Diversidade de delegação brasileira na China mostra que negócios vão além de divergências políticas
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Com a agenda empresarial da delegação brasileira em Pequim mantida, os representantes de cerca de 30 setores da economia avançam em suas reuniões na capital chinesa neste início de semana. A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva atrapalhou o protocolo e vai atrasar a conclusão de acordos oficiais. Mas os contratos do setor privado não devem ser afetados e as divergências políticas parecem ter sido deixadas do outro lado da fronteira.

Silvano Mendes, enviado especial da RFI a Pequim
Quem passeia pelos restaurantes dos grandes hotéis de Pequim nesse momento cruza sempre com brasileiros. Os empresários da impressionante delegação do país que decidiram ficar na capital chinesa apesar da ausência de Lula, impedido de viajar por razões de saúde, cumprem uma agenda de encontros com representantes locais e não é raro ouvir conversas sobre contratos na mesa ao lado durante o café da manhã.
A delegação é composta por empresários de 30 setores da economia. Há desde gigantes da aeronáutica, como Embraer, ou do minério, como Vale, até uma dezena de startups, que participam na quarta-feira (29) de uma mesa redonda sobre inovação, ou ainda entidades ligadas a questão da sustentabilidade, como a Tesouro Verde. Todos querem mostrar o que o Brasil tem de melhor para oferecer ao gigante asiático que já é, desde 2009, o principal parceiro comercial do país.
Em 2022, o produto brasileiro mais vendido para o mercado chinês foi a soja, com 36% do total exportado, seguido pelo minério de ferro com 20% e o petróleo com 18%. O algodão foi o segundo maior produto da agropecuária exportado pelo Brasil para a China em 2022 e representantes do setor algodoeiro já participaram, na semana passada, de um grande evento para promover o produto junto aos chineses.
No entanto, os pesos pesados dessa delegação são realmente os empresários do setor de carnes. Dos mais de 200 nomes previstos na delegação, pelo menos 60 representam frigoríficos.
O que é normal, já que mais de 62% das exportações brasileiras de carne bovina vieram para o país asiático no ano passado. Além disso, os chineses compram 44% das exportações brasileiras de carne suína em volume e cerca de 14% de frango vindo do Brasil. Não à toa, nomes como BRF (BRFS3), maior exportadora global de frango, e a JBS (JBSS3), gigante mundial do setor das carnes, fazem parte da viagem e mandaram vários executivos a Pequim.
Wesley e Joesley Batista em Pequim
Prova da importância do mercado chinês, os irmãos Wesley e Joesley Batista, da JBS, estão em Pequim com uma agenda de reuniões e chegaram a ser recebidos no domingo (26) na embaixada do Brasil. “A gente tem que reconhecer que é a maior empresa de carnes do mundo. É uma empresa brasileira que gera muitos empregos e oportunidades aos cidadãos brasileiros”, disse o ministro brasileiro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.
Questionado se a presença dos empresários que delataram Lula na Lava Jato seria um sinal de página virada, o ministro disse que não há razão para que sejam tratados de forma diferenciada. “Eles estão cumprindo a legislação brasileira, não tem porque não poder fazer parte da comitiva e estar buscando a criação de seus negócios. Se alguém deve alguma coisa, que pague pelo que deve. Agora, temos que olhar para frente”, lançou Fávaro durante uma coletiva de imprensa na embaixada do Brasil em Pequim.
E o tom do governo parece ser o mesmo como todos os representantes do agronegócio, inclusive aqueles que eram abertamente contra a candidatura do líder petista à presidência. “O presidente Lula tem dito muito que respeita a posição democrática de cada um escolher seu candidato. Aqueles produtores que entenderem que a eleição acabou e que agora nós temos que trabalhar pelo bem do agronegócio brasileiro pelos próximos quatro anos serão muito bem-vindos para ajudar essa relação melhorar”, pontuou o ministro.
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