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Katia Adler festeja 25 anos de resistência com Festival de Cinema Brasileiro de Paris

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Uma frase concisa resume a história de sucesso do Festival de Cinema de Paris, fundado no final dos anos 1990 por Katia Adler: um quarto de século resistindo e promovendo a produção cinematográfica brasileira na França. O evento, organizado pela Associação Jangada, começa nesta terça-feira (4).

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Katia Adler, diretora e curadora do Festival de Cinema Brasileiro de Paris
Katia Adler, diretora e curadora do Festival de Cinema Brasileiro de Paris © RFI
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A 25ª edição do Festival de Cinema Brasileiro de Paris acontece até o dia 11 de abril, no cinema Arlequin, no centro da capital. Para festejar a data redonda, Katia Adler, que também é diretora e curadora do evento, bolou uma programação especial, festiva. A música é o tema dessa edição 2023, que tem como convidado de honra Nelson Motta. A mesma temática animou o primeiro Festival de Cinema Brasileiro de Paris em 1999.

Katia Adler traça um paralelo entre os dois momentos. “Quando comecei o festival, não tinha filmes brasileiros, porque Collor destruiu a Embrafilme. Aí, comecei a fazer um festival temático e começou com a música. Coincide que esse ano volta a música porque a gente teve um governo fascista nesses últimos anos que também destruiu o Ministério da Cultura”, compara.

A programação este ano é um pouco menor do que em anos anteriores, mas “a gente tem uma programação muito boa”, garante a curadora que assume suas escolhas e diz ser um "privilégio" fazer o que gosta. Ao todo, ela selecionou 26 filmes, entre documentários e ficção.

Seis longas, produzidos entre 2021 e 2023 e com temáticas variadas, estão na competição oficial: “Vermelho Monet”, de Halder Gomes; “Noites Alienígenas”, de Sérgio de Carvalho; “Paloma”, de Marcelo Gomes; “Marinheiro das Montanhas”, de Karim Aïnouz; “A mãe”, de Cristiano Burlan; e “Regra 34”, de Julia Murat.

“A gente vai comemorar (o aniversário do Festival), o cinema brasileiro e, ao mesmo tempo, um novo governo democrático”, diz Katia Adler. Uma das características principais do evento são os debates que acontecem a cada projeção, colocando em contato com o público integrantes das equipes de produção ou especialistas. Nesses 25 anos, mais de 500 convidados participaram. “Encontro é a palavrinha chave desse festival”, salienta.

“O cinema não vai acabar”

A curadora, que veio a Paris nos anos 1980 estudar cinema, lembra que criou o festival porque “estava cansada de ouvir falar mal do Brasil, de quantos mortos tinham, etc..., e queria defender a cultura brasileira”.

Nesse um quarto de século, o evento viveu altos e baixos, mas nunca deixou de ser realizado. Nem a pandemia de Covid interrompeu a programação. Em 2020, o festival foi online e aconteceu na plataforma Jangada VoD, a única dedicada exclusivamente ao cinema brasileiro na França. O público, que sumiu das salas de cinema com a pandemia, está voltando. No ano passado, quase quatro mil pessoas assistiram aos filmes projetados durante uma semana na sala Arlequin. “Eu acredito muito no cinema e isso não vai acabar”, afirma.

O festival viu passar cinco presidentes e um golpe de Estado, e refletiu da retomada do cinema brasileiro nos anos 1990 à multiplicação e regionalização das produções nos anos 2000. Apesar dos anos de estrada e da experiência, Katia Adler confessa que “todos os anos teme pelo futuro do festival”. Segundo ela, o mais difícil é o financiamento, encontrar patrocinadores constantes. Este ano por exemplo, não teve quase nenhuma ajuda e a realização da edição 2023 “foi uma das mais difíceis”.

“É uma luta, é sempre um recomeço e eu sempre tenho medo, mas esse medo me faz avançar. Esse medo não me paralisa”, confessa a curadora, que depois de Paris, fundou mais dois festivais para promover o cinema brasileiro no exterior: Toronto e Montreal, além da Jangada VoD. Katia Adler também é responsável pela “Festa do Cinema Francês de Portugal”. “Ter permanecido” é o seu principal orgulho.

Embaixadores da cultura brasileira na França

Música e cinema sempre andaram juntos. Neste 25° Festival de Paris, esses tradicionais embaixadores da cultura brasileira no exterior, vão ganhar um aliado de peso, o futebol. Entre os convidados, está o ex-jogador Raí, fundador da Associação Gol de Letra, que também completa 25 anos, e tem uma atuação importante na relação França-Brasil. Raí e Katia Adler vão apresentar o projeto “Brésil sur Seine”, unindo cultura, esporte e trabalho social, para os Jogos Olímpicos de 2024.

A diretora espera que o Festival de Paris ajude, como já fez no passado, a estreitar os laços entre a França e o Brasil que foram abalados durante o governo Bolsonaro. Lembrando que “a destruição é uma coisa muito rápida”, ela ressalta que o momento é de reconstrução.

“Eu acho que a gente tem que reconstruir, tem que se juntar, se unir e mostrar novamente como era a minha ideia lá atrás. O Brasil é um país enorme, com uma cultura riquíssima e um povo muito legal também. (...) Pouco a pouco, a democracia e o respeito vão voltar.”

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