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Transtorno de personalidade borderline ainda é mal diagnosticado, diz psiquiatra francesa

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O transtorno de personalidade borderline é uma doença mental que compromete a vida do paciente e das pessoas com quem ele convive, mas ainda é uma patologia desconhecida do grande público.

O transtorno de personalidade borderline ainda é mal diagnosticado pelos profissionais de saúde
O transtorno de personalidade borderline ainda é mal diagnosticado pelos profissionais de saúde Getty Images/iStockphoto - FollowTheFlow
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A doença provoca ansiedade, irritabilidade e comportamentos impulsivos. O paciente, que teme o abandono, vive com as emoções literalmente à flor da pele e se sente incapaz de gerenciá-las. A prevalência do distúrbio na população é estimada entre 4% e 6%. O tratamento principal é a psicoterapia e pode associar medicamentos, dependendo do caso.

Como ajudar alguém que é afetado pelo problema? A psiquiatra francesa Deborah Ducasse, que atua no Hospital Universitario de Montpellier, é uma das co-autoras do livro “Le Trouble borderline expliqué aux proches”, ou “O Transtorno Borderline explicado à família e aos amigos”, em tradução livre.

“É um problema muito frequente, mas ainda pouco conhecido. Há poucos profissionais de saúde formados para diagnosticar a doença. Pode ser dificil para a equipe tratá-la e acompanhar o doente de maneira eficaz. Exige uma formação específica”, disse à RFI.

De acordo com a psiquiatra, o transtorno tem diferentes níveis de gravidade, como na maior parte das doenças mentais. Há, entretanto, um ponto comum entre os doentes: o apego excessivo a uma relação, explica a psiquiatra. “O borderline é um transtorno emocional, enquanto o bipolar ou a depressão são distúrbios do humor”, diz.

"Movimento afetivo"

As emoções podem ser definidas como um “movimento afetivo”: um conjunto de sensações normais que se manifestam no organismo e que têm duração limitada. Entre elas estão a alegria, o medo, a tristeza ou a raiva, por exemplo.

No transtorno borderline, a intensidade das emoções é extrema e oscila ao longo do dia. Os sintomas são variáveis e se baseiam na incapacidade de sentir autossatisfação, o que provoca um vazio interior, explica a especialista.

“É para enfrentar esse vazio que a pessoa vai imaginar um relacionamento próximo como a solução para esse mal-estar interno. O paciente idealiza a capacidade do outro para preencher esse vazio, criando muitas expectativas. Como em geral o outro não estará à altura dessas expectativas, haverá muitas decepções e alternância entre a idealização e desvalorização. ”

É comum, por exemplo, que o paciente invista de maneira excessiva em uma relação amorosa, ou amizade, e se torne dependente emocionalmente desse relacionamento. Isso pode gerar comportamentos autodestrutivos, como tentativas suicidas ou até automutilação.

A psiquiatra francesa ainda explica que, quem sofre da doença, pode passar a ter uma opinião completamente diferente de alguém que, no passado, foi o objeto de sua devoção. Isso pode provocar acessos de raiva e explosões seguidas de uma grande sensação de culpa.

Doença pode passar despercebida

No ambiente de trabalho, a doença pode não ser notada pelos colegas. “No transtorno borderline, há um apego ao sucesso profissional, que deriva da necessidade de valorização pessoal. O paciente pode ser muito competente, ter um excelente desempenho, e interagir bem com os colegas com quem não tem relações tão próximas”, descreve Deborah Ducasse.

Estudos mostram que estresses vividos na infância podem contribuir para o desenvolvimento da doença. A predisposição genética é uma outra pista, assim como uma desregulação dos neuropeptídeos, substâncias químicas liberadas pelas células cerebrais.

A RFI entrevistou uma paciente de 22 anos que foi diagnosticada em setembro de 2020 e preferiu não se identificar. Inicialmente, ela teve anorexia e os médicos que a trataram não detectaram imediatamente o transtorno borderline, apesar de terem observado a existência de um outro problema psiquiátrico associado.

“Nossa vida depende da imagem que temos de nós mesmos no mundo. Então, todos os eventos que afetam essa imagem externa vão nos desestabilizar. ”

Comportamentos compulsivos, descreve a paciente, também são comuns: comprar ou comer demais ou usar drogas são alguns dos exemplos. Hoje a jovem francesa deu a volta por cima e fala sem complexo sobre sua doença. “Tornou-se uma parte da minha história, e tenho orgulho dela. É essa história que faz que eu tenha tanta força hoje."

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