A Semana na Imprensa

Risco de ‘ingovernabilidade’ na França: revistas semanais alertam para ‘implosão’ do sistema político

Publicado em:

A crise política francesa atinge novo patamar, segundo as revistas semanais Le Nouvel Obs e Le Point. Para a primeira, a suspensão da reforma da Previdência não basta para sustentar o governo Lecornu 2, que opera sem maioria e sob tensão orçamentária. Já a Le Point defende que Emmanuel Macron antecipe sua saída em 2026, apesar do primeiro-ministro francês ter sobrevivido, na quinta-feira (16), a duas moções de censura no Parlamento, dias após propor a suspensão dessa reforma crucial de Macron.

O presidente francês, Emmanuel Macron, em 13 de outubro de 2025.
O presidente francês, Emmanuel Macron, em 13 de outubro de 2025. AFP - YOAN VALAT
Publicidade

A crise política francesa ganhou novos contornos nesta semana, com as revistas Le Nouvel Obs e Le Point apontando o esgotamento do governo Lecornu 2 e o isolamento crescente do presidente Emmanuel Macron. Para os semanários, a "arquitetura do sistema político" do país estaria comprometida, apesar do premiê francês Sébastien Lecornu ter conseguido superar a moção de censura – por apenas 18 votos – na Assembleia Nacional dos deputados.

Segundo Le Nouvel Obs, “a suspensão da reforma da Previdência, arrancada pelo Partido Socialista, talvez não seja suficiente para manter vivo o frágil governo Lecornu 2”. Sem o respaldo do artigo constitucional 49.3 – que permite aprovar leis sem votação parlamentar – e diante de uma Assembleia fragmentada, o Executivo tenta sobreviver em meio a tensões orçamentárias e disputas ideológicas.

O chefe de governo anunciou medidas como a tributação de holdings utilizadas por ultrarricos e a suspensão da idade mínima para aposentadoria aos 64 anos até a próxima eleição presidencial. Mas, como alerta Le Nouvel Obs, “todos os temas em pauta; orçamento, taxação dos mais ricos, cortes na seguridade; são inflamáveis”.

A presidência também enfrenta desgaste. Macron, segundo a mesma revista, “continuou a agir como um presidente todo-poderoso entre 2022 e 2024, mesmo sem ter mais os instrumentos para impor sua vontade — ou seja, a maioria absoluta no Parlamento”. A esquerda, fora do poder há quase uma década, ainda não conseguiu se consolidar como alternativa, e as alianças progressistas se fragmentam diante da ascensão da extrema direita.

Saída antecipada de Macron?

Já a revista Le Point vai além e sugere que Macron deveria organizar sua saída antecipada em 2026, um ano antes do final de seu segundo mandato. “O impasse político se tornou perigoso, para a economia e para as instituições”, afirma a publicação. A dificuldade de aprovar o orçamento e a sucessão de sete ministros da Educação em apenas três anos são sinais de um sistema em colapso. E mais: ao longo de seus dois mandatos, Macron nomeou sete primeiros-ministros, "um recorde sob a Quinta República", pontua.

A revista questiona: “É razoável deixar esse fardo para o próximo presidente? E como fazer campanha nessas condições, apenas para permanecer alguns meses a mais no poder?”.

Citando o economista francês que acaba de ganhar o Nobel, Philippe Aghion, Le Point propõe: “Se é preciso parar o relógio da reforma, por que não adiantar o da eleição presidencial?” A decisão, como disse De Gaulle após sua renúncia, pode ser “uma boa saída”, relembra Le Point. "Cabe a Emmanuel Macron escolher qual é a melhor para ele, e sobretudo para o país", conclui a revista.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios