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Premiada peça brasileira “Tom na Fazenda” faz sucesso em Paris

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A premiada versão brasileira da peça de teatro “Tom na Fazenda” está sendo apresentada pela primeira vez em Paris. A montagem estreou em 9 de março no teatro Paris-Villette e fica em cartaz até 1° de abril. Em cena quatro atores, dois homens e duas mulheres, e um palco sem cenário, mas coberto de lama. A encenação em português não representa uma barreira para o público francês, que aplaude com entusiasmo.

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A peça "Tom na Fazenda" está em cartaz até 1° de abril de 2023 no Teatro Paris-Villette.
A peça "Tom na Fazenda" está em cartaz até 1° de abril de 2023 no Teatro Paris-Villette. © Victor Pollak
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A tradução do texto do dramaturgo canadense Michel Marc Bouchard é assinada por Armando Babaioff, que idealizou a montagem, também é ator e vive Tom no palco. Ele atua ao lado de Gustavo Rodrigues, Soraya Ravenle e Camila Nahry. A direção é de Rodrigo Portella.

Essa não é a primeira turnê de “Tom na Fazenda” no exterior.  A peça já foi apresentada com sucesso no Quebec, província francófona do Canadá, onde foi inclusive premiada, e no importante Festival de Teatro de Avignon, no sul da França. Nessa primeira temporada em Paris, a língua não é uma barreira. O público lota a sala e as críticas são positivas. O jornal Le Monde diz que a versão brasileira “é um acerto de contas familiar violento como um soco” que soube “transformar a brutalidade em um gesto estético”.

Rodrigo Portella, diretor de "Tom na Fazenda".
Rodrigo Portella, diretor de "Tom na Fazenda". © RFI

“É a realização de um sonho”, diz o diretor Rodrigo Portella sobre a temporada parisiense. “É uma delícia estar aqui em Paris. É um público que a gente sabe que é muito exigente, mas que também gosta muito de teatro. Essa primeira semana foi incrível, o público aplaudindo de pé, com muito vigor, com muito entusiasmo”, conta.

Ele acha essa recepção surpreendente e emocionante. “A plateia acompanha as minúcias do espetáculo o tempo todo. Está com a gente o tempo todo, apesar da questão da língua.”

Semelhanças com a realidade brasileira

O resumo de “Tom na Fazenda”, escrito originalmente em francês, é o mesmo em qualquer língua. Um jovem publicitário viaja a uma fazenda para participar do enterro do namorado, morto em um acidente. Ao chegar, descobre que a mãe do morto ignora completamente a homossexualidade do filho e a existência dele.

Tom é alvo da agressividade e do preconceito do irmão mais velho do namorado, que o envolve em uma trama de mentiras. Mas a montagem brasileira parece mais violenta que as outras versões. Essa impressão que foi confirmada “pelo próprio autor (Michel Marc Bouchard) da peça”, informa Rodrigo Portella.

O diretor diz que reforçar a violência não foi uma “intenção”, mas que essa leitura não podia ser diferente. “A gente vive num país que é muito violento. (...) A vida no Brasil parece valer menos do que em outros países. O Brasil hoje ainda é o país que mais mata pessoas LGBTQ+”, contextualiza.

No processo de criação, ele percebeu que a abordagem da peça “era muito mais do que homofobia. A gente estava tratando de uma série de questões ligadas aos paradigmas de dominação, que estão ligados aos fundamentos do patriarcado”.

Cenário de lama

Um outro elemento da montagem, que remete muito ao Brasil, é a lama vermelha, como no interior do Brasil, que é o único cenário da peça. Os atores literalmente deslizam no palco, perdem o equilíbrio, caem, e aos poucos vão se sujando, cobrindo de lama.

O diretor lembra que quando fez a sugestão dessa cenografia o elenco ficou “um pouco assustado porque é realmente um elemento que desestabiliza muito eles”. O Brasil acabava de viver a tragédia do rompimento da barragem de Mariana, seguida pela tragédia de Brumadinho. “Claro que a peça não fala sobre isso, não está relacionada diretamente a isso, mas ela fala um pouco desse desmoronamento que a gente tem vivido.”

“Tom na Fazenda” está em cartaz há seis anos, somando mais de 250 representações, 25 prêmios e um público de mais de 45 mil pessoas, um sucesso raro no contexto atual do teatro brasileiro. A peça chegou a ser desprogramada no governo Bolsonaro de uma temporada em Belo Horizonte.

Retomada do setor cultural

Otimista, Rodrigo Portella espera que, com a mudança de governo e o retorno do Ministério da Cultura, haja uma retomada do setor cultural, não só do processo de criação, mas também de circulação dos trabalhos brasileiros”, não só no Brasil, mas no mundo.

Essa temporada parisiense pode abrir oportunidades de turnês em outros países e o diretor torce para que “Tom na Fazenda” se transforme em uma espécie de “embaixador” do teatro brasileiro. “Isso é que é um barato: tentar abrir também possibilidade para que outros espetáculos brasileiros venham para a Europa e não só para a Europa, mas que possam circular pelo mundo também!”

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