Galerista expõe artistas brasileiros em Paris para celebrar 100 anos de 'antropofagia'
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"Apenas a antropofagia nos une", lança o escritor Oswald de Andrade na abertura de seu Manifesto Antropofágico que, junto com a Semana de Arte Moderna de 22, revolucionou a própria compreensão do fazer artístico no Brasil do século 20, uma efeméride que não passa desapercebida e que encontra ecos insuspeitos em 2022. O galerista Ricardo Fernandes programou uma série de exposições de artistas brasileiros contemporâneos para celebrar a data em Paris comme il faut, como detalha nessa entrevista à RFI.
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Clique na imagem acima para assistir a entrevista na íntegra
Além do centenário da Semana de 22, Ricardo Fernandes também comemora na ocasião o bicentenário da Independência brasileira, de 1822. "Até hoje estou de acordo com a citação do Oswald (de Andrade, "só a antropopofagia nos une"), mas, além de uma afirmação, acredito que se trata também de uma questão, de uma pergunta que continua a nos ser colocada", diz Fernandes. "A antropofagia é diretamente ligada à questão da arte contemporânea, e à arte de uma forma geral, à contemporaneidade, porque ela diz respeito ao autoquestionamento", afirma o galerista.
No cardápio da série de exposições programada por Fernandes, a abre-alas é a artista premiada Lívia Melzi com o trabalho "Tupi or not Tupi", instalação artística criada após a conclusão do mestrado em Fotografia e Arte Contemporânea na Université Paris 8. Melzi é a vencedora do Grande Prêmio do Salão de Montrouge – e terá seu trabalho exposto no Palais de Tokyo em Paris, em 2022.
A figura central de "Tupi or not Tupi" são os onze mantos tupinambás [dos quais atualmente existem apenas seis] que foram trazidos para a Europa a partir do século XVII e hoje são conservados em cinco países europeus : França, Itália, Dinamarca, Suíça e Bélgica.
"Juntando todas essa ideas e a necessidade de revermos a nossa própria história, num ato antropofágico, a Lívia propõe esse trabalho em torno do manto tupinambá com um resgate dessa diversidade necessária. É um pesquisa gigantesca, um trabalho fotográfico que depassa as artes plásticas e visuais, porque é atravessado por essa pesquisa sobre os mantos", diz o galerista. "A artista trabalha também com o registro histórico, fotográfico. Esses mantos sobreviveram a todo esse processo de invenção da fotografia e de seus processos técnicos. Ela registra vários pontos além do manto em si, além da própria história da fotografia", detalha Fernandes.

Já a exposição "Klaxon-Mania" vai celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna de 22 com uma seleção de artistas contemporâneos brasileiros e suas influências até os dias de hoje, e conta com o apoio da Embaixada brasileira em Paris. Entre os convidados da programação montada pela galeria Ricardo Fernandes, nomes como Lucia Adverse, Eduardo Fonseca, José Diniz e Lita Cerqueira. A exposição "Bois Brésil", do artista José Diniz, com curadoria de Márcia Mello, traz a exploração do pau-brasil enquanto matéria-prima, sua origem e história nas artes plásticas.
"Depois do evento no Palais de Tokyo da Lívia, o fotógrafo José Diniz mostra em "Bois Brésil" uma pesquisa sensacional a respeito do extrato do pau-brasil, trazendo essa diversidade. Através de uma pesquisa no âmbito das artes plásticas ele mostra essa riqueza do pau-brasil, passando pelo processo de revalorização do que é nosso, da nossa terra. Ele passa pelas diversas tonalidades do pau-brasil, diversas possibilidades dentro do universo da arte e da Natureza", afirma Fernandes.
"Nossa programação recapitula as questões históricas relevantes para nós, como ao centenário da Semana e o Bicentenário da Independência. Na 'Klaxon-Mania', trabalharemos com uma seleção de artistas com o apoio da embaixada e do Marché Delphine, onde se encontra a galeria, mostrando as influências sofridas e passadas pela Semana de Arte Moderna de São Paulo até os dias de hoje", relata. "A ideia é mostrar a arte contemporânea hoje, passando pelos processos criativos de diversas mídias", explica. "A exposição da fotógrafa brasileira Lita Cerqueira fecha a programação no fim do ano, tratando da questão da negritude e da raça negra brasileira, fechando um ciclo de reconhecimento histórico", conclui o galerista.
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