Paris 2024 deve ser 'acelerador de inclusão', com legado durável, diz presidente do Comitê Paralímpico
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Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional, participou nesta sexta-feira (9) de uma coletiva de imprensa em Paris ao lado da prefeita da cidade, Anne Hidalgo. Em entrevista à RFI Brasil no hall do Carreau do Temple, local no coração da capital francesa onde foi instalado o Media Center de Paris 2024, ele falou sobre as expectativas para os Jogos Paralímpicos, que começam em 28 de agosto, evento que quer deixar sua marca como vitrine e herança de acessibilidade urbana.

"Esse é um trabalho que foi desenvolvido nos últimos 7 anos", resume Andrew Parsons. "Foram feitas uma série de intervenções no sistema de transporte na cidade. Hoje no transporte de superfície, os ônibus são 100% acessíveis e para esta Olimpíada de Paris 2024, houve um incremento de 1000 táxis acessíveis para o período específico dos jogos", exemplifica.
"Mas tem aspectos outros, por exemplo, um projeto muito interessante que se chama clube inclusivo. O objetivo é tornar 3.000 clubes esportivos na França acessíveis às pessoas com deficiência", contou Parsons. "E não são apenas para os atletas de alto rendimento, mas para os franceses com deficiência que querem praticar esporte", ressaltou.
Mudança de percepção sobre a deficiência
"Tem uma mudança que talvez seja a mais importante de todas, que é a mudança de percepção sobre as pessoas com deficiência nesse país. Estamos trabalhando há sete anos com o comitê organizador, o governo nacional, a cidade de Paris, em programas com escolas, em programas com os cidadãos, com associações, um diálogo permanente com as organizações de pessoas com deficiência para que esses jogos deixem um legado de mudança de percepção. Para que esse seja um país mais inclusivo, não só até a cerimônia de encerramento, mas no futuro também, que a gente tenha novas gerações com uma mentalidade diferente acerca das pessoas com deficiência", sublinhou o presidente do Comitê Paralímpico Internacional.
Sobre as parcerias internacionais que viabilizaram essa mudança, Parsons cita a Organização Mundial de Saúde (OMS), "por exemplo, na promoção do esporte para as pessoas com deficiência, não só para os atletas, mas como ferramenta de promoção da saúde". "Agora vamos fazer um grande evento com a Unesco, no dia anterior e no dia da cerimônia de abertura dos jogos paralímpicos, conclamando os ministros de Esporte e os chefes de Estado que aqui estiverem para que a gente possa efetivar mudanças maiores em nível global, internacional e obviamente em nível territorial de cada um dos seus países, com o movimento paralímpico, liderando esse movimento de inclusão através do esporte", declarou.

"Extrapolar o esporte"
Andrew Parsons diz que o objetivo do comitê para Paris 2024 é "extrapolar o esporte". "Obviamente que nós não queremos que as pessoas com deficiência tenham oportunidades somente enquanto atletas, mas também no mercado de trabalho, na sociedade, como líderes, etc. Então o esporte paralímpico é um grande exemplo, uma grande vitrine. Mas queremos que isso transcenda para outras áreas da vida das pessoas", afirmou.
"Paris como um todo evoluiu em termos de acessibilidade, tem um programa aqui que é sensacional: ele propõe que em todas a cidade existam escolas inclusivas, no máximo a 15 minutos de sua residência", conta. "Isso é uma revolução de inclusão, no país da Revolução Francesa", brinca.
"Os jogos paralímpicos não são um fim em si mesmo. Após séculos de tratamento desigual às pessoas com deficiência, em sete anos você não consegue consertar tudo, mas aqui é um catalisador, um acelerador de inclusão, de uma mudança de mentalidade, de uma mudança cultural e uma mudança política", acredita. "Também a percepção de que as pessoas, os governantes sobretudo, entendam que todas as medidas para as pessoas com deficiência devem também serem levadas em consideração. Esse para nós talvez seja o legado mais importante", concluiu.

A pauta da deficiência na agenda global
"Nós tivemos entre Tóquio e Paris a pandemia, um evento global que realmente deveria ter mudado muito a percepção das pessoas a respeito do coletivo. Infelizmente, a gente percebe que isso não mudou. E talvez as pessoas com deficiência sejam um dos grupos mais marginalizados", afirmou Parsons.
"Você vê alguns outros movimentos sociais muito importantes, quer dizer, a questão do gênero, a questão racial, a questão do LGBTQIA+, tudo isso avançou bastante. E o nosso movimento talvez tenha ficado um pouco para trás. Então é fundamental, a paralimpíada também serve para isso. Ela é um wake up call, o único evento global que coloca as pessoas com deficiência como atores principais", declarou. "Ficamos estagnados nisso, e a pandemia escancarou essa questão, muitos serviços que se achavam inclusivos descobriram que não o eram", avaliou.
O executivo acredita que se trata de "um momento importante, principalmente no momento em que líderes mundiais vão se reunir agora em setembro para o evento Summit for Live, que eles vão desenhar um documento do Pack For Life, que é, na verdade, a continuação dos objetivos sustentáveis do milênio. Então são os líderes mundiais desenhando o futuro do nosso planeta e as pessoas com deficiência têm que estar incluídas nisso", declarou Parsons.
Sobre a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos de Paris 2024, ele afirma que não conhece as atrações surpresas. "Não sei tudo, também serei surpreendido. Mas o principal para nós é que os atletas desfilem na Champs-Élysées, a avenida mais famosa do planeta, terminando na Praça da Concórdia, como se a cidade de Paris estivesse abraçando o movimento paralímpico. Esse deve ser o sentimento da cerimônia de abertura", antecipou.
Durante a coletiva de imprensa, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, falou também sobre a herança de Paris 2024 que, segundo ela, devem se "estender pelos próximos 20 anos". Hidalgo celebrou a adesão aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos e mais uma vez falou sobre um "choque cultural de inclusão". Segundo ela, a despoluição do rio Sena deve ter um efeito "durável" e ele deve continuar acessível ao público parisiense e visitantes no próximo verão, em 2025, para a natação e o lazer da população. Cercada de seus assessores, a prefeita afirmou ainda que quer manter a "via olímpica", corredor especial de veículos dedicado às caronas compartilhadas (covoiturages, em francês) e veículos especiais, e que deseja transformar a famosa Praça da Concórdia em área de pedestres. "Esses jogos não serão apenas um parêntese na história de Paris, mas terão uma durabilidade", finalizou.
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