Margareth Menezes celebra 38 anos de carreira e reafirma o Afropop como linguagem viva da música brasileira
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Em pausa de suas funções como ministra da Cultura do Brasil, a cantora e compositora Margareth Menezes aproveitou as férias ministeriais para voltar aos palcos e celebrar os 38 anos de carreira. A artista, considerada a principal voz do afropop brasileiro, se apresentou em concertos na Europa.

Lizzie Nassar, correspondente da RFI em Lisboa
“Estar aqui em Portugal é sempre um prazer. Neste show, trago um pouco da minha história, músicas novas e referências a artistas como Gil e Caetano. É um conjunto de canções que descrevem o meu trabalho, a linguagem do afropop brasileiro e a sonoridade da Bahia”, afirma a cantora em entrevista à RFI.
Mais do que um gênero, Margareth Menezes define o afropop como uma linguagem musical — uma expressão que une ancestralidade e presente. “O afropop confirma que a ancestralidade está viva. Ela interage com o agora. No Brasil, essa presença vem dos ritmos trazidos pelos africanos, que geraram uma riqueza rítmica imensa para a nossa música popular”, explica.
Segundo a artista, o afropop representa um reconhecimento das raízes afro-brasileiras dentro da contemporaneidade. “Ser afropop é entender sua raiz, reconhecer a ancestralidade e agir na atualidade. É afirmar que essa linguagem existe e que o Brasil precisa assumir isso com naturalidade, como faz com outras tendências.”
“Ainda há resistência ao que vem da África”
Margareth lamenta que, ainda hoje, a contribuição afro-brasileira na cultura e na música encontre resistência. “Infelizmente, ainda estamos num mundo em que tudo que tem a palavra ‘África’ parece causar estranhamento. Como se a presença e o pensamento afro-diaspórico não pudessem fazer parte de uma sociedade moderna. No Brasil, ainda há uma luta grande nesse sentido”, diz.
Ela destaca, no entanto, uma nova geração de artistas que também se reconhece nessa linguagem, como Maju, o BaianaSystem e outros nomes que vêm ampliando o espaço do afropop nas plataformas e nos palcos.
Com 11 álbuns de estúdio e seis gravações ao vivo, Margareth tem revisitado sua discografia e disponibilizado suas obras nas plataformas digitais.
A cantora relembra que sua geração — ao lado de Carlinhos Brown e Daniela Mercury — herdou e transformou a energia criativa do tropicalismo. “Nós trazemos essa revolução tropicalista dentro da nossa maneira de expressar. Reconhecemos o legado dos blocos afro da Bahia, cruzamos as claves e reformulamos esses ritmos em cima do trio elétrico com uma banda pop”, explica.
“A ancestralidade não está no passado, ela cria o futuro”
Mesmo envolvida na gestão pública da cultura brasileira, Margareth Menezes reafirma que o palco continua a ser o seu lugar de celebração e resistência. “Estamos num ano de muitas entregas no Ministério da Cultura, mas cantar é a minha origem. A música é uma forma de me reconectar com a minha história e com o público”, conta.
Para o próximo verão, a artista planeja novas gravações e, claro, participação confirmada no Carnaval. “O afropop é o som do presente. A ancestralidade não está no passado — ela está viva, pulsando e criando o futuro. É isso que eu tento transmitir em cada música.”
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