprensa, para conseguir uma penetração em um número maior de salas quando ele for lançado. Por isso a estratégia de lançar primeiro aqui fora”, explica.

Os produtores do filme "Caazuza, Boas Novas", Guilherme Arruda (à esq.), Malu Valois e Roberto Moret, no Festival Brasileiro de Cinema de Paris.
Os produtores do filme "Caazuza, Boas Novas", Guilherme Arruda (à esq.), Malu Valois e Roberto Moret, no Festival Brasileiro de Cinema de Paris. © Elcio Ramalho/RFI

Nesta edição, uma sessão do festival é dedicada a alunos do colégio e ensino médio de um estabelecimento bilíngue na região parisiense. O documentário “Salut, Mês Ami.e.s”, sobre o único colégio público franco-brasileiro da América Latina, em Niterói, foi escolhido para mostrar a ligação e os temas que unem os dois países.

A diretora, Liliane Mutti, que já apresentou documentários sobre Miúcha e o produtor Robertinho Chaves no mesmo festival, apresenta seu trabalho, lançado em 2023, sobre a vivência do grupo de jovens do estabelecimento durante a pandemia.

“Estudantes de várias regiões do Rio de Janeiro vão estudar nessa escola. O recorte foi o ano da pandemia, quando a escola reabre, mas eles voltam com máscaras no último ano da escola, após terem feito o penúltimo e antepenúltimo ano em casa. Então, eles se encontraram e se despediram. Foi o último ano deles juntos porque eles se questionam, depois da escola, o que fica? O filme traz essa provocação e, ao mesmo tempo, coloca em perspectiva o ensino público francês e o brasileiro”, diz.

O Festival de Cinema Brasileiro de Paris, no cinema L’Arlequin, vai até terça-feira, 6 de maio.

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