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Anna Suav traz a força do hip-hop amazônida para festival em Marselha

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No Dia da Amazônia, celebrado neste 5 de setembro, a rapper manauara Anna Suav faz sua estreia internacional no palco do Festival Trópicos de Verão, em Marselha, no sul da França. A artista, que nasceu em Manaus e vive em Belém, é uma das vozes mais potentes da cena afro-amazônida e leva ao palco europeu uma estética sonora e visual que denuncia injustiças, celebra identidades periféricas e transforma narrativas sobre a Amazônia, revelando sua complexidade urbana, cultural e ancestral.

A rapper manauara Anna Suav.
A rapper manauara Anna Suav. © Demi Brasil
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“É a primeira vez que saio do Brasil, e logo para um país que sempre sonhei conhecer”, conta Anna, emocionada. Estrear justamente no Dia da Amazônia, diz ela, tem um simbolismo muito forte. “Acho que cada vez mais o mundo está entendendo o quanto a gente precisa comunicar e denunciar o que acontece na Amazônia. Usar meu trabalho, minha arte e o hip-hop, que é também um movimento ideológico, para ocupar esse espaço é uma responsabilidade enorme, mas também um propósito do meu trabalho.”

Com letras que abordam racismo, machismo, xenofobia e a realidade das periferias amazônicas, Anna Suav vê no rap uma ferramenta de transformação. “O DNA do hip-hop é denunciativo. É sobre dar voz às pessoas que vivem à margem, não por serem marginais, mas por serem excluídas. Meu compromisso com o movimento é iluminar essas questões e provocar micro revoluções.”

A relação com o hip-hop começou cedo, ainda na infância, mesmo sem saber nomear o estilo. “Eu achava incrível as batidas, o flow. Depois, na juventude, fui às batalhas de rima e entendi que aquilo era rap. Fez todo sentido, porque reunia todos os elementos dos quais faço parte: juventude, negritude, periferia. Foi assim que me tornei rapper.”

Ode à Amazônia urbana

Recentemente, Anna lançou o single “Barril 092”, que marca uma nova fase em sua carreira. A faixa é uma ode à Amazônia urbana, conectando Manaus e Belém por meio de referências culturais como o Boi Bumbá de Parintins, o Forró de Galeroso e símbolos da gastronomia local, como o dindim, geladinho que em alguns lugares é chamado de sacolé e em outros de chope (ou chopp). “Queríamos mostrar que as periferias têm linguagem própria, sotaque, vestimenta. E fazer isso sem estereótipos, dentro da cultura hip-hop.”

Enquanto mulher preta, amazônida e LGBTQIA+, Anna Suav encontra no Norte do Brasil sua maior fonte de inspiração.
Enquanto mulher preta, amazônida e LGBTQIA+, Anna Suav encontra no Norte do Brasil sua maior fonte de inspiração. © Bruno Belchior

Enquanto mulher preta, amazônida e LGBTQIA+, Anna encontra no território sua maior fonte de inspiração. Sua arte nasce da vivência e da urgência de transformar realidades. “Essa música é sobre não esperar a validação de ninguém para existir, para sonhar alto ou pra conquistar o que é meu. É sobre ambição sim, mas uma ambição que nasce da vontade de mudar minha realidade e abrir caminho para quem vem junto”, afirma a artista, que também assina a composição e a direção criativa do clipe.

O videoclipe de "Barril 092" traz uma estética pop vibrante, influenciada por divas da disco music e pela formação de Anna como bailarina. “Meu pai me alfabetizou musicalmente com cultura pop. Isso atravessa meu trabalho, minha estética, minha forma de comunicar.”

Reconhecimento 

Reconhecida pela Academia Latina da Gravação como uma das dez rappers femininas que estão dando nome ao hip-hop brasileiro, Anna celebra o destaque da região Norte. “Esse reconhecimento carimba nosso percurso. Ainda passamos por esse aspecto da xenofobia dentro do Brasil, por uma região ainda considerada muito isolada, muito distanciada do restante do Brasil. Quando é o Brasil que está distanciado da gente. É importante que a diversidade brasileira seja contemplada, que se lembrem da nossa intelectualidade amazônida, da nossa inteligência ancestral.”

Após o show em Marselha, Anna segue para Paris, onde se apresenta no dia 12 de setembro. Depois, retorna à cidade para uma roda de conversa sobre produção artística e audiovisual na Amazônia. A turnê se encerra em Portugal, com apresentações na cidade do Porto nos dias 20 e 21.

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