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França: livro revela custo bilionário de 'presentes' de Macron para os ricos em oito anos de poder

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€ 270 bilhões de apoio às empresas, sem contrapartida, e subsídios fiscais para os mais ricos: este é o valor total dos “presentes" do presidente Emmanuel Macron à elite econômica do país, conforme revelações de um livro de investigação publicado esta semana na França.

Presidente francês, Emmanuel Macron, conversa com CEO do grupo LVMH, Bernard Arnault, maior fortuna da França. Foto: 21/09/2014 2021
Presidente francês, Emmanuel Macron, conversa com CEO do grupo LVMH, Bernard Arnault, maior fortuna da França. Foto: 21/09/2014 2021 © Yoan Valat / Pool/AFP/Archivos
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Os autores, dois jornalistas da revista Le Nouvel Obs, afirmam que a política “pró-business” do presidente desestabilizou o modelo social e pesou sobre a dívida pública francesa, estopim de mais um capítulo da crise política no país.

“O Grande Desvio – como milionários e multinacionais captam o dinheiro do Estado” é o título da obra (em tradução livre do original em francês). Baseados em relatórios de instituições como Tribunal de Contas e a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), os autores, Matthieu Aron e Caroline Michel-Aguirre, analisam em detalhes “o buraco negro” da política de subvenções e subsídios fiscais que beneficiaram as grandes empresas e fortunas nos últimos oito anos, desde que Macron assumiu o poder.

Redução dos impostos das sociedades e da produção, diminuição dos encargos sociais, teto da contribuição sobre a renda do capital e substituição do Imposto sobre a Fortuna por uma taxa focada apenas na "fortuna imobiliária” são algumas das medidas que favoreceram os ricos nos últimos anos – e sem que houvesse uma avaliação eficaz sobre os benefícios dessa política para a economia francesa, denuncia a obra.

“O sistema de ajuda incondicional enriqueceu multinacionais que continuam a deslocar as linhas de produção para o exterior e entregam cada vez mais dividendos para seus acionários”, diz o livro, segundo resenha publicada na revista L’Obs. Entre os beneficiados, estão gigantes como Michelin e o império do luxo LVMH.

Retorno da política pró-business é questionado

Neste período, o desemprego baixou a 7%, mas a França não atingiu o pleno emprego, como prometeu Macron. As exonerações resultaram em € 80 bilhões a menos de arrecadação por ano, quase o dobro do valor previsto no plano de economias apresentado pelo ex-primeiro-ministro centrista François Bayrou, que acaba de deixar o cargo.

Em paralelo, a edição desta semana da revista Le Point calcula quanto custa a instabilidade política na França, que acaba de conhecer o seu quarto chefe de governo em pouco mais de um ano. Segundo a publicação, a crise gerada pela dissolução da Assembleia Nacional por Macron, em junho de 2024, já gerou um prejuízo de € 12 bilhões para o país.

Os juros para títulos do Estado francês agora estão no mesmo patamar da Itália, e a insegurança fez os investimentos desacelerarem, o consumo cair e o nível e a poupança subir. Resultado: a crise fez o país perder 0,1 ponto de PIB em 2024 e 0,3 neste ano, conforme os cálculos do Observatório Francês de Conjuntura Econômica (OFCE), citados pela Le Point.

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