Linha Direta

Rejeição da extrema direita na França gera reações de alívio e cautela na Europa

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O segundo turno das eleições legislativas na França foi acompanhado muito de perto por Bruxelas e várias capitais do bloco europeu. A vitória inesperada da aliança de esquerda e o “enfraquecimento” da extrema direita, agora sem possibilidade de formar maioria governamental na França, causaram alívio e cautela. Apesar do terceiro lugar nas urnas, o Reunião Nacional de Marine Le Pen e Jordan Bardella, poderá provocar consequências incômodas para a União Europeia.

Pessoas comemoram bloqueio da extrema direita no segundo turno das eleições legislativas na França. Em Paris, 7//7/24.
Pessoas comemoram bloqueio da extrema direita no segundo turno das eleições legislativas na França. Em Paris, 7//7/24. © Aurelien Morissard / АР
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Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

Logo depois que as primeiras sondagens de boca de urna foram divulgadas Bruxelas respirou aliviada. Ainda sob o impacto da vitória da extrema direita nas eleições europeias e no 1º turno das legislativas na França, a inquietude nas instituições do bloco era enorme. Mesmo assim, na sede da União Europeia nenhuma reação após o início da contagem dos votos. O silêncio de Bruxelas pode ser interpretado como cautela diante de uma situação ainda incerta no comando da França.

As primeiras reações de alívio dos dirigentes europeus chegaram da Polônia e Espanha. O premiê polonês e ex-presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, declarou “Entusiasmo em Paris, decepção em Moscou, alívio em Kiev, algo para ficar feliz em Varsórvia”, escreveu em uma rede social. Após a ascensão da extrema direita francesa no 1º turno Tusk alertou para o que chamou de “grande perigo” para a França e a Europa. De Madri, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, traçou um paralelo entre as eleições legislativas britânicas e francesas. “Esta semana dois dos maiores países da Europa escolheram o mesmo caminho que a Espanha há um ano: a rejeição da extrema direita e um compromisso decisivo com uma esquerda social que enfrente os problemas dos cidadãos com políticas sérias e corajosas”.

Na Alemanha, um dos responsáveis do partido social-democrata (SPD), do chanceler alemão Olaf Scholz, disse que “o pior foi evitado, o Reunião Nacional não pode constituir maioria governamental”. Na Grécia, o líder do partido grego de esquerda Syriza, Stefanos Kasselakis, comentou “o povo francês mostrou o caminho. O povo francês gritou que a esperança e a mudança não são uma utopia, mas uma realidade. Vamos ouvi-los”, ressaltou.

Terceira maior força política

A recém-formada aliança “Patriotas da Europa”, do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, deve se tornar a terceira maior força política do Parlamento Europeu com a adesão, nesta segunda-feira, do Reunião Nacional (RN), partido da extrema-direita francesa, liderado por Marine Le Pen e Jordan Bardella. Após os resultados das urnas na França, Bardella anunciou que os eurodeputados de seu partido irão se juntar a um grande grupo que vai “influenciar o equilíbrio de poder na Europa, recusar ser inundado por imigrantes, pela ecologia punitiva e o confisco de nossa soberania”, afirmou.

Com os 30 representantes do RN, a bancada do Patriotas da Europa terá 86 eurodeputados, atrás apenas do Partido Popular Europeu (EPP), com 184 representantes, e dos Socialistas e Democratas (S&D), com 139 assentos. Quando Viktor Orbán anunciou a criação do Patriotas da Europa na semana passada, o líder húngaro prometeu uma “nova era que iria mudar a política na Europa”. O pontapé inicial partiu dos partidos populistas Fidesz da Hungria, ANO da República Checa e Partido da Liberdade da Áustria. Logo depois, o partido de extrema-direita português Chega, assim como os populistas espanhol Vox e o holandês Partido pela Liberdade decidiram aderir à nova aliança. No sábado, foi a vez do Partido Popular Dinamarquês e do Vlaams Belang, da Bélgica, anunciarem que também se juntariam aos Patriotas da Europa. Além de apoiar os valores familiares conservadores, de se opor à imigração e ao Pacto Verde Europeu, o grupo tem como objetivo acabar com a ajuda europeia à defesa da Ucrânia contra a invasão russa.

Consequências

A União Europeia sempre temeu mudanças nas posições de Paris caso o partido eurocético Reunião Nacional chegasse ao poder. Se vencesse, Bardella disse que cortaria € 3 bilhões da contribuição francesa ao bloco. Le Pen prometeu que iria tentar mudar o atual mapa da União Europeia, apagando a Europa liberal que a atual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen representa. A promessa foi feita dias antes da vitória estrondosa do Reunião Nacional nas eleições europeias e no primeiro turno das legislativas francesas.

Caso colocasse o seu plano em ação, uma das primeiras vítimas poderia ser o Pacto Verde para a Europa, o chamado “Green Deal”, plano proposto por Bruxelas, que tem como meta zerar as emissões de gases de efeito estufa na União Europeia até 2050. No passado recente, Jordan Bardella instou Bruxelas a abandonar o Pacto Verde - considerada uma “ecologia punitiva” por ele - depois que deputados de seu partido assinaram uma resolução para abolir o projeto. Além disso, Bardella queria impulsionar a revisão dos tratados que regem o bloco e combater quem defende a visão de uma “Europa liberal que está levando a Europa ao suicídio”. Quanto à imigração, o líder do Reunião Nacional acusou Von der Leyen de querer transformar o bloco europeu em uma “estação de trem”.

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