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Covid-19 gerou aumento de casos de AVC, que também atingem jovens, diz cirurgião brasileiro

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O cirurgião vascular Igor Sincos, chefe de equipe do Grupo Endovascular de São Paulo, conversou com a RFI sobre a propensão aos acidentes vasculares cerebrais, que cresceram com a epidemia de Covid-19. Todos os anos, os AVCs são responsáveis por 15 milhões de mortes no mundo.

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Todos os anos, 15 milhôes de pessoas são vítimas de um AVC no mundo.
Todos os anos, 15 milhôes de pessoas são vítimas de um AVC no mundo. © shutterstock_Labutin.Art
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Taíssa Stivanin, da RFI

Os quase três anos de epidemia de Covid-19 provocaram um aumento do número de casos de AVC, explicou o cirurgião vascular à RFI. Muitos estudos mostraram, desde o aparecimento do SARS-CoV-2, que o vírus favorece a formação de coágulos. 

Uma pesquisa recente, publicada em agosto na revista Nature, mostrou, por exemplo, que o risco de acidente cardiovascular pode ser até 55% maior um ano após contrair a doença – independentemente de ser uma forma grave ou não.

“Com a vacinação, isso diminuiu muito, mas antes, nós identificávamos casos bem graves de Covid com trombose. Não só na parte venosa, mas também com pacientes grávidas, com trombose na placenta ou intracerebral. Identificamos muitos AVCs isquêmicos relacionados à Covid”, diz Igor Sincos.

No acidente vascular isquêmico, há falta de sangue ou oxigênio. Isso acontece quando um vaso ou artéria cerebral é obstruído, impedindo a circulação. “A partir de dez minutos de isquemia, o cérebro humano já começa a sofrer muito. Depois de algumas horas, isso pode se tornar irreversível”, observa. Segundo ele, a rapidez no atendimento determinará, proporcionalmente, a gravidade das sequelas.

Além do acidente hemorrágico isquêmico, existe o hemorrágico, explica o especialista brasileiro, que pode atingir mais jovens. “É o acidente vascular com sangramento, depois do rompimento de um vaso, por exemplo, por trauma ou um aneurisma. É uma dilatação que sangra dentro da cabeça. Trata-se de uma situação grave e urgente e muitas vezes necessita de cirurgia e craniotomia: abrimos o crânio para drenar esse excesso de coágulo e estancar o sangramento”, explica.

Segundo o especialista, qualquer vaso do corpo humano pode dilatar, provocando um aneurisma. No cérebro, esse quadro é relativamente comum em pessoas jovens. “A faixa etária entre 30 e 50 anos, é propícia para esse diagnóstico. Muitas vezes o paciente tem problema de fala, movimento, corre no Pronto Socorro e consegue resolver o problema a tempo”, exemplifica.

Dá para prevenir?

Como o AVC hemorrágico atinge mais pessoas jovens e sem fatores de risco, a dificuldade, explica o cirurgião, é que não tem como preveni-lo. “É uma situação que acomete jovens e está relacionada à genética, e não a uma patologia específica”, diz.

“Quando você tem um aneurisma intracerebral, muitas vezes não há correlação com outros aneurismas do corpo.  Às vezes uma pessoa jovem, até um adolescente tem, e nunca vai ficar sabendo”, diz. Ele frisa que essa é uma situação rara.

No caso do isquêmico, que equivale a uma trombose, hábitos como tabagismo, e doenças como hipertensão ou diabetes são determinantes. Elas podem provocar um envelhecimento precoce do vaso, a arteriosclerose, responsável por alguns desses acidentes vasculares. A trombose pode também ser decorrente de um problema circulatório, formando coágulos dentro das veias ou artérias.

“Algumas mulheres também têm uma sensibilidade maior à utilização de anticoncepcionais orais. É muito raro, mas existe uma relação entre anticoncepcionais e a formação de coágulos, que depende de cada indivíduo. Mas toda mulher que teve AVC recomendamos que evite a pílula”, diz.

Igor Sincos também lembra que outras patologias aumentam a coagulação do sangue, como a Trombofilia, de origem genética e decorrente da deficiência da produção da chamada proteína C, um dos chamados fatores de coagulação.

Sintomas

Em qualquer situação, o cirurgião lembra que é preciso ficar atento aos sintomas: perda visual, cefaleia muito intensa ou um déficit motor intermitente, em um lado do corpo. Eles podem indicar o início de um AIT (Acidente Isquêmico Transitório), que muitas vezes precede um AVC, mas, se tratado a tempo, pode evitá-lo.

O cirurgião vascular destaca que o modo de vida é essencial para prevenir o AVC. “Se você consegue manter uma alimentação saudável, com alimentos menos inflamatórios, com verduras, frutas ou carnes grelhadas, evitando o excesso do trigo (glúten) e fazer um mínimo de atividade física, já diminui em 30% a chance de ter um AVC ou um infarto. O que recomendamos são 150 minutos de caminhada por semana ou 100 minutos em caso de atividade mais intensa, como natação. Além de dois dias de exercício de força. ” A associação da dieta com essa rotina, lembra, aumenta em pelo menos dez anos a expectativa de vida.

Associar os cuidados físicos à saúde mental, diminuindo o stress, é fundamental a longo prazo, ressalta.“Você terá uma proteção não só contra eventos vasculares, como tromboses ou aneurismas, mas também estará controlando seu DNA, para evitar o envelhecimento precoce das suas células e uma propensão maior ao câncer. O estilo de vida, a gente sabe hoje, é o ponto mais importante do cuidado dos indivíduos que a gente tem que focar e melhorar”, resume.

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