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Alemanha celebra 35 anos de reunificação com desigualdades persistentes

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Nesta sexta-feira, a Alemanha comemora o 35º aniversário de sua reunificação, marcada como o Dia da Unidade Alemã – o feriado mais importante do país. Em 3 de outubro de 1990, menos de um ano após a queda do Muro de Berlim, a antiga Alemanha Oriental (República Democrática Alemã) foi oficialmente incorporada à República Federal, encerrando décadas de separação. Apesar da integração política, os quase 45 anos de divisão deixaram cicatrizes que ainda se refletem na sociedade alemã mais de três décadas depois.

Jovens berlinenses celebram o Dia da Reunificação Alemã em frente ao Portão de Brandemburgo em 3 de outubro de 1990.
Jovens berlinenses celebram o Dia da Reunificação Alemã em frente ao Portão de Brandemburgo em 3 de outubro de 1990. AFP - GILLES LEIMDORFER
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Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim

A principal festa do Dia da Unidade Alemã está sendo realizada neste ano em Saarbrücken, capital do estado do Sarre, no sudoeste da Alemanha, com a presença do chanceler alemão, Friedrich Merz. O presidente francês, Emmanuel Macron, é o convidado de honra da festa. A participação do chefe de Estado francês visa ressaltar a importância da amizade franco-alemã.

Mas nem todo mundo ficou contente com o convite ao Macron. Em uma entrevista na véspera, a ex-chanceler Angela Merkel disse que tem muita consideração por Macron, mas que talvez fosse melhor convidar alguém da antiga Alemanha Oriental ou da Europa Oriental para a festa dos 35 anos da reunificação.

Merkel é uma alemã oriental, o atual chanceler, Friedrich Merz, é alemão ocidental. Essa discordância serve um pouco como ilustração de como as duas Alemanhas continuam pensando de forma diferente.

Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira (2) sobre a satisfação dos alemães com a reunificação do país deixa isso bem patente.

Insatisfação persistente

A sondagem, feita com 1.300 pessoas pelo instituto Infratest Dimap por encomenda da rede de televisão pública alemã ARD, constatou que 61% dos alemães se dizem "satisfeitos" ou "muito satisfeitos" com a situação da reunificação, enquanto 34% estão "pouco satisfeitos" ou "nada satisfeitos".

Mas quando as duas metades do país são observadas separadamente, é possível ver uma discrepância entre os dois lados. Enquanto no oeste quase dois terços estão satisfeitos, no leste, somente a metade dos cidadãos está satisfeita.

O aspecto mais criticado na região da antiga Alemanha Oriental é a distribuição desigual de riqueza. A liberdade política e a liberdade para viajar, o que não havia 35 anos atrás, são vistas de forma particularmente positiva.

No entanto, dois terços dos entrevistados no leste do país acreditam que a democracia não está funcionando bem atualmente. No oeste alemão, esse número é de apenas 50%.

Essa diferença de mentalidade que ainda existe nos dois lados se reflete também na hora de votar. A "fronteira fantasma" entre os dois lados ficou bem evidente nas eleições legislativas de fevereiro passado, nas quais o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) saiu vencedor em todos os estados do leste alemão – com exceção de Berlim, cidade-estado que ficava na Alemanha Oriental e cuja parte oriental pertencia àquele país. Nas eleições para o Parlamento Europeu, realizadas em junho de 2024, a AfD já tinha saído vencedora nos estados do leste.

Reduto de extremistas

Desde a reunificação em 1990, a antiga Alemanha Oriental tem sido um reduto de ultranacionalistas, incluindo neonazistas.

Mas, além dessa desigualdade na mentalidade e na preferência política, a divisão ainda se reflete nos números da economia mais de três décadas após a reunificação.

A disparidade entre os dois lados ainda persiste, embora indicadores como desemprego e poder de compra tenham melhorado progressivamente nas últimas décadas. A diferença nos níveis de renda é de 15,9%, em comparação com 26% em 1990, de acordo com um estudo da Fundação Bertelsmann.

A riqueza é o aspecto em que as maiores diferenças persistem, já que o patrimônio dos residentes da Alemanha Oriental equivale a 44% do dos alemães ocidentais. Isso significa que, enquanto cada alemão ocidental possui, em média, um patrimônio de € 153 mil, os alemães orientais têm uma média de € 67,4 mil por cidadão. E isso apesar de a riqueza dos alemães orientais ter crescido 75% desde a reunificação.

Em relação ao desemprego, também houve um processo de convergência. Em 1991, o desemprego no leste era de 10,2%, em comparação com 6,2% no oeste. Em 2005, o desemprego no leste havia disparado para 20,6%, enquanto no oeste o número era de 11%. A diferença então começou a diminuir. Atualmente, a taxa de desemprego no oeste é de 5,3%, em comparação com 7,2% no leste, de acordo com dados do governo alemão.

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