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Curta “Céu de Agosto”, em competição em Cannes, traz mal-estar que paira no Brasil

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A cineasta e roteirista Jasmin Tenucci está na seleção oficial de curtas do Festival de Cinema Internacional de Cannes. Ela fala a respeito de “Céu de Agosto”, sobre novos projetos e sobre a situação da cultura no Brasil.

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Jasmin Tenucci, diretora de "Céu de Agosto".
Jasmin Tenucci, diretora de "Céu de Agosto". © Jasmin Tenucci
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Patricia Moribe, enviada especial a Cannes

 “Céu de Agosto”, diz Tenucci, “é principalmente sobre o sentimento do Brasil deste momento, eu coloco muitas coisas no ar, tensas, tangíveis e intangíveis, e que afetam a gente, tanto politicamente ou socialmente. Então é um filme que tenta falar dessa sensação de que mesmo quem não está envolvido, sente no ar e é afetado por ela.”

A ideia para o curta veio do dia 19 de agosto de 2019, diante de uma súbita escuridão no meio da tarde. “Ninguém sabia exatamente a razão. Depois ficamos sabendo que era por causa das queimadas na Amazônia. A fumaça tinha viajado milhares e milhares de quilômetros, deixando o céu escuro e quando eu vi aquilo eu sentia como se fosse a materialização de um sentimento, como brasileira, naquele momento, diante de catástrofes e descuidos políticos, sociais e humanos.”

Desmonte da cultura e do cinema no Brasil

Jasmin Tenucci fala sobre a dificuldade de se trabalhar com a cultura no Brasil de hoje.

“A situação é terrível, é um desmonte total da cultura e do cinema, um descaso, enfim, como se a cultura não formasse a nossa humanidade. Aparentemente o presidente não se incomoda com isso, com a humanidade, não é uma preocupação dele. Não há mais quase incentivos e a gente tenta se virar com o que tem. Para esse curta, eu consegui dinheiro de fora. Para o longa, claro, vamos buscar coproduções. Mas a gente precisa tentar conseguir o dinheiro dentro do país. E também vamos ter de aprender a fazer com menos.”

É a primeira vez que Jasmin Tenucci apresenta um trabalho em Cannes. “É muito legal e é uma honra estar na presença de cineastas que eu cresci admirando. Não só crescendo, mas que continuo admirando hoje”, diz.

“Um filme quando entra em Cannes não é apenas visto por muitas pessoas, mas ganha uma projeção, uma dimensão maior. É provável que passe ainda em outros lugares, que muitas pessoas falem sobre ele. É um enorme privilégio e conquista. É muito bom, a gente quer mesmo é que as pessoas assistam o filme”, acrescenta a diretora.

Projetos futuros

Jasmin Tenucci trabalha como roteirista de cinema e TV e está também escrevendo o roteiro de dois longas.

“O que está mais adiantado se chama ‘A Menor Baleia do Mundo’. É sobre uma bióloga que precisa encontrar essa baleia. Por enquanto é o que eu posso falar a respeito, mas é uma história um pouco mais leve que a do meu curta. Tem até uns tons cômicos, mas não chega a ser uma comédia. O filme se passa em uma comunidade do litoral. O outro longa é inspirado no curta ‘Céu de Agosto’, que também desenvolve um pouco mais a relação de duas mulheres dentro da igreja pentecostal, num mundo em chamas.”

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