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Revista francesa destaca avanço do câncer em pessoas jovens e especialista aponta causas ambientais

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Em meio ao aumento dos casos de câncer entre menores de 40 anos, a revista Nouvel Obs desta semana traz como matéria de capa a história do velejador francês Charlie Dalin, vencedor da competição de vela em solitário ao redor do mundo Vendée Globe, que revelou, em um livro, que estava em tratamento contra um câncer de intestino.

Imagem de mamografia feita no Instituto Curie, em Paris, onde pesquisadores e médicos trabalham para combater o câncer de mama, o tipo mais comum no mundo.
Imagem de mamografia feita no Instituto Curie, em Paris, onde pesquisadores e médicos trabalham para combater o câncer de mama, o tipo mais comum no mundo. AFP - JOEL SAGET
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Aos 40 anos, em fevereiro de 2025, Dalin venceu a competição conhecida como o “Everest dos mares”, devido à sua dificuldade, estabelecendo um recorde de 64 dias, 19 horas, 22 minutos e 49 segundos. Na época, “todos ignoravam que a façanha era ainda mais impressionante”, escreve a Nouvel Obs. “Porque, ao mesmo tempo em que enfrentava tempestades e depressões austrais no fim do mundo, ele lutava contra um câncer.”

Durante a Vendée Globe, Dalin realizava tratamento imunoterápico contra um tumor gastrointestinal raro. Com a publicação de seu livro “La force du destin” (A força do destino, em tradução livre), o navegador pretende mudar o olhar do público sobre a doença.

O francês Charlie Dalin vence a maior regata solo do mundo com tempo recorde.
O francês Charlie Dalin vence a maior regata solo do mundo com tempo recorde. AFP - LOIC VENANCE

A revista também traz uma entrevista com Elie Rassy, médico responsável pelo programa de pesquisa do hospital de referência no tratamento do câncer na França, Gustave Roussy. Ele estuda as causas que favorecem o aparecimento da doença em pessoas na faixa dos 30 anos.

O programa tem ainda o objetivo de desenvolver estratégias de prevenção e tratamentos personalizados. Isso porque, nessa faixa etária, como explica o especialista, os cânceres tendem a ser mais agressivos e menos sensíveis à medicação.

O contexto de vida também é diferente: trata-se de “um momento em que construímos uma carreira, um percurso acadêmico ou pensamos em formar uma família”, diz Rassy. Além disso, o câncer nessa etapa costuma ser diagnosticado, na maioria dos casos, em estágio avançado, já que não há exames obrigatórios nessa idade — com exceção do de colo do útero.

O British Medical Journal, citado pela Nouvel Obs, aponta um aumento de 79,1% no número de casos entre pessoas com menos de 50 anos, bem como de 27,7% nas mortes. O meio-campista do Bahia Éverton Ribeiro, que revelou nesta semana ter sido diagnosticado com câncer de tireoide, é um exemplo recente.

Causas ambientais

Rassy observa que nossos hábitos mudaram muito nos últimos 40 anos. “As hipóteses [para explicar o aumento dos casos] apontam para modificações no expossoma — o conjunto de fatores ambientais aos quais uma pessoa é exposta ao longo da vida: o ar que respira, os alimentos que consome, os produtos químicos, os micróbios, o estresse”, destaca.

Entre os jovens adultos — como são chamados os pacientes entre 30 e 40 anos —, os cânceres mais comuns são os de mama, tireoide, pulmão, trato digestivo e rins.

Embora muitos avanços tenham sido feitos nos tratamentos, ainda há muito a ser aprimorado para que deixem menos sequelas nos pacientes.

A pesquisa desenvolvida no hospital Gustave Roussy também investiga os poluentes aos quais os pacientes foram expostos — como microplásticos, substâncias químicas e até metais pesados.

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