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Visita de Blinken ao México antecipa mudanças nas políticas migratórias dos EUA

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Altos funcionários da Casa Branca visitam o México nesta quarta-feira (27) para se reunir com o presidente, Andrés Manuel López Obrador, e conversar com as autoridades de imigração. Fazem parte da delegação, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, o secretário do Departamento de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, e a conselheira de Segurança Interna da Casa Branca, Liz Sherwood Randall.

Imigrantes após cruzar o Rio Grande, em Eagle Pass.
Imigrantes após cruzar o Rio Grande, em Eagle Pass. © Luciana Rosa
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Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York

Um dos principais motivos da visita é encontrar uma solução conjunta para a recente onda migratória. De acordo com agentes federais, cerca de 2,5 milhões de pessoas foram detidas tentando cruzar a fronteira do México com os EUA no último ano.

A delegação dos altos funcionários chega ao mesmo tempo, em que uma caravana de cerca de seis mil pessoas, vindas da fronteira com a Guatemala, atravessa o México, em direção à fronteira com os EUA.

Na semana passada, o presidente norte-americano, Joe Biden, e o presidente do México, conversaram por telefone sobre a questão migratória.

Segundo John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, "os dois líderes concordaram que são necessárias ações urgentes de fiscalização adicionais para que os principais portos de entrada possam ser reabertos através da nossa fronteira comum", disse Kirby.

Postura do México

Também no mês de dezembro, o governo mexicano suspendeu um programa de repatriamento e transferência de migrantes dentro do México, devido à falta de fundos. No entanto, o presidente López disse estar disposto a trabalhar em conjunto com os EUA. Mas, ele deixou claro que deseja que a administração Biden alivie as sanções aos governos de Cuba e da Venezuela – uma porcentagem significativa de migrantes são da Venezuela – e envie mais ajuda para a América Latina.

Este tem sido um ponto defendido continuamente pelo presidente mexicano. No passado, ele criticou o governo dos EUA por essas sanções, dizendo que contribuíram para a crise migratória e que sem sua dissuasão não seria possível atingir as causas profundas da imigração.

O presidente americano Joe Biden e o mexicano, Andres Manuel Lopez Obrador, no México, em janeiro de 2023.
O presidente americano Joe Biden e o mexicano, Andres Manuel Lopez Obrador, no México, em janeiro de 2023. AP - Andrew Harnik

​​​​​Congresso deve votar mudanças nas políticas para a segurança das fronteiras

Recentemente, quando o presidente Biden solicitou US$ 105 bilhões em ajuda para a Ucrânia e Israel, os Republicanos da Câmara exigiram que, em troca, os Estados Unidos endurecessem as políticas migratórias na fronteira sul. Entre as exigências, está a de limitar as possibilidades de obtenção de asilo, o que geraria um aumento no número de deportações.

A Casa Branca sinalizou que está disposta a negociar, o que poderá significar uma grande mudança na política de asilo do país em janeiro. A viagem desta quarta-feira será para aprofundar os detalhes dessa aplicação. E há um sentido de urgência: neste momento há negociações em curso no Congresso envolvendo a fiscalização da imigração.

O Congresso entrou em recesso, sem chegar a um acordo e não devem retomar as atividades até a segunda semana de janeiro.

Recorde de pessoas cruzando a fronteira

Dezenas de milhares de migrantes cruzaram a fronteira no Texas desde o começo de dezembro, o que levou a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA a fechar travessias ferroviárias internacionais em Eagle Pass e El Paso no último dia 18 de dezembro.

Desde então, cerca de 14 mil imigrantes cruzaram para Eagle Pass, Texas, segundo dados da Patrulha de Fronteira dos EUA. Somente em um período de 82 horas, a Patrulha da Fronteira chegou a contabilizar 10 mil pessoas cruzando essa fronteira.

Texas transforma travessia ilegal em crime estatal

O governador do Texas Greg Abbott sancionou uma lei na segunda-feira (18), para impedir a imigração ilegal na fronteira entre o Texas e o México e dar autoridade policial ao Texas para prender imigrantes indocumentados em qualquer lugar do Estado.

A lei que converte a travessia ilegal um crime estatal entraria em vigor no início de março. No entanto, organizações de direitos dos imigrantes, legisladores democratas e especialistas em migração afirmam que a lei é inconstitucional porque a fiscalização da imigração é uma responsabilidade federal.

A Suprema Corte dos EUA é quem deve decidir sobre a constitucionalidade da lei. Os Republicanos do Texas, porém, estão otimistas quanto a uma decisão favorável quanto à lei, já que a corte hoje é composta por uma maioria conservadora, com três juízes nomeados pelo ex-presidente Donald Trump.

Quando a nova lei entre em vigor, ser surpreendido cruzando a fronteira de forma ilegal poderia implicar uma pena de até seis meses de prisão. Os infratores reincidentes poderiam ser punidos com uma pena de dois a 20 anos de prisão.

A lei permite ainda que um juiz retire as acusações se um migrante concordar em regressar ao México.

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