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“Estou em Paris para falar que o cinema brasileiro resistiu”, diz cineasta Marcelo Gomes

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O diretor Marcelo Gomes, um dos expoentes do cinema brasileiro atual, está em Paris para ministrar nesta quinta-feira (2) uma masterclass na Universidade Sorbonne sobre sua carreira e obra. Ele também participa do festival de cinema “Regards Satellites” de Saint-Denis, na periferia parisiense. “É com muita felicidade que eu estou aqui em Paris, principalmente para falar que o cinema brasileiro resistiu a esses quatro anos (do governo Bolsonaro)”, disse o cineasta pernambucano à RFI.

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Marcelo Gomes, cineasta
Marcelo Gomes, cineasta © RFI
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Marcelo Gomes assina longas de sucesso de crítica e de público como “Cinema, Aspirinas e Urubus”, de 2005; “Viajo porque preciso, volto porque te amo”, de 2009, em parceria com Karim Aïnouz; “O Homem das multidões”, de 2013; ou “Joaquim”, de 2017. Seus dois últimos filmes, o documentário “Estou me guardando para quando o carnaval chegar” (2019) e a ficção “Paloma” (2022), integram a programação do Festival “Regards Satellites” e serão exibidos nesta sexta-feira (3).

Antes, Marcelo Gomes fala nesta quinta-feira para os alunos do Centro de Estudos Ibéricos e Latino-Americanos da prestigiosa Universidade Sorbonne, a convite do professor Alberto Silva. “Acho que é um momento muito importante para divulgar o nosso cinema brasileiro, que resistiu apesar desses últimos quatro anos. E fiquei também muito feliz de apresentar essa masterclass num país como a França, que tem uma relação histórica com o cinema tão importante”, comenta.

O tema da masterclass “um percurso cinematográfico em torno do espaço, do tempo e do gênero” poderia ser, segundo ele, um bom resumo de sua obra. “Na verdade, eu faço o cinema de personagens. (...) E esse personagem ocupa um espaço, um tempo e é construído esteticamente a partir de um gênero”, explica o cineasta detalhando que o gênero que desenvolve é “extremamente naturalista, realista, documental, onde eu misturo esses dois elementos”.

Críticas ao capitalismo

Com algumas exceções, o espaço retratado no cinema de Marcelo Gomes é quase sempre o agreste de Pernambuco, território da infância do cineasta, que nasceu no Recife, mas tem família na região. É no agreste pernambucano que fica Toritama, a “cidade do jeans” onde foi filmado o documentário “Estou me guardando para quando o carnaval chegar”. O longa, selecionado para o festival de Saint-Denis, denuncia o capitalismo neoliberal.

 

Na cidade, quase todos os moradores trabalham em condições precárias que lembram “a Inglaterra do século XVIII” fabricando jeans, conta Gomes. O cineasta salienta que “pouco a pouco, foi entendendo que Toritama não tinha nada a ver com o passado. Toritama tinha a ver com o futuro, com essa falácia neoliberal que somos todos autônomos”.

“Paloma”, o segundo longa do diretor que será exibido no “Regards Satellites”, é seu projeto mais recente. O filme, vencedor do Festival do Rio 2022, chegou aos cinemas brasileiros no ano passado e denuncia a violência contra a comunidade LGBTQIA+. O longa, baseado em um fato real, conta a história de uma mulher trans, agricultora, que sonha em se casar na igreja com o companheiro. O diretor ressalta que foi muito importante fazer e lançar o filme nesse momento. “Pela vigésima vez esse ano, o Brasil bateu o recorde de o país que mais se mata pessoas da população LGBT. Isso é terrível!”

Novo filme

Apesar dos recuos e limitações de editais durante o governo Bolsonaro que inibiram a produção cinematográfica brasileira, Marcelo Gomes conseguiu continuar produzindo seus filmes. Ele já prepara seu novo longa, “Relato de um Certo Oriente”, baseado no livro de Milton Hatoum.

“Não vai ser fácil, basta ver o que aconteceu no dia 8 de janeiro. (...) Mas espero que o sol volte a brilhar no Brasil depois desses momentos de trevas que a gente teve. O Brasil sempre foi um país muito hospitaleiro, do riso, da convivência pacífica. E nesses últimos quatro anos a gente viu experiências de ódio, de irritabilidade, de desrespeito, que não tem nada a ver com a nossa essência cultural, que foi um país sempre aberto a várias culturas do mundo inteiro. Eu espero que isso volte. Isso é fundamental.”

Clique na foto principal para assistir à entrevista na íntegra  

 

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