Maqueiros de hospital francês criam dispositivo inédito para transporte de pacientes com câncer
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Invenção que fixa suportes de soro a cadeiras de rodas gera ganho de tempo, conforto e segurança nos deslocamentos dos pacientes atendidos no instituto francês Gustave Roussy, situado em Villejuif, nos arredores de Paris.
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Taíssa Stivanin, da RFI em Paris
A equipe de maqueiros do hospital francês realiza diariamente cerca de 470 deslocamentos de pacientes com câncer. O transporte de macas e cadeiras de rodas entre quartos, blocos operatórios e salas de exames pontua a rotina do instituto, um dos maiores centros de combate à doença do mundo.
O trabalho dos maqueiros é essencial para garantir que os tratamentos e operações sejam feitos a tempo e em boas condições. Um dos maiores desafios consiste em transferir os pacientes da maca para a cadeira de rodas com conforto e segurança. Os deslocamentos geram riscos, incluindo quedas ou demora na transferência de infusões intravenosas, que podem causar dor.
Para amenizar essas dificuldades, os técnicos do instituto francês, que recebe cerca de 55 mil pacientes por ano, criaram um dispositivo em parceria com os maqueiros que se adapta a diferentes tipos de suporte de soro e cadeiras de rodas, graças a um grampo de fixação. Essa solução simples e de baixo custo garante que o manuseio das bolsas de soro e das infusões seja mais seguro.
A equipe de 55 maqueiros do instituto francês é dirigida por Jean-Marie Nebbak. A invenção, diz, melhorou o cotidiano dos pacientes, mas também dos profissionais, que temem menos incidentes. “Essa é uma ideia que os maqueiros já tinham em mente faz tempo", explica Nebbak. "Eles sempre falavam dessas dificuldades durante nossas reuniões, e eu mesmo vivi essas situações no dia a dia", recorda.
"A transferência das bolsas de soro, das seringas e das infusões não é assim tão simples. Foi então que, conversando com os técnicos, pensamos na possibilidade de criar um sistema que pudesse fixar o suporte de soro do paciente durante o transporte”, frisa.
Na época, não havia um produto similar no mercado, o que levou os técnicos de diferentes áreas do instituto a se mobilizarem e propor diferentes soluções viáveis do ponto de vista financeiro e operacional. O projeto foi então oficialmente criado em 2016 e o primeiro protótipo apareceu em 2019.
A adoção do dispositivo definitivo só aconteceu após a consulta de diversos setores no hospital e da realização dos primeiros deslocamentos para testar a invenção e eventuais dificuldades, como o uso do elevador do hospital, por exemplo.

"Os pacientes também ficaram satisfeitos, já que 100% deles afirmaram que se sentem mais autônomos. Por exemplo: se a família vem visitá-lo no hospital e deseja acompanhá-lo até a cafeteria ou à livraria, e o paciente estiver com uma infusão intravenosa, para poder sair do quarto será necessário aguardar uma enfermeira e pedir a ela que transfira o suporte do soro e as infusões da cama para a cadeira de rodas", descreve.
"Com o nosso sistema, basta fixar o suporte diretamente na cadeira e sair por aí!", comemora Jean-Marie Nebbak, lembrando que 'empresta' diariamente cadeiras que estão adaptadas ao novo sistema para facilitar o cotidiano dos pacientes.

A invenção, que foi patenteada, agora será produzida em escala industrial após a conclusão de uma parceria com a empresa francesa Acime, que fabrica móveis para hospitais e os exporta para mais de 40 países. A patente inclui a adaptação do mecanismo às macas, cadeiras de rodas e carrinhos para bebês ou crianças. Segundo Jean-Nebbak, adaptar o mecanismo à demanda da ala pediátrica do hospital está na lista de prioridades da equipe.
"Evitamos transferir as infusões"
A maqueira Yamina Rekkas, que trabalha no hospital desde 2018, diz que a utilização do grampo mudou seu cotidiano. Ela trabalha na regulação do transporte sanitário do instituto e participou, "com orgulho", frisa, dos testes com o dispositivo.
“Toda vez que acompanhamos um paciente, e que temos muitas infusões, é um pesadelo para os maqueiros. Estamos o tempo todo estressados, temos que fazer tudo muito delicadamente, prestando atenção para não retirar as infusões. Isso estressa a gente e o paciente. O dispositivo ajuda a ganhar tempo, porque evita deslocar tudo, como era necessário antes”, reitera.
Um estudo estatístico realizado pelo hospital mostrou que, como os trajetos são mais curtos, o maqueiro estará, desta forma, disponível mais rapidamente para outros deslocamentos. Os pacientes também sentem menos dor, já que não é preciso manusear as infusões. Há ainda o tempo ganho na operação, que é precioso, lembra Yamina. “Basta colocar o grampo de fixação, acoplar o suporte de soro e pronto. Todo mundo fica satisfeito: nós, os pacientes e as enfermeiras.”
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