Tarifaços de Trump aceleram inflação nos EUA e pesam no bolso do consumidor americano
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Dados recentes divulgados nos Estados Unidos indicam que a inflação acelerou em junho, mostrando que os efeitos das tarifas impostas pelo governo Donald Trump já começam a ser sentidos no bolso do consumidor americano. Enquanto isso, a administração enfrenta a pressão crescente para controlar o avanço dos preços e, paralelamente, anuncia demissões em massa em agências federais — um cenário que aumenta a apreensão sobre o futuro econômico do país.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
Os primeiros sinais concretos da chamada “guerra comercial” iniciada por Trump já aparecem nos dados econômicos dos EUA. Segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho, o índice de preços ao consumidor (CPI) subiu 2,7% em junho, na comparação com o mesmo mês do ano passado — a maior alta desde fevereiro. Esse aumento ficou acima do esperado e representa um avanço em relação aos 2,4% registrados em maio.
Os setores mais afetados são justamente aqueles expostos às tarifas aplicadas pelo governo americano contra seus principais parceiros comerciais. Produtos como eletrodomésticos, roupas e móveis registraram aumentos expressivos: os eletrodomésticos, por exemplo, subiram 1,9% só em junho, ante 0,8% no mês anterior. Já móveis tiveram alta de 1%, e roupas aumentaram 0,4%, revertendo meses seguidos de queda nos preços.
A inflação “núcleo” — que exclui alimentos e energia por sua volatilidade — também subiu 2,9% em relação ao ano anterior, com alta de 0,2% só no mês de junho. Esses dados indicam que a guerra tarifária já está pressionando diretamente o custo de vida dos americanos, com impactos que podem se espalhar para outros setores e influenciar o ritmo da economia.
O impacto das tarifas sobre produtos brasileiros
Um dos capítulos mais recentes dessa guerra comercial envolve o Brasil. O governo Trump ameaçou impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros a partir do próximo mês, incluindo itens que são pilares da pauta exportadora brasileira, como café, carne bovina e suco de laranja.
No caso do café, o impacto pode ser ainda mais severo. Além da tarifa, o produto já enfrenta uma alta global devido a condições climáticas desfavoráveis — como as secas recentes que reduziram a produção no Brasil e no Vietnã, dois dos maiores exportadores para os EUA. Segundo dados do Bureau of Labor Statistics, o preço médio de 450 gramas de café moído nos supermercados americanos já subiu de US$ 5,99 no ano passado para US$ 7,93 em maio deste ano.
Com a tarifa de 50%, o preço do café deve ficar ainda mais caro para o consumidor americano, o que deve afetar também o consumo em cafeterias e restaurantes. Para o Brasil, essa medida pode significar queda nas exportações e prejuízos para o agronegócio, num momento em que o setor já enfrenta desafios climáticos e econômicos.
Economistas alertam que, se Trump mantiver as novas tarifas previstas para entrar em vigor no dia 1º de agosto — que também atingirão União Europeia, Canadá, México, Japão, Coreia do Sul e Tailândia — a alta dos preços poderá se generalizar ainda mais, reduzindo o consumo e elevando o risco de recessão nos Estados Unidos.
Demissões em massa: enxugamento da máquina estatal preocupa
Além dos efeitos da inflação, os americanos terão que lidar com as consequências do enxugamento dos departamentos federais de saúde e educação. Nesta semana, o Departamento de Saúde dos EUA formalizou a demissão de milhares de funcionários, após a Suprema Corte suspender uma liminar que impedia esses cortes.
A agência havia anunciado anteriormente o desligamento de 10 mil servidores, com outros 10 mil saindo voluntariamente. Com a decisão judicial, as demissões foram efetivadas, representando cerca de 25% da força de trabalho do setor. No Departamento de Educação, a Suprema Corte também autorizou a demissão de aproximadamente 1.400 funcionários, derrubando uma decisão de um tribunal inferior que bloqueava os cortes.
Essas demissões fazem parte de uma estratégia mais ampla do governo para reduzir o tamanho da máquina pública, alinhada à agenda de descentralização do controle federal, especialmente sobre a educação.
Embora o principal objetivo dessas demissões seja reduzir os gastos federais, elas podem afetar negativamente a capacidade do governo de prestar serviços essenciais em áreas fundamentais, justamente num momento em que o país enfrenta alta do custo de vida e incertezas econômicas.
Além disso, a redução do quadro de funcionários públicos pode diminuir a renda disponível dessas famílias, reduzindo o consumo e contribuindo para a desaceleração da economia americana.
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