Espetáculo brasileiro pede em Paris que Lula não renove licença de Belo Monte
Publicado em:
O espetáculo “Altamira 2042” está em cartaz no Centro Pompidou de Paris até o próximo domingo (19). A performance polifônica de Gabriela Carneiro da Cunha dá voz ao rio Xingu e ecoa o impacto ambiental da construção da usina de Belo Monte. No final da apresentação em Paris, um pedido para que o presidente Lula não renove a licença de Belo Monte.
One of your browser extensions seems to be blocking the video player from loading. To watch this content, you may need to disable it on this site.

“Altamira 2042”, de Gabriela Carneiro da Cunha, volta à cena parisiense. A primeira apresentação na capital francesa aconteceu em 2021, durante o Festival de Outono. A performace polifônica e imersiva aborda o impacto e as consequências do desastre da construção da usina de Belo monte para o rio Xingu e seus habitantes.
O espetáculo estreou no Brasil em 2019, no mesmo ano em que a usina de Belo Monte foi completamente instalada e inaugurada. De lá para cá, a situação e a devastação da Amazônia, só pioraram, e “Altamira 2042” é cada dia mais atual.

Para esta nova temporada parisiense, Gabriela Carneiro da Cunha conta com a participação de Raimunda Gomes da Silva, ativista ambiental e feminista que vive às margens do Xingu e que participou do processo de criação de “Altamira 2042”. Raimunda interage com o público respondendo a perguntas após cada apresentação. “Eu sempre digo que o Xingu não é um rio só. É um rio cheio de mistério, de espíritos, de vozes e de gente. E no Xingu, todos têm voz e gritam por justiça por conta do seu barramento. Eu sou Xingu, sou a Amazônia. Eu sou aquele rio e aquele rio sou eu”, filosofa.
A primeira vez que a atriz ouviu falar da ativista foi quando leu a reportagem “Vítimas de uma Guerra Amazônica”, da jornalista Eliane Brum, sobre Raimunda e o companheiro dela João. De 2016 a 2019, ela visitou Altamira para conhecer, trabalhar e ouvir as populações ribeirinhas e os povos indígenas de lá e para recolher “as vozes que as pessoas vão ouvir nesse trabalho”.
Raimunda conta que essa história começou com a expulsão das pessoas, que não tinham “o direito a dizer muita coisa ou talvez de dizer nada”, de suas terras para a construção de Belo Monte. Ela diz que a causa foi abraçada por uma rede de pessoas, como Eliane Brum e Gabriela Carneiro da Cunha. ”Eles me abraçaram, eu abracei eles e isso se tornou para mim uma grande experiência e um aprendizado.”

Rompendo barragens
A peça já passou por várias outras cidades da França, da Europa e de outros países. O espetáculo, impactante e catártico, conta com a participação e pede a interação do público que tem aceitado o convite.
“Tem uma proposta de uma experiência e no final é feito esse convite para que essa barragem seja aberta junto (com o público). Eu acho que abrir uma barragem, abrir uma fenda numa barragem não é uma tarefa para uma pessoa. Ninguém vai fazer isso sozinho. Nem mesmo um povo consegue fazer isso sozinho. Não é só o povo do Xingu que consegue fazer sozinho. É uma confluência”, afirma Gabriela Carneiro da Cunha. Ela espera que esse convite também sirva “para que o público europeu se engaje no Xingu ou nos seus próprios Xingus, porque também os rios europeus, os rios do mundo estão pedindo socorro”.
A atriz ressalta que o Brasil vive um momento “super importante. O governo federal, o novo presidente Lula, tem a possibilidade de não renovar a licença da barragem. A licença está expirada. Eu e todas as pessoas engajadas nessa luta estamos aproveitando esse momento para dizer que “agora é um momento para firmar esse compromisso de campanha com a Amazônia”. Por isso, no final da apresentação em Paris, ela faz um pedido para que o presidente Lula não renove a licença de Belo Monte.

“O futuro do Xingu já está escrito”
Para ela, além de ser um gesto emblemático, não renovar a licença de Belo Monte seria “pragmático e muito concreto”. Gabriela Carneiro da Cunha lembra que “a barragem de Belo Monte está impedindo que os ecossistemas da Volta Grande do Xingu se reproduzam. Existem espécies que só existem na Volta Grande do Xingu. É fundamental que a gente olhe para isso, que a meu ver foi um grande erro dos governos Lula e Dilma, reveja e invente outra coisa (de geração de energia). É possível!”
Gabriela, Raimunda e todas as vozes de “Altamira 2042” apostam que a “barragem não é um fato consumado, ela vai ser aberta e o Xingu vai voltar a correr livre”. O nome da peça remete ao futuro, mas com sua sabedoria popular, Raimunda diz que o futuro do Xingu já foi escrito.

"Andando nas ruas de Paris, eu vi uma frase que diz assim ‘o futuro ainda não foi escrito. Achei lindo, mas o nosso futuro já foi escrito, só que ninguém ainda leu. Belo Monte não é um sonho, é um pesadelo. Na minha vida, ele foi um pesadelo e agora ele vai ser um sonho que é derrubar Belo Monte, abrir e libertar o rio. Eu quero que o rio seja livre como sempre foi e todas aquelas vidas, humanas e não-humanas, voltem a ser o que eram antes. Esse é um sonho e eu quero deixar o pesadelo para trás.”
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro