Delegações de Israel e do Hamas iniciam negociações indiretas no Egito sobre guerra em Gaza
Publicado em:
As negociações para um cessar-fogo permanente na Faixa de Gaza entram em uma fase decisiva nesta semana. Equipes técnicas de Israel, do grupo Hamas e de mediadores internacionais devem se reunir de forma indireta nesta segunda-feira (6) no Egito, com o objetivo de avançar em um acordo que encerre quase dois anos de guerra e permita a libertação dos reféns mantidos em cativeiro.

Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York
Segundo o Ministério das Relações Exteriores do Egito, os encontros devem durar alguns dias e contam com a presença de mediadores dos Estados Unidos, incluindo o enviado especial Steve Witkoff e o conselheiro informal da Casa Branca Jared Kushner, genro de Donald Trump. Do lado palestino, participa uma delegação dirigida por Khalil al-Hayya, negociador-chefe do Hamas.
Segundo uma fonte próxima ao movimento armado, representantes do grupo previam primeiro se encontrar com mediadores do Catar e do Egito, antes do início das negociações oficiais.
Enquanto as negociações acontecem, Israel continua sua ofensiva na Faixa de Gaza. Nas últimas 24 horas, 63 pessoas morreram, de acordo com autoridades locais, o que aumenta a pressão internacional por um cessar-fogo e dificulta o avanço das conversas.
Troca de reféns e retirada gradual de tropas
As reuniões em Sharm el-Sheikh, no leste do Egito, marcam o início da primeira fase do plano apresentado pelo governo de Donald Trump para tentar encerrar o conflito. O foco inicial é a libertação dos 47 reféns israelenses que permanecem sob poder do Hamas, em troca de prisioneiros palestinos detidos em Israel.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores egípcio, o tratado de 20 pontos elaborado pelos Estados Unidos em conjunto com o governo israelense prevê que o Hamas liberte todos os reféns em até 72 horas e entregue o controle político de Gaza a uma autoridade transnacional liderada por Washington. Em contrapartida, Israel iniciaria uma retirada gradual de suas tropas e libertaria mais de mil prisioneiros palestinos. No domingo (5), o movimento palestino se disse favorável à libertação dos reféns vivos de uma só vez.
O plano também prevê o envio imediato de ajuda humanitária e fundos para a reconstrução de Gaza, onde 91% da população vive em situação de insegurança alimentar grave. Trump chegou a divulgar nas redes sociais um mapa detalhando a linha inicial da retirada das forças israelenses — entre dois e quatro quilômetros dentro do enclave — e afirmou que, se o Hamas aceitasse os termos, o cessar-fogo começaria “imediatamente”. Apesar disso, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já declarou que, mesmo com um acordo, Israel manterá presença militar em boa parte do território, o que pode atrasar a implementação do plano.
Trump defende “acordo rápido”
Na noite de domingo, Donald Trump disse a jornalistas na Casa Branca que o entendimento com o Hamas pode ser concluído “muito rapidamente”. O presidente reiterou que as conversas com países árabes e muçulmanos “foram muito positivas” e que o plano de paz estaria “avançando rapidamente”.
Em sua conta na plataforma social Truth Social, Trump afirmou que acompanha pessoalmente as negociações e fez um apelo em prol do avanço do processo. “Essas conversas têm sido muito bem-sucedidas e estão avançando rapidamente. A primeira fase deve ser concluída esta semana. Estou pedindo a todos que se movam rápido. O tempo é essencial ou haverá enorme derramamento de sangue — algo que ninguém quer ver”, escreveu o presidente.
Apesar da pressa do líder republicano, fontes diplomáticas em Washington reconhecem que ainda há divergências sobre as garantias de segurança e o cronograma de retirada das tropas israelenses. É o caso do secretário de Estado americano, Marco Rubio, que afirmou à emissora ABC que as negociações no Egito são “as mais próximas que já estivemos de garantir a libertação de todos os reféns”. No entanto, alertou que as conversas podem enfrentar obstáculos logísticos, principalmente na definição dos prazos e na saída israelense do enclave.
Rubio também destacou desafios de longo prazo, como a criação de um órgão administrativo tecnocrático para governar Gaza após o fim da administração do Hamas — um dos temas mais sensíveis do plano americano. Segundo ele, o foco imediato é a libertação dos reféns e a estabilização da região, mas a fase política do acordo “será muito mais complexa e demorada”.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro