Com aprovação do Congresso, Trump deve sancionar lei para liberar arquivos do caso Epstein
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O projeto de lei que obriga a divulgação dos documentos das investigações sobre o financista e criminoso sexual americano Jeffrey Epstein foi aprovado pela Câmara de Representantes e avançou automaticamente no Senado na terça-feira (18), após acordo entre os líderes. O texto segue agora para a mesa do presidente Donald Trump, que deve sancioná-lo rapidamente, segundo a Casa Branca.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
O projeto de lei foi aprovado por unanimidade no Senado e por 427 a 1 na Câmara dos Representantes, num raro momento de consenso bipartidário entre as duas casas.
A expectativa era de que a votação dos senadores ocorresse apenas mais tarde, em razão do feriado de Ação de Graças na próxima semana. Mas o líder da maioria, John Thune, disse que não faria mudanças no texto, já que Trump declarou que pretende sancioná-lo rapidamente.
Com a assinatura de Trump, a expectativa é que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos publique todos os arquivos sobre o caso Epstein em até 30 dias, com exceções apenas de trechos do texto que evoquem a identidade de menores de idade ou de processos ainda em andamento.
No entanto, há dúvidas sobre a rapidez da divulgação dos arquivos. Alguns parlamentares republicanos alertam que a ordem de Trump para investigar possíveis vínculos de Epstein com líderes democratas pode atrasar o processo.
O deputado conservador Thomas Massie manifestou preocupação de que novas investigações possam servir de pretexto para adiar a liberação dos arquivos. Já Marjorie Taylor Greene, que rompeu com Trump após passar a defender a divulgação do dossiê Epstein, alertou que os documentos correm o risco de ficar ‘travados’ em razão dessas apurações. Ainda assim, o Departamento de Justiça tem autonomia para divulgar os arquivos a qualquer momento.
Caso está no centro da política americana
O caso Epstein voltou à tona após democratas e republicanos divulgarem grandes volumes de documentos relacionados ao célebre financista e criminoso sexual, incluindo e-mails e relatos que citam o presidente americano. Em uma das mensagens reveladas pela oposição, de 2011, Epstein afirma que Trump passou "horas" em sua casa com uma menor de idade, cujo nome foi mantido em sigilo. Já em outra mensagem, de 2019, ele diz que "Trump sabia das garotas", referindo-se à rede se tráfico sexual que liderava.
Trump nega qualquer envolvimento no escândalo e afirma ter rompido relações com Epstein em 2004. Até então resistente à divulgação dos arquivos, no último domingo (16) protagonizou uma surpreendente mudança de posicionamento e se disse a favor da votação no Congresso para a liberação dos documentos. Ainda assim, o tema suscita tensões: nesta terça-feira, ao ser questionado sobre o caso, Trump atacou a imprensa.
Em uma coletiva na Casa Branca, o presidente americano atacou verbalmente uma jornalista da ABC, classificando-a de "repórter horrível", e ameaçou retirar a licença da emissora por causa da cobertura do escândalo. Horas antes, a bordo do Air Force One, o líder republicano chamou uma jornalista da Bloomberg de “porca” ao ser questionado sobre o caso.
Vítimas afirmam que o caso foi enterrado por décadas
As sobreviventes da rede de tráfico sexual de Jeffrey Epstein insistem que a liberação dos arquivos é uma questão de justiça, não de política. Em uma coletiva de imprensa no Capitólio, Annie Farmer, uma das vítimas mais conhecidas, afirmou que elas enfrentam “traição institucional” há anos.
A irmã dela, Maria Farmer, foi a primeira mulher a denunciar Epstein às autoridades, em 1996, ainda no governo de Bill Clinton. Annie lembrou "falhas graves" se repetiram em diferentes administrações, democratas e republicanas, permitindo que o esquema durasse décadas.
Os documentos ajudam a detalhar a dimensão dos crimes. Investigações federais afirmam que Epstein abusou e explorou sexualmente dezenas de meninas, muitas delas menores de idade, em suas casas em Nova York e na Flórida, além de outras localidades.
Entre 2002 e 2005, ele recrutava jovens para encontros em suas propriedades e as pagava em dinheiro logo após os abusos. O número de vítimas pode chegar a mais de mil.
Epstein morreu na prisão em 2019, enquanto aguardava julgamento por tráfico sexual. Sua cúmplice, Ghislaine Maxwell, considerada peça-chave no esquema, foi condenada em 2022 e cumpre pena de 20 anos, mas seus advogados trabalham para tentar reduzir a sentença.
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