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Fotógrafo José Diniz explora o Pau-Brasil em sua primeira mostra individual na França

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A árvore que dá nome ao Brasil é o tema da primeira exposição individual do fotógrafo niteroiense José Diniz na França. “Bois Brésil”, reúne fotografias, vídeos, instalações e livros artesanais que resgatam a história do Pau-Brasil.

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"Ibirapitanga" é uma das obras de José Diniz inspiradas no Pau-Brasil
"Ibirapitanga" é uma das obras de José Diniz inspiradas no Pau-Brasil © Jose Diniz
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Apesar de sua importância histórica, o Paubrasilia Enchinata (nome científico) é pouco conhecido por ter sido praticamente extirpado da Mata Atlântica entre os séculos XVI e XIX, estando até hoje ameaçado de extinção nas florestas brasileiras. Para essa pesquisa, Diniz partiu de exemplares de Pau-Brasil que encontrou na sua vizinhança e passou a estudar o ciclo de crescimento e floração da espécie.  

“Essa é uma pesquisa que eu venho fazendo há mais de 10 anos, em que eu mergulhei no período da pandemia. Reúne várias disciplinas de trabalho como: história, cartografia, botânica. Foi uma investigação usando muitos livros, muita pesquisa e pessoas de referência”, explica Diniz, em entrevista à RFI, em Paris.

“Nas escolas, aprendemos só o básico sobre essa árvore. A cor não é a vermelha que a gente aprendeu. Mas sim as várias tonalidades que são obtidas nas reações do tingimento do tecido”, afirma. “Aqui na Europa, entre os séculos XVI e XIX, chegavam os troncos, que eram reduzidos a pó e depois era feita uma infusão em panelas e que podiam criar novas tonalidades”, acrescenta o fotógrafo.

A exploração do Pau-Brasil foi a primeira atividade econômica exercida pelos portugueses na América durante o século XVI, numa fase conhecida como período pré-colonial, que se estendeu até meados da década de 1530. A exploração da madeira ocorria por meio do escambo com os indígenas.

Para realizar esse projeto, José Diniz fez várias viagens na França, como por exemplo a Rouen, onde aconteceu a chamada “festa brasileira”, em outubro de 1550, que reuniu cerca de 50 indígenas trazidos do Brasil para serem exibidos à corte do rei Henrique II e de sua esposa, Catarina de Médici.

“Essa festa foi promovida pelos comerciantes, pelos exploradores que viviam em Rouen, onde chegavam os navios que traziam o Pau-Brasil, querendo o incentivo do Henrique II para investir nesse negócio. E para isso, fizeram uma grande festa trazendo índios, frutas, plantas e animais”, relata Diniz.

O fotógrafo José Diniz nos estúdios da RFI em Paris.
O fotógrafo José Diniz nos estúdios da RFI em Paris. © RFI

Em seus trabalhos, o fotógrafo retrata tons como púrpura, carmin e alaranjado. Cores que, conforme ele destaca, estavam ligadas ao poder, à nobreza e ao clero; mas também representam o fogo, a paixão e a guerra. Ao abordar imposições culturais, a mostra também aborda o descaso com questões ambientais.

“Estamos trazendo o ciclo do Pau-Brasil para os dias de hoje. É uma metáfora tanto ambiental quanto econômica de tudo o que está acontecendo no Brasil”, observa. “A Mata Atlântica, por exemplo, onde havia o Pau-Brasil, foi reduzida a 7% do original. Estima-se que foram cortadas 70 milhões de árvores da Mata Atlântica e algo parecido está acontecendo na Amazônia”, lamenta.

Modernismo

Outra referência quando se pensa em Pau-Brasil é o manifesto modernista, de Oswald de Andrade, de 1924. “Na verdade, esse trabalho começou numa pesquisa dentro desse tema do manifesto Pau-Brasil e do Manifesto Antropofágico, de Oswald de Andrade”, contextualiza.

“Essa exposição é um recorte do meu projeto, com curadoria da Márcia Melo, que vai até o dia 31 de outubro. Mas tem uma outra exposição coletiva da qual também participo, que será inaugurada no dia 6 de outubro, no mercado Dauphine, que é uma homenagem à Semana de Arte Moderna no Brasil”, completa.

Natural de Niterói, residente no Rio de Janeiro, José Diniz foi incentivado a fazer fotografia aos 10 anos de idade por seu avô, fotógrafo amador e fundador da Sociedade Fluminense de Fotografia. Atualmente, ele trabalha com fotografia analógica e digital, vídeo, gravura e instalação. Porém, é a imagem fotográfica que permanece no centro de sua prática.

“A minha ligação com a fotografia vem do meu avô que foi um dos criadores da sociedade Fluminense de Fotografia e outra pessoa importante foi meu pai, artista plástico e professor de desenho. Pois eu vivia no ateliê”, recorda.

A mostra “Bois Brésil” pode ser vista até o dia 31 de outubro, no número 140, rue des Rosiers, Marché Dauphine (galerie 95), em Saint-Ouen, nos arredores de Paris. 

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