Feito à mão, desejado no mundo: conheça o artesanato por trás do luxo francês
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"Você sabe o que faz os produtos de luxo franceses serem admirados e reconhecidos no mundo inteiro?" Em parte, é porque essa indústria se apoia na originalidade e em um forte trabalho artesanal. Essa fonte inesgotável de criatividade e expertise tornou-se um símbolo de sofisticação e elegância atemporal. Porém, há uma escassez de mão de obra no setor, e as empresas tentam atrair novos interessados. Um evento que vai até domingo (5), no Grand Palais, em Paris, permite ao público conhecer essa verdadeira arte, transmitida de geração em geração.
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Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris.
Em um mundo globalizado, onde a produção em massa ganha cada vez mais espaço, o artesanato continua sendo um pilar essencial da indústria do luxo na França. Aqui, os artesãos que dominam técnicas tradicionais são os guardiões de uma herança em que cada gesto é executado com paixão, em busca da perfeição.
É o que explica Fabien Lauch, que trocou o antigo emprego em comunicação para esculpir cristais: "É preciso ser delicado, minucioso, paciente, mas o resultado final é magnífico. E cada vez que vemos o resultado, nós dizemos: é realmente uma profissão bonita."
Ele utiliza uma lixa especial para fazer os diferentes motivos que decoram os copos da marca St-Louis, que tem 430 anos de história.
Fabien conheceu a profissão por intermédio de um amigo e decidiu seguir a carreira: "Desde pequeno eu sou bastante manual. Então, eu fiz uma reconversão. Antes eu era agente de comunicação e quis fazer alguma coisa com as minhas mãos."

Magalie Yin ensina os pontos de costura usados na marca de sapatos J.M. Weston, fundada em 1891. Para confeccionar um modelo da marca, são necessárias 180 etapas. "Eu adoro trabalhar com as mãos, tocar a textura do couro, fabricar coisas", ela diz em entrevista à RFI. "O que me deixa orgulhosa é ver o resultado final do trabalho."
A famosa porcelana de Limoges toma forma nos moldes manuseados por Antoine Bouby, artesão da empresa Bernardaud, fundada em 1863.
"E agora nós tiramos do molde e aí está. Temos uma flor, você pode ver que o gesso absorveu toda a água da porcelana, o que faz com que possamos manipulá-la", mostra à reportagem. "Nos trabalhos manuais como este, é preciso ter paixão. É algo que só se faz com o coração."
Depois, a peça vai ao forno e é pintada. "Isso que estamos mostrando é uma ínfima ideia de tudo o que podemos fazer com porcelana", diz ele, que não sente que está trabalhando, mas sim desfrutando do que faz. "Quando trabalhamos um longo tempo num projeto — dois meses, seis meses, até um ano ou dois — e vemos a peça sair do forno, é uma sensação incrível."
Antoine conta que o trabalho de artesão chegou a ser "denegrido" há 20 ou 30 anos, como algo destinado a quem não tinha formação acadêmica. Hoje, a situação é outra: "No fim do dia, nós fizemos alguma coisa, é concreto", ele diz. "Há gente que fez grandes estudos e agora retorna aos ateliês."

Um mercado que precisa recrutar
Seja na criação de louças, roupas ou acessórios, o trabalho manual está presente em tudo. No mercado do luxo, os profissionais usam as mãos para criar peças únicas e sob medida. Bordadeiras, chapeleiras... todos trazem um toque de elegância artesanal a cada criação.
Essas tradições são cuidadosamente preservadas para garantir a qualidade excepcional dos produtos acabados.
Ao todo, 32 empresas exibem seus ateliês no Grand Palais, em Paris, assim como 18 escolas de excelência da França nas áreas de Moda, Artesanato e Design.
Sob a cúpula de vidro deste monumento do fim do século XIX, centenas de artesãos demonstram sua destreza diante dos olhos atentos do público.

"O evento Les Deux Mains du Luxe é destinado a provocar a vocação nos jovens e adultos em reconversão, porque faltam 20 mil artesãos na França para os próximos cinco anos", explica Bénédicte Epinay, diretora do Comitê Colbert.
"É importante dizer que estas profissões não são exercidas por falta de opção, mas por escolha", completa a executiva do grupo que reúne 98 marcas de luxo e organiza o evento. "O artesanato de arte é a coluna vertebral da indústria do luxo que o mundo inteiro deseja."
Bénédicte Epinay explica que a média de idade dos artesãos atualmente é de 55 anos. Mas ela alerta: para assumir um posto numa empresa de luxo, são necessários de cinco a dez anos de formação. "O artesanato de arte é a coluna vertebral da indústria do luxo que o mundo inteiro quer. Sem o artesanato, não há indústria do luxo. Então é preciso preservar essas profissões."
"A maioria das Maisons do Comitê Colbert nasceu no começo do século XIX. Já passaram por crises econômicas, guerras e novas invenções. É nossa responsabilidade hoje transmitir novamente essas técnicas aos jovens que chegam ao mercado de trabalho."
A RFI conversou com Lou Stepnewisky, estudante, sobre o interesse dos jovens nesse tipo de profissão. "Infelizmente, eu não acho que o artesanato interesse muito aos jovens hoje em dia", diz. "É muito legal ver eventos como este, em que podemos ver como eles trabalham e visitar tantos ateliês."

Patrimônio francês
Apurar uma fragrância ou fazer um simples laço no frasco de um perfume clássico exige técnica, como explica Didy Duchesme, artesã da perfumaria Guerlain. Ela mostra os detalhes da embalagem do centenário Shalimar: "Queremos mostrar aos jovens que estes trabalhos existem, que podemos lhes transmitir e tentamos passar o gosto e o interesse de exercer essas profissões que fazem parte do patrimônio francês."
Antes, ela trabalhava na hotelaria, mas também decidiu fazer uma reconversão profissional e, oito anos depois, não se arrepende: "Eu aprendi um bom trabalho que me dá muito prazer e eu tento ser fiel aos meus clientes."

As casas de luxo estão divididas em sete áreas temáticas: Louças, Couro, Decoração, Gastronomia e Hospitalidade, Joias e Relógios, Moda, Perfumes e Cosméticos.
"Na Hermès, a maior parte das técnicas é feita à mão", explica Alice, que trabalhava com couro para confeccionar bolsas famosas diante dos olhos curiosos do público. "Não é difícil, nós temos as boas ferramentas e a formação completa, mas tem que amar esse trabalho com couro."
Em parceria com o jornal Le Monde, o evento também oferece uma série de conferências que enriquecem a experiência da visitação com depoimentos, master classes e debates sobre design, o futuro das profissões de luxo, formação e trajetórias de carreira.
Ao preservar essa herança artesanal, a moda francesa continua a inspirar e surpreender o mundo.

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