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Venezuelanos continuam nas ruas após eleições e Maduro mobiliza militares contra protestos

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Os protestos tomaram conta da Venezuela após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciar, nesta segunda-feira (29), Nicolás Maduro como presidente eleito até 2031. Apesar da pressão da comunidade internacional, que exigiu "transparência" na apuração, os boletins eleitorais não foram divulgados. A repressão aos venezuelanos que contestam os resultados tem aumentado. Cerca de 59% dos eleitores participaram do pleito.

A líder da oposição Maria Corina Machado e o candidato Edmundo Gonzalez durante uma manifestação em protesto contra os resultados oficiais das eleições presidenciais
A líder da oposição Maria Corina Machado e o candidato Edmundo Gonzalez durante uma manifestação em protesto contra os resultados oficiais das eleições presidenciais © Matias Delacroix / AP
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Elianah Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

Segundo a ONG Fórum Penal, onze pessoas morreram em decorrência dos protestos em diversas partes do país - a maioria na capital, Caracas. O número de feridos ultrapassa 84 pessoas, de acordo com a Pesquisa Nacional de Hospitais e 749 foram presas, de acordo com o Procurador Geral Tarek Willian Saab.

Diosdado Cabello, homem forte do chavismo, informou nesta terça-feira (30) que dez opositores foram detidos por “atos de violência", entre eles Freddy Superlano. Forças de segurança estatais entraram à força na casa do líder político e sem apresentar mandado de busca, o levaram a um paradeiro desconhecido.

O Partido de Superlano, Vontade Popular, classifica o caso como sequestro e afirma que ele está sendo torturado para fazer declarações contra a opositora Maria Corina Machado.

Nicolás Maduro informou que irá disponibilizar um aplicativo para denunciar os manifestantes. Além disso, haverá militares nas ruas, para, segundo ele, "restituir a paz no país". Estas informações foram divulgadas na noite desta terça quando o presidente recebeu partidários do chavismo no Palácio presidencial do Miraflores, no centro da capital.

Em Caracas, as pessoas temem a volta da escassez de alimentos e de combustível. Nesta terça-feira, havia longas filas nos supermercados e postos de gasolina. Já os moradores do interior do país também são afetados pelos cortes de eletricidade e pela má qualidade da internet, que os deixam isolados.

Observadores internacionais deixam o país

A legalidade e lisura do processo eleitoral continuam sendo a principal preocupação dos venezuelanos, que estão decididos a questionar a falta de divulgação das atas de votação. Além disso, com os protestos, diversos observadores internacionais deixaram o país.

O caso mais marcante foi o do Centro Carter, que decidiu retirar da Venezuela os 17 analistas que observavam as eleições. Em tom crítico, esta instituição informou que não divulgará o relatório parcial de análise da votação. Celso Amorim, assessor especial da presidência, também voltou para Brasília nesta terça.

Nicolás Maduro expulsou da Venezuela os embaixadores de Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai – países que se posicionaram contra a falta de transparência no processo eleitoral.

Os venezuelanos temem reações violentas e repressivas contra os manifestantes. O presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, pediu a prisão de Maria Corina Machado e de Edmundo González durante sessão do parlamento nesta segunda-feira.

Para Rodriguez, os opositores são responsáveis por uma “conspiração fascista” contra as eleições presidenciais. Já o deputado Diosdado Cabello afirmou que seus partidários estão em “modo de combate” frente às manifestações.

"Se eles querem nos provocar, vamos cair na provocação e arruiná-los”, disse o vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Nas próximas horas, são esperadas novas prisões de opositores e manifestantes.

Ordem de prisão a Machado

Os venezuelanos que pedem mudanças no país garantem estar dispostos a continuar protestando nas ruas ou em casa, fazendo panelaços. Maria Corina, que corre o risco de ser presa em breve, recebeu proposta de asilo político da Costa Rica. No entanto, ela respondeu que sua "responsabilidade era lutar com o povo”.  

Até agora, pelo menos quinze países, incluindo o Brasil, pedem a contagem transparente dos resultados da votação de domingo.

A Organização de Estados Americanos (OEA) denunciou a “aberrante manipulação” das eleições em um “processo sem garantias”. A União Europeia reiterou que os resultados ainda não foram verificados e a Organização das Nações Unidas critica o uso desproporcional da força contra civis venezuelanos. 

O Peru foi o primeiro a reconhecer Edmundo González como presidente eleito. Também se manifestaram sobre as eleições venezuelanas o presidente Joe Biden e a vice Kamala Harris, que declarou que “os Estados Unidos estão com o povo venezuelano e a vontade do povo deve ser respeitada”.

A reeleição de Nicolás Maduro anunciada pelo governo foi reconhecida pela China, Rússia, Bolívia, Cuba e Nicarágua e pelo Partido dos Trabalhadores (PT), do Brasil.

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