Reportagem

Fotografia brasileira é destaque em festival francês que explora o tema 'Habitar'

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A fotografia brasileira é um dos principais destaques da 22ª edição do festival de fotografia Photaumnales, que reúne mais de 50 exposições em Beauvais e na região de Hauts-de-France, ao norte de Paris. O tema “Habitar” convida à reflexão sobre a complexidade da moradia, transcendendo o simples ato de residir para abordar questões como sentido, memória e vínculo com um lugar.

Imagens do fotógrafo brasileiro Tatewaki Nio, em exposição em Beauvais, em 27 de setembro de 2025.
Imagens do fotógrafo brasileiro Tatewaki Nio, em exposição em Beauvais, em 27 de setembro de 2025. © RFI / Patrícia Moribe
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Patrícia Moribe, enviada especial ao festival Photaumnales

Em plena temporada França-Brasil 2025, o diálogo com o Brasil é privilegiado no festival Photaumnales, com várias exposições de artistas brasileiros — ou franceses, como o renomado Lucien Clergue, que documentou a nova capital Brasília no início da década de 1960.

Imagens do fotógrafo francês Lucien Clergue em Brasília, nos anos 1960, em exposição em Clermont-de-l'Oise, em 27 de setembro de 2025.
Imagens do fotógrafo francês Lucien Clergue em Brasília, nos anos 1960, em exposição em Clermont-de-l'Oise, em 27 de setembro de 2025. © RFI / Patrícia Moribe

As imagens do nascimento da capital dividem espaço no Parc du Châtellier, em Clermont-de-l'Oise, com as fachadas coloridas de casas térreas registradas por Anna Mariani (1935–2022), que construiu um rico acervo de arquitetura popular de todo o Brasil, reunido na série “Pinturas e Platibandas”. O trabalho de Mariani ganhou projeção internacional após ser exposto na Bienal de São Paulo de 1987. Sua filha, Daniela Moreau, veio apresentar a obra da mãe ao público francês. “Acho importante essa redescoberta. É um trabalho muito relevante, que tem mais de 40 anos”, explica.

Trabalho de Anna Mariani (1935-2022) sobre a arquitetura popular brasileira, em exposição em Clermont-de-l'Oise, em 27 de setembro de 2025.
Trabalho de Anna Mariani (1935-2022) sobre a arquitetura popular brasileira, em exposição em Clermont-de-l'Oise, em 27 de setembro de 2025. © RFI / Patrícia Moribe

Ainda no mesmo espaço verde, Mateus Gomes expõe “Escombros”, que aborda os impactos da exploração de minério de ferro e petróleo em Campos dos Goytacazes, no norte do Rio de Janeiro. “É um trabalho em que retorno com esses agricultores e seus familiares aos lugares onde moravam e de onde foram desapropriados por meio de uma lei válida, mas aplicada de forma equivocada.” Para o artista, era importante dar visibilidade ao descaso do poder público.

Imagem da série "Escombros", de Mateus Gomes, em exposição em Clermont-de-l'Oise, em exposição, em 27 de setembro de 2025.
Imagem da série "Escombros", de Mateus Gomes, em exposição em Clermont-de-l'Oise, em exposição, em 27 de setembro de 2025. © RFI / Patrícia Moribe

“Na época, Sérgio Cabral, então governador do estado do Rio de Janeiro, e Eike Batista, dono do porto, chegaram a ser presos e admitiram que houve corrupção.” Mateus Gomes usou as fotografias como apoio ao seu trabalho de conclusão de curso em Direito. “Existe uma interdisciplinaridade entre a fotografia e várias áreas do conhecimento, como psicologia, sociologia, geografia e direito”, explica, enfatizando a “importância da pesquisa nas ciências sociais para desenvolver um trabalho artístico relevante”.

Japão, Brasil, Bolívia, França

Com uma abordagem distinta, Tatewaki Nio apresenta seu projeto “Neo-Andina” em Beauvais, focalizando a arquitetura de El Alto, na Bolívia, especialmente os edifícios conhecidos como "cholets". Nio explicou que sua intenção, ao documentar essas casas de eventos, majoritariamente construídas pelos Aimaras, é ir além da estética. “Meu interesse não é focar apenas no exotismo, mas trazer o aspecto econômico, fotografar as casas decoradas no meio dessas construções de tijolos vermelhos ao redor.”

O fotógrafo brasileiro Tatewaki Nio expõe a série "Neo-Andina"  em Beauvais, em 27 de setembro de 2025.
O fotógrafo brasileiro Tatewaki Nio expõe a série "Neo-Andina" em Beauvais, em 27 de setembro de 2025. © RFI / Patrícia Moribe

Nio nasceu no Japão, mas se considera um “fotógrafo brasileiro”, pois foi no Brasil — onde vive há quase 27 anos — que passou a exercer a fotografia de forma profissional. Seu projeto “Neo-Andina” recebeu o conceituado prêmio de fotografia do Museu do Quai Branly, em Paris, em 2016. Uma imagem da série foi escolhida para ilustrar a edição deste ano do Photaumnales, em cartazes e panfletos.

A fotógrafa catarinense Andrea Eichenberger também participa das Photaumnales com duas exposições: “Translitorânea”, em Erquery, e “Pequena Enciclopédia Sociopolítica Ilustrada do Brasil Contemporâneo”, em Noyon.

O festival tem direção artística de Fred Boucher, curadoria associada de Emmanuelle Halkin e colaboração da associação Iandé, dedicada ao apoio à fotografia brasileira na Europa.

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